sábado, 27 de junho de 2015

Quando galinhas à solta davam direito a multa



 Algueirão, anos 60
Sinal das mudanças ocorridas na nossa vida colectiva é-nos dado pela leitura de alguns regulamentos municipais mais antigos. Um exemplo é Código das Posturas Sanitárias de Sintra, datado de 1970.

Assim,era punido com multa de cem escudos( cinquenta cêntimos) “fazer alarido”, “cantar, tocar e fazer descantes ou serenatas depois das 22 horas”, “arrastar pelos pavimentos latas e outros objectos, provocando ruídos”, “bater carpetes e tapetes entre as 8h e as 23h”. Igualmente se um cão incomodasse com uivos ou latidos a vizinhança, ficava o dono sujeito a multa, desde que os vizinhos provassem com duas testemunhas já o terem advertido.

Igualmente era punido deitar-se nos bancos de jardim ou nos arrelvamentos e lançar pedras às árvores, lavar ou fazer barrela, catar ou pentear pessoas. Nos Santos Populares podiam fazer-se fogueiras, desde que a 1m do lancil dos passeios, e as estradas não fossem alcatroadas.

Isto além duma criteriosa regulamentação dos lavadouros e chafarizes para uso público, dos talhos e do apascentamento de animais dentro das localidades. A divagação de galinhas, por exemplo, dentro das localidades, dava direito a multa de cinco escudos por cada animal, burros e vacas, 20 escudos cada.

Também a rega de plantas era proibida entre as 8 e as 23h, e cuspir na via pública era punido com multa de 80 escudos.

Outros tempos…
 Festa de S. Mamede, Janas

sábado, 20 de junho de 2015

Almoinhas: um encontro com os bardos do Futuro





“Almoinhas- Sentidos Caminhos”, que ontem a companhia de teatro TapaFuros estreou no Parque da Liberdade, em  Sintra, proporcionou a quem lá esteve uma noite lunar e cintilante, sob a utópica batuta de Rui Mário, o bardo dos futuros. De forma palpitante e processional, calcorreou-se o trilho-caverna onde, exploradores, nos foi revelada uma Luz redentora ofertada nos textos de alguns dos escritores sintrenses vivos mais marcantes, aqui por Rui Mário convocados para o Priorado da palavra dita (Miguel Real e Filomena Oliveira, João Rodil, Filomena Marona Beja, Hélia Correia, Maria Almira Medina, Jorge Telles de Menezes e Jaime Rocha)
Libertos na Caverna, viajámos pelo Futuro depois de peregrinar por sinuosas grutas, espeleólogos de amarguras, a cada passo descobrindo a Serra-Mãe. Na escuridão, encontrámos claridade, estóicos fugindo da Cidade Grande, absortos num labirinto onde em sete momentos nos convidaram a provar uma revelada poção.

Poetas finistérricos, os TapaFuros são mais que um grupo de teatro, são utópicos sacerdotes e guardiães do Tempo, e como poucos entendem o que é Sintra, e como esta é um promontório de partidas e chegadas, a todos convocando para rituais libertadores. Juntando actores cúmplices de muitas noites  perturbantes na Sintra silenciosa, em sete momentos se percorreu um iniciático e uterino percurso, e com ele nos patrulhámos a nós mesmos, desnudando fragilidades e dando voz aos sem voz.

Conceito vencedor e conseguido, actores seguros e uma banda sonora intimista, ou de intimidade, no melhor registo de Pedro Hilário, bons e palpitantes serões em perspectiva, pois. Vão ao Parque da Liberdade, e embrenhem-se no libertado território da utopia. 

Fotos:Cristina Vieira

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Sintra: o turismo criativo como vantagem competitiva

Uma das principais vantagens no relacionamento da cidade para com a actividade turística decorre, efectivamente, da capacidade dos gestores do território no planeamento e estruturação da oferta turística, que permita a Sintra e aos operadores turísticos, “vender”, de modo mais eficiente, este destino e satisfazer adequadamente, as exigências da procura turística.
Actualmente, o Turismo é um dos sectores com maior crescimento na economia mundial, sendo que, de acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT), em 2010 as chegadas de turistas internacionais perfizeram 940 milhões em todo o mundo, ou seja, mais 58 milhões relativamente ao ano anterior. No caso específico do Turismo Cultural, importa pois, perceber qual o tipo de turista e quais as suas motivações. Neste âmbito, definiu-se uma tipologia para o caso europeu, indicando três perfis de turistas culturais: a) os “culturalmente motivados”, que são um segmento de mercado pequeno que é atraído a um destino por motivos culturais, o que os leva a passar várias noites no local de destino turístico; b) os “culturalmente inspirados”, que são inspirados por locais de interesse cultural e patrimonial,  passam curtos períodos de tempo nos destinos culturais e não estão motivados para regressar ao mesmo local; e, c) os “culturalmente atraídos”, que são aqueles que realizam a visita de um dia a sítios de interesse cultural ou patrimonial. De acordo com a Organização Mundial de Turismo, o Turismo Cultural refere-se a “todo o movimento de pessoas que satisfazem a sua necessidade humana da diversidade, com tendência a elevar o nível cultural do indivíduo e proporcionam um novo conhecimento, experiência e encontros”. De acordo com estas definições, pode entender-se o Turismo Cultural como a realização de visitas a monumentos e locais históricos, através das quais os turistas procuram conhecer e “absorver” a cultura e a história dos locais visitados.
A motivação do turista foi evoluindo naturalmente e, para além de absorver a cultura, deseja, cada vez mais, participar na experiência e tornar-se parte activa do produto. Perante este facto, o surgimento do Turismo Criativo emergiu como algo natural, como sugere a primeira definição de Turismo Criativo, a qual foi apresentada na Association for Travel and Leisure Education (ATLAS), em Novembro de 2000, por Crispin Raymond e Greg Richards, a qual define Turismo Criativo como: “o turismo que oferece aos visitantes a oportunidade de desenvolver o seu potencial criativo através da participação activa em cursos e experiências de aprendizagem que são características do destino de férias onde são realizadas”.
Desta forma, o Turismo Criativo evidencia algumas vantagens sobre o “tradicional” Turismo Cultural, tais como:
a)a criatividade pode potencialmente adicionar valor em áreas relativas à cultura e, em particular, aos tradicionais produtos culturais;
b)a criatividade permite aos destinos criar novos produtos, dando-lhes uma vantagem competitiva sobre outros locais;
c)porque a criatividade é um processo, as fontes criativas são, geralmente, mais sustentáveis que os produtos culturais tangíveis;
d)a criatividade é geralmente mais móvel do que os produtos culturais tangíveis,porque dependem da localização física do património cultural, enquanto que a criatividade pode ser, por exemplo, transportada em festivais de arte e música;
e)a criatividade envolve não apenas valor de criação mas, também, uma criação de valores: ao contrário das antigas fábricas do conhecimento, como os museus, os processos criativos permitem criar muito rapidamente uma nova geração de valores.
Deste modo, a criatividade possibilita a criação de novos produtos turísticos para as cidades e regiões, acrescentando valor aos produtos culturais, e garantindo a sustentabilidade dos recursos, não estando subordinada à localização física desses, como acontece com o Turismo Cultural tradicional, permitindo a criação de novas ideias e valores.
Assim, contribui para a valorização do indivíduo enquanto parte integrante de uma experiência turística em detrimento da estrutura física. A criatividade procura proporcionar uma experiência turística que vai além do observar o monumento ou local histórico dando ênfase à parte imaterial como aos cheiros, sons, imagens, histórias, lendas e memórias do local que se está a visitar.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

A tragédia grega e a ópera bufa portuguesa


Não, a Troika não era uma dançarina de Leste dum qualquer night-club de Lisboa, nem o gerontocrático Politburo que dirigiu a União Soviética no tempo de Brejnev. Esta troika com que diariamente nos atazanam os ouvidos, foram tão só uns capatazes da finança europeia que ninguém elegeu, impondo medidas que nenhum Parlamento aprovou, não respondendo perante o Parlamento Europeu, mas tão só perante essa figura omissa no Tratado de Lisboa chamada “Eurogrupo”.
Sejamos claros: o FMI é uma instituição vocacionada para as crises de pagamentos, um regulador criado após Bretton Woods, e tido como o Godzilla dos desgovernados. Só que se Godzilla assustava e dominava, também destruía tudo à sua passagem. Já os nossos “amigos” da EU disseram-nos: emprestamos dinheiro, e vocês fazem esta dieta, não para serem um país melhor e voltar a crescer mas para ver se ao menos nos pagam de volta. Submissos, os políticos reúniram com eles a “negociar” profundamente o draft que já traziam alinhavado, mas como capatazes dos Junots e Beresfords do século XXI. Em Belém, o D. João VI de Boliqueime e sua Carlota Joaquina tudo observaram sem intervir. Claudique o país mas fique o algarvio “aliviado” a observar cagarras.
 A troika pensou na fuga de capitais, no branqueamento ilícito ou nas off-shores sorvedoras? Não, que se podia afugentar os investidores. O povo já está habituado, e no cinto português há mais furos que cinto para apertar. Os municípios queriam discutir o seu futuro com critérios de respeito pelas populações e tendo em vista reduzir assimetrias? Não, juntem-nos todos para reduzir as despesas. Os funcionários são parasitas? Há que desparasitar, esquecendo a troika  ser ela um bando de simples funcionários intermédios, que os chefes (um deles até português, por sinal)nem se deram ao trabalho de cá vir, deixando a tarefa aos burocratas que puseram o país em sentido e os políticos a arfar, de língua de fora. Se é certo que é preciso dinheiro, e há que pagar, seria de esperar um pouco mais de respeito por um país com novecentos anos, onde os fundadores já muitas voltas devem ter dado no caixão. Almada Negreiros tinha razão quando dizia que o pior de Portugal eram os portugueses…
A dívida virou obsessão e as pessoas ,números, em relatórios anódinos dos eurocratas e seus mandantes lá para os lados do Terreiro do Paço,  fugindo os portugueses para um exílio forçado, escapando dum país que lhes nega Futuro. O Governo tem o isqueiro da fogueira social, e actua achando que tudo deve ser acatado, louvando os portugueses como um povo pacífico.  Pacífico, mas não manso. É um direito natural lutar pela sobrevivência, contra a fome e pela dignidade, sobretudo quando não se contribuiu para o descalabro das contas e nenhum dirigente político foi levado ao banco dos réus por gestão danosa. Os gregos, temerários, poderão cair, mas cairão de pé, não de cócoras como nós, os “bons alunos”, apaniguados de Berlim e do diktat financeiro
Dantes havia Europa e europeus. Agora há os contribuintes alemães e finlandeses, os despesistas portugueses, os desgovernados gregos e os desempregados espanhóis. E um barco à deriva, que, afogando-se, ainda dá instruções do navio almirante. Devem os remadores agrilhoados esperar pelo naufrágio, para só então se tentarem safar? Deve pactuar-se com o fim dos serviços de saúde, da escola pública, do Estado Social e tudo o que os arautos do Portugal de sucesso fizeram para voltarmos a ser o país da tanga?
 
Tal como o cão de Pavlov, sem osso não há saliva, mas pode haver dentada. É pois de prever que a resistência tenha um limite, que se sente nos assaltos e roubos que preenchem os noticiários dos jornais e tablóides, na violência doméstica, nas depressões e nos ajuntamentos de massas, só se arranjando escape nas novelas do futebol ou destilando fel nas redes sociais.
Esquecem muitos que foi em Portugal que se queimaram judeus, se executaram os Távoras, que aconteceram lutas fratricidas entre liberais e miguelistas, que um rei e um presidente foram assassinados no século XX, a par dos exemplos pouco pacíficos da camioneta fantasma, da Carbonária ou das FP-25. Como escreveu o poeta Aleixo “Vós que lá do vosso Império/Prometeis um mundo novo/ Calai-vos que pode o povo/ Querer um mundo novo a sério".
Quererá?

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Sugestões Culturais em Sintra

QUINTA DA REGALEIRA- A PARTIR DE 10 DE JUNHO
A Quinta da Regaleira vai ser palco da peça de teatro “Os Lusíadas – Viagem Infinita”, a partir da obra original de Luís de Camões, pela Musgo- Produção Cultural, a partir de 10 de Junho.

O espectáculo "Os Lusíadas - Viagem Infinita" pretende resgatar a obra-prima de Camões das águas paradas da monotonia a que a escola a tem sujeito, devolvendo, através de um conjunto de efeitos cénicos apurados (cenografia imersiva que amplia a experiência do espectador, música original e sonoplastia em sistema de som surround), alguns dos episódios mais emblemáticos do épico português. 

Um marinheiro intemporal, memória de Vasco da Gama, Camões ou tantos outros marinheiros lembrados, desagua em Sintra e abre a porta para uma viagem com transbordo na Ilha dos Amores, metáfora de lugar de perfeição a que a Quinta da Regaleira tão bem poderia corresponder.

De 10 de Junho a 20 de Dezembro, aos sábados, domingos e feriados, às 17h00.

Preço: 7€, 5€ /pax escolas e grupos, desconto de 2€ para clientes CP com bilhete família ou passe mensal; grupos com mais de 10 pessoas (inc.); sócios People Family Club. Condições especiais para portadores de Cartão Cultura Sábado. 

Disponível durante a semana para escolas e grupos organizados, sob consulta e marcação através de ou do tel. 938 598 247 
Informações e reservas:
Fundação Cultursintra, 219 106 650


CASA DO FAUNO
10 DE JUNHO, 16H
ENTRADA LIVRE
Apresentação do Livro: UM ANTÓNIO TELMO
de PEDRO MARTINS
com MIGUEL REAL e ANTÓNIO CARLOS CARVALHO

Uma leitura irradiante do grande filósofo português do esoterismo em diálogo com Camões, Verney, Pessoa, Pascoaes, Leonardo Coimbra, Agostinho da Silva, António Quadros e Herberto Helder

«Agostinho da Silva não concorda, estou bem certo, com as extensas homenagens que lhe têm feito depois da sua morte. Não concordará também com a imagem que daí resulta. Gostará de ver quem se lhe oponha, sem insulto ou grosseria, mas por pensar diferente.» (António Telmo)

«Quem foi, quem é António Telmo? Partiu há quase cinco anos, deixando-nos uma saudade imensa, um vazio que nunca conseguiremos preencher, uma vasta obra por decifrar, um exemplo de filósofo errante e exilado na sua própria terra, como sempre acontece neste País envolto em brumas de inveja. Mas desde então a sua ausência física tornou-se presença constante entre aqueles que o conheceram e os que o vão descobrindo nas páginas que publicou. Nunca foi mestre de ninguém, jamais teve essa pretensão, mas quando lemos as suas palavras sentimos inevitavelmente que habita nelas uma luminosidade especial, a de alguém que buscou precisamente a luz e soube transmitir as suas centelhas nas reflexões que nos legou. Assim iluminado, António Telmo conseguiu sempre ver/ler para além da literalidade dos textos sobre os quais meditou, alguns deles (como Os Lusíadas) ao longo de dezenas de anos.

O livro que agora temos diante de nós, escrito por Pedro Martins, nasceu de uma dupla atitude de humildade e de admiração, duas virtudes que há muito, infelizmente, caíram em desuso neste País. E, no entanto, a humildade é a qualidade mais importante para todos os que pretendem entrar no estudo da verdadeira sabedoria, como já lembrava o kabbalista Moisés Cordovero no século XVI (Moisés, o profeta maior, foi chamado ‘o humilde’). Quanto à admiração, é em si mesma um princípio essencial para quem procura seguir pelos caminhos da Filosofia – que ‘serve menos para nos dizer o que é do que para afirmar aquilo que deve ser’, como escreve Pedro Martins.» (António Carlos Carvalho in Prefácio)

Pedro Martins nasceu em Lisboa em 22 de Janeiro de 1971. Jurista e advogado, licenciou-se em 1993, pela Faculdade de Direito de Lisboa. Pós-graduou-se em Sociologia do Sagrado e do Pensamento Religioso, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Vive há muito em Sesimbra. Aqui ou em Estremoz, conviveu uma década bem contada com António Telmo, de quem é um continuador. É autor dos livros O Anjo e a Sombra: Teixeira de Pascoaes e a Filosofia Portuguesa (2007), O Céu e o Quadrante: desocultação de Álvaro Ribeiro (2008), O Segredo do Grão Vasco: de Coimbra a Viseu, o 515 de Dante (2011), Teoria Nova da Saudade (2013), Agostinho da Silva em Sesimbra (em colaboração com António Reis Marques, 2014) e Cartas de Agostinho da Silva para António Telmo (em colaboração com João Ferreira e Rui Lopo, 2014). Tem colaboração nas revistas A Ideia, Devir, Invenire, Callipole, Nova Águia, Teoremas de Filosofia e Cadernos de Filosofia Extravagante, de que foi co-coordenador entre 2009 e 2013. Membro fundador do Projecto António Telmo. Vida e Obra, integra a coordenação editorial das Obras Completas de António Telmo, em curso de publicação na Zéfiro. Integra a equipa de investigadores do projecto “Redenção e Escatologia no Pensamento Português”, da Universidade Católica Portuguesa, onde irá colaborar com artigos sobre Grão Vasco, Jaime Cortesão e António Telmo. É membro do Conselho Fiscal do Centro de Estudos Bocageanos, de Setúbal. Entre 1999 e 2005, foi editor da agenda cultural Sesimbra Eventos e coordenador da Colecção Livros de Sesimbra.
QUINTA NOVA DA ASSUNÇÃO- A PARTIR DE 12 DE JUNHO
 A Quinta Nova da Assunção, em Belas, abre portas para assombrar os visitantes que vão viver uma experiência inédita de terror e medo, a partir de 12 de junho. 

Trata-se de uma experiência de grupo sobre o medo, que envolve todos os sentidos e que criará momentos em que a coragem será posta à prova. Como seria de esperar, o objectivo final deste jogo é encontrar a saída da casa. 

Nesta iniciativa do Teatro Reflexo, os grupos são acompanhados por um audioguide no qual é transmitida a história da quinta e as pistas a seguir para encontrar a saída.

As visitas do público à quinta decorrem às sextas-feiras e sábados, entre as 21h30 e as 24h00. A entrada não é permitida a menores de 16, nem aconselhável a grávidas ou a pessoas com problemas cardíacos. O custo por pessoa é de dez euros.
Tel. 21 016 83 82


LIGA DE AMIGOS DA TERCEIRA IDADE "OS AVÓS"
13 DE JUNHO
A Liga dos Amigos da Terceira Idade “Os Avós”, a fim de promover a angariação de alguns fundos financeiros, vai promover  a II Noite de Santo António, a realizar na sede da liga (Av. General José Estevão de Morais Sarmento, nº 8), no dia 13 do corrente mês.
Zumba Solidária, será uma sessão que terá lugar no dia 20 de Junho no campo de treinos do 1º Dezembro, em São Pedro.

COMPANHIA DE TEATRO CHÃO DE OLIVA
AUDITÓRIO ANTÓNIO SILVA, CACÉM
19 DE JUNHO





 REI UBU
Com Nuno Correia Pinto, Nuno Machado e Regina Gaspar

Músicos: Hildebrando Silva e Lito Pedreira
Vozes Off: Carla Dias, Fernando Ferreira , João de Mello Alvim, Tiago Matias

A peça de Alfred Jarry marcou o início de uma série de discussões que desencadearam uma verdadeira transformação no teatro.
Um espectáculo com actores, marionetas e músicos ao vivo, centrado na personalidade de Ubu e no jogo do poder. A acção passa-se na Polónia, “reino em parte nenhuma”. Ubu, personagem misto de grotesco e cómico, provoca um regicídio e usurpa o trono, exercendo o poder de forma brutal e sanguinária.
Tendo em conta as duras e paradoxais realidades a que vamos assistindo um pouco por todo o mundo, Rei Ubu é um espectáculo brutalmente actual onde, entre outras erupções do Real, nos rimos dos maiores defeitos do ser humano.

sábado, 6 de junho de 2015

"Histórias Com Sintra Dentro"- A crítica de Miguel Real

É com prazer e consideração que reproduzo a crítica que o escritor e ensaísta Miguel Real fez do meu livro "Histórias Com Sintra Dentro"


FERNANDO MORAIS GOMES



O ROMANCE DE SINTRA



Histórias com Sintra Dentro (2015), livro singular de Fernando Morais Gomes, acabado de ser publicado, bem poderia ser designado por “o romance de Sintra”.

Fruto de uma poderosa imaginação, harmonizando o pormenor mais ínfimo com as múltiplas visões gerais sobre Sintra (Romantismo, Misticismo, Sintra Templária, Sintra Medieval, Sintra Turística…), tomando como base os inúmeros factos e as inúmeras lendas sobre a Vila, Fernando Morais Gomes escreveu um brilhante livro de contos/crónicas ou crónicas/contos sobre o tema que como presidente da Associação Alagamares há muito o preocupa e lhe move dos dias como uma espécie de “guardião cultural” do concelho.

Dividido em duas partes, “Viagem Espectral” e “Café com Adoçante”, Histórias com Sintra Dentro reparte-se entre a historiografia ficcional do concelho (I Parte) e a narração de pequenas histórias actuais (II Parte).

Deste modo, o autor inicia o livro com um relato sobre a cosmologia mítica de Sintra, celebrando a aliança entre os moradores (os Terráqueos) e a Serra, bem como as relações entre o panteão dos deuses gregos, Ulisses e um filho deste que teria aportado a um “alagamar”, junto ao rio das Maçãs. Do mesmo modo, relata as antigas invasões nórdicas que teriam assolado “Xintara” e Colares. A crónica/conto “Alla u akbar!” introduz o reino mouro em Sintra e, de imediato, a sua conquista por D. Afonso Henriques.

E assim o livro continua, atravessando os momentos mais importantes da história da Vila, até se findar já este século, em 2011, com a narração de uma estória exemplar sobre o abate indiscriminado de árvores. Pelo meio, ficam 190 pp. com numerosas narrativas, algumas factuais, outras ficcionais, outras, ainda, biográficas relativas às mais importantes figuras que fixam para todo o sempre a História de Sintra.

Não se tratou de reunir provas documentais nem de consultar espólios ou registos de fidelidade absoluta ao passado segundo o método historiográfico alexandreherculiano, mas de, com base nestes, na experiência pessoal do autor na sua infância e adolescência em Galamares/Colares e seguindo o relato popular de lendas, estórias, contos, mitos – e certamente o resultado de inúmeras leituras consultadas nas bibliotecas do concelho - de reunir num volume único o grande espólio da tradição histórica de Sintra.

Trata-se, portanto, de juntar num só texto a cultura árabe remanescente nos saloios e o impulso romântico da Condessa de Edla e D. Fernando II, de ligar a visão musical erudita de Olga Cadaval e as histórias dos poetas e contadores populares sobre fantasmas e espectros da Serra, de reunir a visão da caravela regressada da viagem marítima para a Índia presenciada por D. Manuel na Peninha às aventuras trágicas de D. Sebastião, de agrupar o segredo dos Templários às investigações histórico-míticas de João Rodil, de associar o alto egotismo narcisíaco de M. S. Lourenço às tertúlias contestatárias de Mário Dionísio e José Gomes Ferreira na década de 1950, das intrigas populares entre terras e entre vizinhos à eterna rivalidade entre Sintra e Lisboa, da instauração da República em Sintra às desgraças da I Guerra Mundial registadas em pedra na Correnteza…

Têm agora os sintrenses à sua disposição o elenco deste longo repositório cultural de 800 anos que é a história de Sintra. Basta consultar o livro e segui-lo página a página e, se formos vocacionados para a ficção, lê-lo com prazer; se formos vocacionados para a História, extrair de cada conto/crónica o sumo histórico.

Inspirado no realismo histórico (há sempre um fundo real, ainda que lendário, ou a experiência pessoal do autor para os tempos mais recentes em todos os contos/crónicas) e dotado de um estilo sintacticamente flexível, compondo frases longas, Fernando Morais Gomes utiliza um léxico ora popular, ora psicológico (baseado no conhecimento empírico dos homens), ora erudito, um vocabulário ora concreto (algumas estórias podem ser lidas por ou para crianças), ora abstracto, Histórias com Sintra Dentro merece ocupar um lugar especial nas bibliotecas do concelho e nas pastas dos professores como material de apoio às aulas sobre a longa história da nossa vila e concelho.

Parabéns ao autor.