As suas aulas eram sempre das mais frequentadas, numa altura
em que governavam Eanes e Lurdes Pintasilgo, e muito se discutia a natureza dos
governos de gestão e a extensão dos poderes presidenciais. A constituição de
1976 era recente ainda, e os seus pais intelectuais- o próprio Marcelo, Jorge
Miranda e Vital Moreira- publicavam os primeiros manuais e estudos temáticos,
tendo Marcelo na altura elaborado a sua tese para catedrático com um trabalho
sobre os partidos políticos em Portugal. Quando por via de não ter frequentado
as aulas de avaliação contínua nessa cadeira (tempo de viagens pela Europa de inter rail…) fiz exame final, e tive
necessariamente de comparecer num exame oral, recordo bem a maratona que tal
foi, começando as ditas orais depois de almoço, com mais de uma hora por cada
aluno, e sendo as notas anunciadas já perto da meia noite, com a faculdade
deserta e a fechar, terminando a maratona com um bife na Portugália. Recordo
nessa época também as visitas de estudo que no âmbito da cadeira promoveu,
nomeadamente uma ao extinto Conselho da Revolução, órgão resultante do Pacto
MFA-Partidos, que enformou a feitura da Constituição de 76, e a forma
desenvolta como questionou e suscitou a curiosidade dos seus alunos em torno da
política e do direito constitucional.
Licenciado, e seguindo a minha vida, por diversas vezes o
tenho encontrado por aí, em restaurantes ou sessões públicas, e, apesar de
terem passado mais de 30 anos, a sua memória recorda sempre o antigo aluno,
perguntando pelos meus sucessos pessoais e profissionais, como se nos
tivéssemos separado dias antes apenas, e por si não tivessem passado muitos
anos, acontecimentos e centenas de alunos.
Menos bem sucedido como político que como comentador, ao
longo da sua carreira, acompanho com frequência ao domingo a sua incontornável
leitura dos acontecimentos nacionais, em minha opinião, sóbria e certeira, mas
onde detecto, porém, uma compreensível maior condescendência para a postura do
seu partido de sempre, e dos seus governos ou militantes, embora com um
estatuto que lhe permite hoje pairar como “senador” do regime, e, talvez, tendo
em conta uma sua eventual candidatura à Presidência da República em 2016,
gerindo declarações e silêncios no sentido de manter pontes, e ser, quem sabe,
o candidato oficial da direita. Para amigos e adversários, Marcelo Rebelo de
Sousa é indelevelmente um príncipe florentino na era da televisão, e o exemplo
claro que o poder é muitas vezes mais de quem o exerce pela palavra do que de
quem o detém pela caneta. Parabéns, e muitas felicidades, professor Marcelo!
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