Máximo José dos Reis (n. Janeiro de 1769, filho de João
Alberto dos Reis e Marianna Rita de Jesus Luís, falecido a 2 de Maio de 1849 em
Sintra) foi o último Capitão-Mor de Sintra e Colares a desenvolver em plenitude
as suas funções entre Agosto de 1813 e Junho de 1828 e o primeiro Presidente
(da Câmara Municipal de Sintra) eleito do novo regime Constitucional
estabelecido após a vitória liberal de 1833 e a aclamação de D. Maria II.
Exerceu o mandato de presidente da Câmara até ao dia 4 de Janeiro de 1836.
Apesar de pessoa discreta e regrada, Manuel Pinheiro Chagas, na sua História de
Portugal denominou–o de «opulentíssimo»
Foi um grande proprietário rural e urbano, e possuidor das
Quintas dos Pisões, Penha Longa, da Alegria ou Seteais, do Rio do Porto, do Ano
Bom, da Portela e diversos edifícios na vila de Sintra, como o, ainda em
funcionamento, Hotel Lawrence, tão ao gosto de Eça ou Byron. Nessas quintas
desenvolveu uma grande actividade como produtor de laranjas e outros
"frutos de espinho", que exportava para Inglaterra e França.
Máximo dos Reis cedo se destacou pela sua capacidade de
iniciativa e disponibilidades financeiras, ajudando frequentemente os cofres do
Real Erário em períodos de escassez de recursos e adquirindo, desde 1796,
apólices da dívida pública. Contribuiu, durante as invasões francesas, com
120$000 reis anuais para o exército português, e frequentemente, abonou do seu
bolso o magro cofre da Câmara Municipal de Sintra para fazer face a todo o tipo
de despesas, nomeadamente de assistência aos expostos.
O seu casamento com D. Maria do Rosa do Carmo ocorreu, a 19
de Fevereiro de 1800, na Igreja de S. João Degolado da Terrugem. A noiva era
filha do empreiteiro de obras públicas mestre canteiro Domingos Pereira e de
sua mulher Maria Joaquina. Faleceu Nos Paços Reais de Sintra a 19 de Fevereiro
de 1817 na sequência de problemas pós-parto no dia de aniversário de casamento.A
propósito da mulher do Capitão-Mor um
excerto de um artigo de Sousa Viterbo publicado em 1908 no Arquivo Histórico
Portuguêz :
“Máximo José dos Reis era natural do Linhó, pequeno lugarejo
próximo de Sintra, e da freguesia de S. Pedro da mesma vila. Muito novo foi
para Sintra para ser caixeiro na loja, que hoje pertence a Jerónimo Ignácio
Cintra. Casou depois com uma senhora de nome D. Maria Rosa do Carmo Pereira, do
casal da Asneira, no lugar de Vila Verde, freguesia da Terrugem, do concelho de
Sintra. Desse casamento houve quatro filhos, o 1. ° e o último meninas e o 2. °
e o 3. ° varões, morrendo de parto a mãe, pouco depois do nascimento da última
filha. Foi essa senhora sepultada na igreja de S. Martinho da vila de Sintra,
em sepultura que tinha o n. 9, sob a condição, imposta pelo capitão-mor e
recomendada ao velho sacristão, de que dali não sairia senão para o jazigo, que
seu viúvo ia mandar construir no cemitério de S. Sebastião, daquela vila,
estabelecido no terreno de um seu pequeno casal desse nome, e que ele cedera à
autoridade competente de então, sob a clausula de que esse seu jazigo ali se
conservaria perpetuamente, o que se não dá presentemente, porque esse terreno
foi já profanado, e nele vão construir a cadeia da vila! - A respeito do
cadáver desta senhora deu-se um triste episódio, que é relatado do seguinte
modo: havendo por esse tempo as lutas civis da liberdade, e sendo chamados às
armas todos os mancebos aptos para esse serviço, a fim de formarem o batalhão
nacional, o antigo sacristão Henrique José de Oliveira teve de partir para
Lisboa para se alistar naquele batalhão já na sua ausência o coveiro da igreja
de S. Martinho, sabendo que não havia nessa igreja nenhum coval vazio, abriu,
por maldade ou estupidez, a sepultura n. 9, onde jazia o corpo de D. Maria Rosa
do Carmo Pereira dos Reis, e, encontrando-o ainda intacto, tirou-o para fora,
e, amarrando-lhe uma corda ao pescoço, o puxou, de rastos pelo pavimento da
igreja, saindo a porta principal, indo deposita-lo na casa dos ossos (ossário)
ao lado esquerdo da igreja, pequeno compartimento, muito arruinado, que ainda
hoje ali se vê. Máximo José dos Reis, sabendo deste triste incidente, e como
era já então autoridade em Sintra, mandou chamar, de Lisboa, o sacristão
Henrique de Oliveira, censurando-o da incúria em não cumprir as suas ordens e
encarregando-o de averiguar da veracidade do caso, que, sendo confirmado, o levou
a mandar prender o coveiro, que foi processado e condenado. O cadáver de D.
Maria Rosa voltou para a sua sepultura, e só de lá saiu muito mais tarde para o
jazigo no cemitério de S. Sebastião”
Máximo José dos Reis, não tinha estudos superiores, mas mesmo
assim foi nomeado pela Junta Governativa do Concelho de Sintra em Junho de 1846
- após a revolta da “Maria da Fonte” - Juiz de Direito Interino. A Junta
demitira o Juiz da Comarca Morais e Sousa que tinha participado na falsificação
dos votos entrados nas urnas e “…era um
dos mais salientes estorquidores do dinheiro do Povo…”.
O Sargento-Mor Policarpo de Fontes, preterido na corrida para
Capitão-Mor em Janeiro de 1812, foi quem mais se movimentou contra Máximo, conseguindo
o seu objectivo em 1828 no advento do miguelismo, e sendo nomeado Capitão-Mor
depois de uma luta de 16 anos para conseguir o ambicionado cargo. No entanto, foi sol de pouca dura, pois
algo de grave terá sido descoberto pela donatária da vila de Sintra, a rainha
mãe D. Carlota Joaquina, que não se inibiu de o demitir em Maio de 1829, menos
de um ano depois da posse; “que por
justos motivos dignos da Sua Real Consideração e por não convir a Seu Imperial
e Real Serviço houve por bem demitir do posto de Capitão-Mor das Ordenanças
desta vila a Policarpo Joaquima de Fontes”. Terá
nisso pesado o facto de Máximo José dos Reis ser compadre e grande amigo do
almoxarife do Ramalhão João dos Santos, homem de total confiança (e não só…) da
dita senhora?
Quanto à Quinta dos Pisões, Máximo adquire-a em hasta pública
em 1810 depois de uma execução movida a António Valeriano de Souza Prego,
Manuel Joaquim de Souza Prego e sua mulher D. Ana Justina de Freitas (a quem
Máximo compra em 1811 as casas e quinta do Campo Semite de Seteais, num
processo litigioso onde também participam Francisco Pedro de Souza Prego e Fernando
Arsénio de Souza Prego).Em 1828, dois dos filhos que consigo aí viviam tiveram
destinos trágicos. O filho mais velho, suicidou-se num tanque. O mais novo,
estudante em Coimbra, entrou num atentado promovido por um grupo liberal
chamado os "Divo dignos" contra uma diligência que trazia a Lisboa
professores daquela cidade para um beija-mão a D. Miguel, de que resultaram
mortos e a prisão do mesmo, Domingos Joaquim de seu nome. Consta que preso e
tendo pedido ajuda a seu pai, o mesmo recusou achando que o filho deveria pagar
pelos seus actos, o que terá motivado uma maldição do filho contra a família e
o seu património.
Lenda ou coincidência, o certo é que morto o último
capitão-mor de Sintra em 1849,a Quinta por falta de descendentes directos
acabou na posse dum William Galway que morreu internado num manicómio nos
Estados Unidos. Um filho deste acabou por vender os Pisões que assim foram
parar a estrangeiros e fora da família.
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