quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Parabéns, Professor Marcelo!




Marcelo Rebelo de Sousa faz hoje 64 anos. Filho e discípulo de proeminentes figuras do Antigo Regime, e um dos mais brilhantes alunos de Direito do seu tempo (no seu curso obteve a nota mais alta, a par de Leonor Beleza), foi depois do 25 de Abril um destacado jornalista do Expresso e professor da Faculdade de Direito de Lisboa, onde o tive como regente de Direito Constitucional no ano lectivo de 1978/79. Recordo bem a sua agilidade intelectual e a postura hiperactiva (ainda hoje um traço do seu carácter) e a forma como sempre abordou a política, apaixonado e maquiavélico mestre de cenários, usado aqui o termo maquiavélico no sentido renascentista do termo e não no pejorativo.
As suas aulas eram sempre das mais frequentadas, numa altura em que governavam Eanes e Lurdes Pintasilgo, e muito se discutia a natureza dos governos de gestão e a extensão dos poderes presidenciais. A constituição de 1976 era recente ainda, e os seus pais intelectuais- o próprio Marcelo, Jorge Miranda e Vital Moreira- publicavam os primeiros manuais e estudos temáticos, tendo Marcelo na altura elaborado a sua tese para catedrático com um trabalho sobre os partidos políticos em Portugal. Quando por via de não ter frequentado as aulas de avaliação contínua nessa cadeira (tempo de viagens pela Europa de inter rail…) fiz exame final, e tive necessariamente de comparecer num exame oral, recordo bem a maratona que tal foi, começando as ditas orais depois de almoço, com mais de uma hora por cada aluno, e sendo as notas anunciadas já perto da meia noite, com a faculdade deserta e a fechar, terminando a maratona com um bife na Portugália. Recordo nessa época também as visitas de estudo que no âmbito da cadeira promoveu, nomeadamente uma ao extinto Conselho da Revolução, órgão resultante do Pacto MFA-Partidos, que enformou a feitura da Constituição de 76, e a forma desenvolta como questionou e suscitou a curiosidade dos seus alunos em torno da política e do direito constitucional.
Licenciado, e seguindo a minha vida, por diversas vezes o tenho encontrado por aí, em restaurantes ou sessões públicas, e, apesar de terem passado mais de 30 anos, a sua memória recorda sempre o antigo aluno, perguntando pelos meus sucessos pessoais e profissionais, como se nos tivéssemos separado dias antes apenas, e por si não tivessem passado muitos anos, acontecimentos e centenas de alunos.
Menos bem sucedido como político que como comentador, ao longo da sua carreira, acompanho com frequência ao domingo a sua incontornável leitura dos acontecimentos nacionais, em minha opinião, sóbria e certeira, mas onde detecto, porém, uma compreensível maior condescendência para a postura do seu partido de sempre, e dos seus governos ou militantes, embora com um estatuto que lhe permite hoje pairar como “senador” do regime, e, talvez, tendo em conta uma sua eventual candidatura à Presidência da República em 2016, gerindo declarações e silêncios no sentido de manter pontes, e ser, quem sabe, o candidato oficial da direita. Para amigos e adversários, Marcelo Rebelo de Sousa é indelevelmente um príncipe florentino na era da televisão, e o exemplo claro que o poder é muitas vezes mais de quem o exerce pela palavra do que de quem o detém pela caneta. Parabéns, e muitas felicidades, professor Marcelo!

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