segunda-feira, 25 de julho de 2016

E o Sporting vai jogar, e Sintra vai saltar...



Quando a Ideia começou a fazer caminho...
 A escritura


Foi na designada mesa K1 do bar Saloon, em Sintra, que um grupo de amigos começou a juntar-se para ver jogar o Sporting, e aí, semana após semana, as devoções tornaram-se amizades e um impulso fundador apossou-se dum punhado de sintrenses que não mais parou até que um espaço foi adquirido, se lançou mãos à obra, para em breve dar à luz do dia a nova casa do Leão em terras de palácios e também de muito verde.

José Alvalade teve o desejo de transformar o Sporting num "grande clube, tão grande como os maiores da Europa". No desejo de abrir caminho numa altura em que o desporto em Portugal, era ainda uma actividade pioneira num estágio de desenvolvimento de características elitistas, os primeiros sportinguistas conseguiram fundar há 110 anos aquele que se tornou no Sporting Clube de Portugal, hoje com mais de 3 milhões de adeptos, 136.000 sócios e um museu com mais de 5000 taças, 18 títulos da Liga, 20 títulos de Campeonato de Portugal /Taça de Portugal e 8 da Supertaça, num total de 46 títulos nacionais). Internacionalmente, o Sporting venceu a Taça dos Vencedores de Taças 1963-64 e foi vice-campeão da Taça UEFA 2004-05 e campeão da Taça Ibérica em 2000.E não se ficará por aqui.

O lema do Sporting é Esforço, Dedicação, Devoção e Glória.

Esforço bem patente na singeleza e abnegação dos voluntários que em pouco mais de 2 meses denodadamente realizaram  a obra que dia 31 abre à família sportinguista, com destaque para os contributos de Daniel Silva, Nuno Silva, João Aguiar, Rui Feixeira, o André e a Patrícia, o João Ribeiro e a Bárbara, o Bernardo, a Saphira, a Tásia, o José Nascimento, o David Cabral ou o João Luís Duarte.

Dedicação expressa em horas de trabalho, sofrimento e entrega por parte de uns “doidos da cabeça” que "não quiseram ficar em casa”, e assim deram horas da sua vida para honrar as cores e o legado de Travassos, Joaquim Agostinho, Damas, Yazalde, Moniz Pereira, Figo ou Carlos Lopes, ícones do Sporting e de Portugal.

Devoção nos cânticos, na fé, na crença e na paixão inexplicável que um estranho sentimento de pertença a todos convoca, despertando amizades improváveis e solidariedades sem contrapartida num imenso altar de verde e branco.

Glória por um passado honroso, um presente com planeamento e um futuro promissor, com condições financeiras, de infraestruras e talentos que garantem um Sporting moderno, pujante, vencedor e sempre na luta.

Curiosamente, também o Sporting Clube de Portugal tem origens em Sintra, mais propriamente em Belas, e no Belas Football Clube, criado em 1902 por iniciativa dos irmãos Francisco e José Maria Gavazzo. Dois anos depois, tendo o Belas Football Clube realizado um único jogo de futebol contra o Sport Lisboa, alguns dos seus sócios fundadores criaram o Campo Grande Football Clube, até que, em 13 de Abril de 1906, durante uma Assembleia Geral, José Alvalade manifestou a intenção de formar um novo clube recorrendo à ajuda financeira de seu avô, o Visconde de Alvalade, Alfredo Augusto das Neves Holtreman, que tutelou a criação do novo emblema e disponibilizou terrenos para o campo de jogos na sua própria quinta, e mais tarde no seu primeiro campo, no Sítio das Mouras, em 1907.

Com a fundação do novo Núcleo de Sintra, um dinâmico grupo de adeptos dispõe-se a levar mais longe e mais alto o espírito e garra do nosso clube, para em conjunto gritar as vitórias, de braço dar ânimo nas derrotas, do sofrimento fazendo força e da unidade fazendo um trunfo, uma arma e um desígnio.

Viva o Sporting Clube de Portugal!

Em baixo, imagens das obras já em fase de acabamentos



domingo, 24 de julho de 2016

O regresso da esperança

Depois de uns meses de "estaleiro", o lento retorno à escrita, num momento de optimismo e ego em alta por todo o país.2016 tem condições para representar um momento de viragem no lodaçal esquizofrénico em que a nossa vida colectiva se transformou nos últimos anos. Faltou a esperança, essa palavra talismã, e faltava mostrar o osso com que, como o cão de Pavlov, de novo haveremos de voltar a ladrar. Para que tal aconteça, há que levantar do sofá, largar o comando da televisão e o asténico isolamento das redes sociais, silencioso espaço para gritar desesperos, buscar cumplicidades e não só para caçar anódinos Pokemons.

Antes de um inesperado Abril, muitos de nós lutaram contra a liberdade raptada, uma guerra anacrónica e por um futuro que por gerações nos foi negado, numa lógica de inevitabilidade por entre saudados costumes de brandura, que escondiam um povo amordaçado mas secular lutador. Um dia, fruto dessa guerra, surda mas germinal, tudo voltou a ser possível, e o Futuro teve rosto, calendário, protagonistas, muitos cães e muitos Pavlovs, ladrou-se e latiu-se, e apareceram ossos, carne, ração. Fez-se a democracia, mudaram-se retratos, discursos, atitudes, e, ao sétimo dia, o povo descansou, contente com a obra feita, e entregou-se à volúpia consumista, ao hedonismo egoísta, à anomia social, de bom selvagem, o indígena ficou tão só selvagem, com casas T3 em Massamá, férias no Algarve ou carro novo cada três anos. Barato, o vil metal abundou, o maná igualmente, triunfantes mas cegos pelo sol, havia-se alcançada a Terra Prometida, depois de anos a errar no deserto depois dos grilhões do faraó. Silencioso, porém, o veneno dos inimigos  fervia no caldeirão, acelerado pelo novo metal da Europa e pelos trinta dinheiros com que a ele nos rendemos, finalmente leais a César, e nas suas teutónicas mas capciosas mãos. Um dia, legiões de cobradores chegaram a cobrar o dízimo, e, qual Sodoma, tudo ruiu então, transformado em sal e às mãos dos que na penumbra manobravam, sabendo da fraqueza dos deslumbrados.

Como na caverna de Platão, onde cegos e aprisionados uivámos a perda e buscámos um rumo, haverá de chegar a luz, anunciando um novo dia. Mas tal não virá de sortilégio do Olimpo, antes imporá a necessária revolta dos escravos, o quebrar das algemas, a união denodada e sem temores. Imporá pôr à prova se os escravos merecem ser um país ou, erráticamente, mero quilombo de deserdados em fuga e com liberdade vigiada.

 Foram dias e anos de desespero e de spleen, chamamentos de Circe e apelos à fuga de Ítaca, para, assustados, sulcar fronteiras, ziguezagueando a vida e trocando voltas ao futuro, dias de sofrimento, exaustão, entre a loucura e a entropia, o estilhaçar de sonhos ou o seu cruel adiamento. É chegado o momento da renovação, do regresso da alva Iemanjá e dum assomo de magia que faça das fraquezas forças, dos rebeldes líderes, das ideias planos e deste rincão desígnio. O grande exército do Futuro, dos que se indignem com consequência, ajam com sabedoria, tracem planos consistentes e de diferença, e que, reconquistada a chama, a reponham na pira sagrada onde se venere a dignidade e perspective um Devir.

Um calendário é uma sucessão de luas e sóis, chuvas e secas, colheitas e gestações. O ciclo que na roda do tempo humano nos  agora, nasceu de um inóspito inverno em que um tentacular inferno capturou as nossas vidas e as manteve longe de Ítaca, num mar encapelado de Circes e Polifemos, ventos gélidos e trovões açoitantes. Mas, ao Inverno sucederá a Primavera, e de novo o Verão. Lento e silencioso, o Futuro prepara o seu caminho.

A esperança sem mobilização, equivale a resignação. Uma solução há apenas: a de sermos militantes cavaleiros da esperança ou inúteis escravos da resignação. Estamos todos  pois convocados  para a sagrada missão de porfiar Futuro e capturar a Luz, para tanto levantando firmes a cintilante espada da dignidade. 
 
Há esperança!