Sob a pressão psicológica da extinção das freguesias, tem-se
descurado um pouco a oportunidade de relançar o debate em torno da melhor forma
de gerir as comunidades locais mais pequenas, tudo se reduzindo a um mapa economicista e à sua
aceitação ou negação "tout court".
As realidades e necessidades de Portugal em 2012 recomendariam porém um debate mais vasto, que olhasse para o país como um cosmos multifacetado, que em algumas situações pode requerer uma abordagem ao nível da freguesia, e das virtudes da sua actuação de proximidade, mas, noutras, poderia essencialmente ser aproveitado para recentrar o problema na criação prévia de um conjunto de sistemas de gestão de centros urbanos com uma roupagem jurídica e instrumentos ao nível da gestão do território, quadros de pessoal ou serviços partilhados criados a partir dessa verificação prévia, não tendo apenas a manutenção de freguesias como cavalo de batalha ou como uma luta de senhores feudais.
As realidades e necessidades de Portugal em 2012 recomendariam porém um debate mais vasto, que olhasse para o país como um cosmos multifacetado, que em algumas situações pode requerer uma abordagem ao nível da freguesia, e das virtudes da sua actuação de proximidade, mas, noutras, poderia essencialmente ser aproveitado para recentrar o problema na criação prévia de um conjunto de sistemas de gestão de centros urbanos com uma roupagem jurídica e instrumentos ao nível da gestão do território, quadros de pessoal ou serviços partilhados criados a partir dessa verificação prévia, não tendo apenas a manutenção de freguesias como cavalo de batalha ou como uma luta de senhores feudais.
A liturgia do discurso político dominante não passa sem que se fale do “grave momento que
o país atravessa”, e armadilha emocionalmente para a aceitação acrítica de uma série de inevitabilidades e "cortes",
geralmente dominadas pela escassez da verba e escamoteando a tarefa essencial de pensar a Cidade, nas
suas versões macro e micro, e tal levou a
que se tivesse instalado um pernicioso e estéril clima de Maria da Fonte, olhando para o que, podendo
ser uma oportunidade de reforma nascida de baixo para cima e das pessoas para as instituições, num mero tocar de sinos a
rebate pelas actuais freguesias, que, se não devem ser alteradas por uma
UTRAT qualquer, não devem igualmente deixar de ser pensadas racionalmente, à
semelhança do que fez recentemente Lisboa, num processo iniciado antes do famigerado
memorando de entendimento.
Ao pecado da falta de democraticidade e de respeito pela vontade popular que levará ao desmantelar do Estado visível em muitas zonas do território nacional, com
o desaparecimento de tribunais, farmácias, centros de saúde e de muitas
freguesias, agora, junta-se a endémica ausência duma visão moderna de gestão do território, que tenha como primeira preocupação a forma eficaz e virtuosa de privilegiar instituições locais que possam promover e captar
investimentos, gerir equipamentos e dispor de
recursos humanos, ou do acesso desburocratizado aos mesmos. A maneira
como as coisas decorreram, prenuncia, ao invés, um quadro em que energias importantes se
vão perder na instalação contrariada e desnecessária de novas freguesias, que, nascidas por outorga e não pela vontade popular,
nunca hão-de conquistar o coração das populações, desviando energias de tarefas mais importantes, como por exemplo, a implementação dum modelo de desenvolvimento regional, modelado por um orçamento
participativo, com auscultação efectiva e prévia das populações e congregação em torno
de projectos de desenvolvimento estruturantes que possam ajudar a recuperar empresas e empregos
perdidos na voragem da crise financeira.
Um exemplo: até Fevereiro ou Março de 2013 deverá Portugal, se quiser beneficiar do mecanismo,
ter pronto um conjunto de propostas e projectos concretos a submeter ao próximo QREN
2014-2020, o qual pode ser a última oportunidade para o financiamento de muitos
projectos essenciais para o desenvolvimento regional. Perdidos em guerras de alecrim e manjerona, não se vê porém o
envolvimento do poder ou dos eleitos locais na preparação ou articulação
estratégica para esse fim, apresentando projectos, apontando prioridades, ou
promovendo a captação de recursos financeiros para áreas elegíveis para apoio,
que, a não serem apresentados atempadamente, se poderão perder, ou por tardar
projecto plausível, ou por faltar a definição cirúrgica de sectores ou áreas a
intervencionar.
Mais que pensar no número de mandatos dos presidentes da
Câmara, na agregação de freguesias ou na manutenção das mesmas, há infelizmente todo um quadro
institucional e de gestão que não entra nas preocupações de quem
devia pensar não o campanário ou a clientela, mas, outrossim, estar
centrado no território primeiro, e na sua ossatura jurídica depois,
uma vez mais se privilegiando a árvore sem querer ver a floresta, abordando-se a reforma administrativa
como um combate de chefes das várias aldeias gaulesas que por esse país
ameaçam com o machado de guerra.
Extintas ou agregadas, criar freguesias potencialmente desertificadas e sem vislumbre de investimento multiplicador, afigura-se um desperdício de energias, começando pelo fim um processo onde as pessoas e o modelo de desenvolvimento deveriam ser a primeira e primordial tarefa, e o quadro institucional adequado o passo seguinte, e, portanto, ou me engano muito, ou estamos perante mais uma oportunidade perdida para reformar o Estado, olhando-se primeiro para o umbigo e só muito depois para o horizonte.
Extintas ou agregadas, criar freguesias potencialmente desertificadas e sem vislumbre de investimento multiplicador, afigura-se um desperdício de energias, começando pelo fim um processo onde as pessoas e o modelo de desenvolvimento deveriam ser a primeira e primordial tarefa, e o quadro institucional adequado o passo seguinte, e, portanto, ou me engano muito, ou estamos perante mais uma oportunidade perdida para reformar o Estado, olhando-se primeiro para o umbigo e só muito depois para o horizonte.
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