A mais valia de morar em Sintra, nos anos 80 e 90, dadas as
acessibilidades (IC19 e comboio), os equipamentos, e a proximidade do mar,
serra e cidade, originou um boom na construção
civil responsável por uma considerável expansão populacional, que acarretou
igualmente problemas novos de integração, mobilidade e multiculturalidade.
Com o planeamento urbano a chegar atrasado em
relação à dinâmica económica impulsionada pelos patos bravos, e na
perspectiva de lucros, taxas e impostos fáceis, município, banca e construtores,
acertaram um pacto tácito que fez da betonizada Sintra o 2º concelho do país, com
assimetrias e particularidades divididas entre a zona rural, bucólica e
turística, e a conurbação indistinta de habitações colectivas, que o crédito
barato e a procura emergente, logo transformou em cidades satélite, e parte
delas em freguesias.
Sustida a ocidente pelo “cinto verde” do velhinho Plano
de Groer, de 1949, e posteriormente pelo Plano de Ordenamento do Parque Natural
Sintra-Cascais, e o POOC Sintra-Sado, Sintra “cresceu” para leste ,como muitos
dos jovens rebeldes que nela pululam, em bairros disformes e atípicos: sem rumo
ou apoio, nas margens da delinquência urbanística, com anomia social e num
explosivo caldeirão de subculturas ditas urbanas, que olham o espaço como
inimigo e a convivialidade com cultura de gangue, desprezando o espaço
público, marcado pelo lixo acumulado, os grafittis sem
nexo, a violência nos transportes, e o bullying
nas escolas.
Feito o mal, há que procurar o (possível) remédio. E há
também que procurar mitigar novos problemas, atento o facto de ainda persistir
um quadro de 15000 fogos por vender ou arrendar, apanhados no olho do furacão
da crise, em clara homenagem à ganância e falta de planeamento, e de um vasto
número de habitações estar a ser abandonada por falta de pagamento aos bancos
ou emigração dos seus moradores. A realidade social está a mudar, e
infelizmente, para pior, desfeito que foi o sonho de classe média dos T3 com lareira, e dos parques urbanos com ciclovias e crianças felizes.
É preciso que as entidades públicas olhem a gestão do
espaço público em atenção a estas dinâmicas sociais, procurando intervir no
arrendamento desses fogos fechados e de venda difícil, adquirindo-os, ou
contratualizando-os com a banca ou os promotores, de modo a responder a novas
necessidades, que, presentemente, são geradoras de alarme social, fazendo da
crise uma oportunidade para repovoar, criar centralidades, responder a dramas
sociais de quem perdeu a casa ou de quem nunca a teve com um mínimo de
condições, num pano de fundo de arrendamento social, e nova dinâmica comunitária.
Isso comporta desafios, e implica uma visão por parte da banca, e iniciativa
por parte das autarquias, ou da Administração Central, a fim de que as
Cavaleiras, Tapadas das Mercês, Coopalmes ou Icosais deste concelho possam ser
reabilitadas e repovoadas sem incorrer nos erros dum passado recente. Se atentarmos que dos
15000 fogos fechados, 81% são usados ,e 45% são T2, isso dar-nos-á um panorama do
mapa habitacional e dos potenciais destinatários: a classe média exaurida pela
crise e os jovens que queiram constituir família ou sair de casa dos pais. São pois urgentes programas pró-activos que devolvam vida
aos bairros fantasma, e satisfaçam o sagrado direito a uma habitação condigna, intervindo activamente num mercado imobiliário estagnado e com visão social e inclusiva.
Sem comentários:
Enviar um comentário