O corte de gorduras que foi anunciado com a extinção ou
redução de apoios às fundações parece ter aberto uma caixa de Pandora que pode
vir a colocar em risco o funcionamento de instituições basilares no panorama
cultural português, ao mesmo tempo que deixa escapar entre as suas malhas os verdadeiros
sorvedouros de dinheiro, como certas fundações afectas a partidos políticos e
que apenas servem para branquear capitais e empregar os amigos.
Efectivamente, pôr em risco instituições como Serralves,
a Casa da Música, a Fundação Paula Rego, e outras, demonstra que o critério de
avaliação do Governo não teve como ponderável uma descriminação positiva que
tivesse em conta o serviço público ou o emprego criado com tais fundações, nem
tão pouco parece respeitar os próprios estatutos de muitas delas, pelos quais
são os órgãos próprios quem pode deliberar sobre a sua extinção, ou as autarquias
locais a que estão ligadas. Parece pois ter sido um trabalho atabalhoado, que
para além de se revelar, à semelhança das freguesias, insignificante na real redução
da despesa, ameaça ir desembocar por muitos anos nos tribunais administrativos,
gerando incertezas sobre o seu futuro e desqualificando os serviços por si
prestados. Além de que, mantendo o estatuto de utilidade pública, continuarão
muitas das não extintas a beneficiar de isenções e benefícios fiscais, para a
segurança social ou em custas judiciais, por exemplo.
Por muito que se corte a torto e a direito e desmantele o
estado e as instituições (algumas só, pelos vistos…) é preciso salientar que
muita da despesa do Estado é hoje representada sobretudo pelos juros dos
empréstimos usurários ocasionados pela “ajuda externa” dos nossos “parceiros”,
a qual por muito que se corte nunca permitirá uma redução abaixo de um certo
patamar. Além do presente envenenado da nacionalização do BPN e os famigerados
submarinos que não têm capacidade ofensiva e não podem atracar nos Açores, por
exemplo.
Corte-se sim, nas parcerias público-privadas mal
negociadas invocando o interesse público e a alteração de circunstâncias ( ou
nacionalizem-se as empresas constituídas apenas para esses fins), corte-se nas
subvenções aos partidos e deputados, e nos consumos intermédios da
Administração Pública, promovendo serviços partilhados. Corte-se nas forças armadas
de fachada e no número de oficiais generais, nas empresas municipais, no número
de vereadores e autarcas, nos observatórios, nas altas autoridades, nas CCDR’s,
nas várias polícias e fiscalizações duplicadas. E, corte-se também, claro, nas
fundações fantasma ou duplicadoras de serviços. Mas em tudo, com critério e sem
a fobia da verba ou da execução orçamental para troika ver. Menos Estado em certas situações pode levar a menos
país e menos sociedade, num retrocesso irreversível sem viabilidade de relançamento
depois de passar a borrasca.
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