quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

André Albuquerque Ribafria, 4º alcaide-mor de Sintra


André de Albuquerque Ribafria, 4.º Alcaide-Mor de Sintra, nasceu no palacete Ribafria, onde se conservam os assentos do baptismo na Igreja de S. Martinho: «Em os 30 de Majo [de 1621] baptizou o d.or Thomaz Glz Ferrejra prior de Sancta M.ª do Arabalde desta villa a André f.º de Gp.ar Glz dalbuquerq. Alcajdemor desta villa e de D. Angela foi padrinho dom Fernando de Castro e dona Genevra madrinha».
Órfão aos 15 anos, parece ter ficado sob a tutela de D. Antão de Almada, tendo passado a juventude em Sintra, vivendo «nos brassos da imagem da guerra, que he a caça e montaria, penetrando as serras de Sintra em que se ensayou pera o trabalho, porque he ella hua palestra, ou eschola da mesma guerra em que se aprende a desprezar os perigos e injúrias do tempo». Ao que parece avesso ao culto das letras, se bem que «perito nas lingoas italiana e francesa», criou-se André de Albuquerque neste singular ambiente, forjando «hu rosto alegre, hum coração desprezador de todo o perigo, hum juizo sem dificuldades, nada entregue a regalos e delícias,grande aturador da campanha, muyto robusto e vigoroso»; e também violento: com 15 ou 16 anos, em 1636 ou princípios de 37, o encontramos culpado na morte de um tal Domingos da Silva, crime de que é, aliás, perdoado por mercê régia.
Em 1638, com apenas dezassete anos e como soldado arcabuzeiro parte para o Brasil na armada de 8 galeões e 6.000 homens que o Governador-Geral Conde da Torre comanda, com o fito de obstar ao expansionismo holandês naquele Estado, e é sob o mesmo comando que participa na desastrosa empresa naval de Pernambuco, no ano seguinte. Regressado ao Reino, em 1640, torna-se, talvez por influência de D. Antão de Almada, um dos iniciados na conjura, «hum dos fidalgos comfidentes que com o maior zello obraram o anno de quarenta na aclamação», no dizer de uma carta régia.
Era já por este tempo Alcaide-Mor de Sintra. Efectivamente, por morte do pai e apresentada a já citada carta régia pela qual Filipe III possibilitava ao mesmo a transmissão daquela para o filho primogénito André, é-lhe a dita atribuída por carta daquele soberano de 19-5-1639, escassos dias antes de perfazer 18 anos, idade mínima para dela tomar posse. Em 1640, à data da Restauração, é já referido como «o alcaide-mor de Sintra» na «Lista dos Fidalgos que se acharão na felice aclamação de Sua Majestade». E se até então a alcaidaria-mor de Sintra fora atribuída sempre numa única vida, em atenção aos já relevantes serviços prestados por André de Albuquerque Ribafria, é-lhe passada pelo novo Rei o alvará de 1 de Abril de 1644, seguido de uma carta datada de 23 de Maio de Alcaide-Mor de Sintra, mas esta com o benefício de tornar aquela de juro e herdade para todo o sempre em seus sucessores e nesta Família, como realmente o foi até ao séc. XIX, e com a especial mercê de uma vida fora da Lei Mental, caso viesse a recair a Casa numa senhora. Tudo lhe vem a ser confirmado sob a regência da Rainha D. Luísa de Gusmão, por carta de 13 de Setembro de 1649.
Mas, mais que tudo, André de Albuquerque Ribafria é um dos grandes vultos da história militar portuguesa. Em princípios de 1641 foi nomeado capitão de infantaria para o Alentejo, onde ficou largos anos sem vir à Côrte, ao contrário do que faziam a maior parte dos oficiais. Tomou parte em muitas das operações de pequena guerra e em 1642 foi promovido a Mestre de Campo. Em 1643, os Portugueses tomaram a ofensiva, apoderando-se de algumas praças secundárias, e tentando um infrutuoso ataque a Badajoz; em 1 de Setembro, no ataque de Alconchel, foi ferido, e em Outubro foi nomeado governador de Villa Nueva del Fresno, uma das praças conquistadas. Daqui passou com o seu terço à guarnição de Campo Maior e, mais tarde, à de Elvas.
Em 1645 tomou parte numa empresa, apenas iniciada, contra Badajoz, em que, ao que diz o segundo conde da Ericeira, manifestou má vontade. Todavia, durante todo este tempo, recebeu muitas cartas régias de agradecimento e em 1646, foi promovido a general de artilharia. Como tal, comandou o ataque e tomada de Codiceira e teve papel importante noutras operações; exerceu interinamente, o governo das armas da pronvíncia e foi, em 1650, promovido a general de cavalaria, arma a que não havia pertencido, mas em cujo comando se distinguiria particularmente.
Parece ter introduzido novos processos tácticos e, sobretudo, deu à Cavalaria uma capacidade de combate muito superior à que tivera, tornando-a melhor que a cavalaria espanhola, ao contrário do que sucedera antes e viria a acontecer depois da sua morte. Comandou o vitorioso combate de Arronches, onde foi gravemente ferido. Esta batalha equestre de Arronches é uma das coroas de glória da carreira de André Ribafria. E se no violento recontro tombou o general espanhol Conde de Amarante, o próprio Ribafria foi gravemente ferido no rosto, atravessado de lado a lado por uma estocada, atropelado no chão da batalha por duas cargas de cavalaria e dado por morto, o que milagrosamente não sucedeu.
Em 1675 era promovido a Mestre de Campo General, sendo especialmente encarregado, nos anos em que deteve este posto e mercê da competência que lhe era reconhecida, do comando de toda a cavalaria. Era a prova patente do favor régio que já, aliás, anteriormente se revelara. Ainda em vida do pai lhe conseguira este que, com dispensa da falta de idade, obtivesse o hábito da Ordem de Cristo. A carta de hábito e alvará de cavaleiro são-lhe dados por Filipe III em 3 de Agosto de 1633, devendo o hábito lançar-se-lhe na Capela do Paço da Ribeira ou na Igreja de Nossa Senhora da Conceição. Se, também, por carta de 10-12-1649, sucedeu na comenda de S. Mamede de Sortes, que como vimos fora do pai e avô, uma portaria de 31 de Maio facultou-lhe, pelos seus muitos serviços, 500.000 réis de renda na de S. Miguel de Nogueira, o que se lhe mudou por mercê régia de 22 de Agosto de 1653 na atribuição da mesma comenda e 200.000 réis de renda na de Redinha; a carta desta comenda tem a data de 24 de Fevereiro de 1654. Outra portaria, esta de 8 de Junho de 1654, atribuiu-lhe a Comenda de Redinha, na mesma Ordem, de que lhe é passada outra carta com a data de 12 de Março de 1655.
Assim, grandemente recompensado e no desempenho do alto posto militar que ocupava, continuou a campanha, dirigindo vários combates, a tomada do Forte de S. Miguel, junto de Badajoz, e especialmente o vitorioso encontro das duas cavalarias (22- 6-1658). Durante a continuação do cerco de Badajoz comandou em diferentes operações, até que adoeceu de uma epidemia que se desenvolveu nas tropas sitiadoras, a qual atingiu quase todos os generais e causou tais perdas no exército que este teve de levantar o cerco. Foi transportado para Elvas onde fora Provedor da Misericórdia e dali saiu, ainda muito doente, para organizar o exército de socorro, cujo comando foi dado ao Conde de Cantanhede, mas cujas operações, que parece terem sido dirigidas por André de Albuquerque, conduziram à Batalha das Linhas de Elvas, que provocou a dissolução do exército castelhano .
Arrostando com 8.000 homens o gigantesco exército de 30.000 comandado pelo Primeiro-Ministro espanhol D. Luiz Mendes de Haro, ainda na véspera da célebre batalha exortaria os seus homens ao brado célebre de «Amigos! ou a Elvas ou ao Ceu!». No dia seguinte, manhã de 14 de Janeiro de 1650 arrojava-se o Alcaide-Mor de Sintra contra as linhas castelhanas que sitiavam a moribunda guarnição de Elvas. Vitoriosos os portugueses e pràticamente decidida a batalha, «já em toda a parte hião os inimigos cedendo a vitória às nossas armas - segundo o escrito de Barbosa Machado -, estando a sua infantaria rôta e a cavalaria descomposta, quando a intempestiva desordem com que o terço foi perdendo o terreno na conquista de um forte que se defendia com valerosa constância, obrigou a vir àquela parte o General André de Albuquerque. Não soffreu o alentado coração d'este heroe que na sua presença dessem os nossos soldados o menor signal de fraqueza, e, querendo animá-los com o exemplo, arrojou o cavallo ao fosso do forte». Neste transe os levou até junto da estacada, repelindo os fugitivos com a bengala ao mesmo tempo que com a mesma tocava as estacas mostrando como deviam ser arrancadas. Tendo um braço levantado uma bala de mosquete entrou-lhe por um sovaco, não protegido pela couraça, ferindo-o mortalmente. Já não pronunciou palavra e, não caíndo imediatamente do cavalo, foi o corpo amparado pelo Vedor-Geral Jorge da Franca e pelo Contador António de Torres, que valorosamente o acompanhavam.
A batalha fôra, entretanto, ganha; não tanto pela direcção de Marialva, que um informador francês da época desdenha, mas porque «exeoutée par les ordres et le courage de André Albuquerque». Estava dado o golpe mortal nas forças invasoras.
Foi o cadáver de André de Albuquerque levado para Elvas onde esteve exposto na Igreja de S. Maria de Alcáçova. Daí, com soleníssima pompa militar, foi levado a sepultar na Igreja de de S. Francisco dos Capuchos, no dia 16 de Janeiro, na Capela de S. António.
Assim acabou em glória o 4.º Alcaide-Mor de Sintra, aquele que declarara «nunca temer nenhuma espada, salvo a da justiça».
Foi filho de Gaspar Gonçalves de Albuquerque Ribafria Alcaide-mor de Sintra e de D.Ángela de Noronha, terceiro neto do Grande D. João de Castro Vice-Rei da Índia e décimo neto del Rei D. Diniz
Não casou André de Albuquerque Ribafria; o Conde da Ericeira diz-nos que à data da morte estava justo para casar com D. Ana de Portugal, que acabou solteira, filha de D. João de Almeida «o formoso» que foi Vedor da Casa de D. João IV, comendador da Ordem de Cristo, Alcaide-Mor de Alcobaça, Reposteiro-Mor de D. Afonso VI.


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