quarta-feira, 22 de junho de 2011

O nosso futuro é o nosso passado

 
Joseph Stiglitz, prémio Nobel da Economia, considera que a sobrevivência do euro depende de uma reforma profunda nas instituições europeias que a crise grega é o primeiro passo para o fim do euro, defendendo que se a UE não resolver os seus profundos problemas institucionais, o futuro da moeda única será limitado. Para ele, é imperativa a criação de uma união fiscal para proteger o euro, ideia hoje também defendida por outros economistas.
Sobre o plano de ajuda à Grécia, o Nobel considera que os 110 mil milhões de euros poderão afastar os especuladores de Atenas, mas apenas por algum tempo. No longo prazo os problemas estruturais continuarão lá e os especuladores conhecem bem essas debilidades, pelo que à medida que a Europa for enfraquecendo ir-se-á tornando mais propícia a ataques especulativos. A questão é que ninguém quer assumir os riscos, por falta de uma visão de Europa. Em minha opinião, Portugal e demais países com ameças à chamada "dívida soberana" deveriam promover dentro da UE um bloco de países que, ameaçando com o default, pusesse os bancos credores em sentido e mais prontos a colaborar na solução. Porque se não pagar é mau, não virem a receber os biliões emprestados e asfixiando assim o sector financeiro será muito pior, por isso, quantos mais meses durar o esticar de corda, pior para a sobrevivência das economias do euro.
Visto à distância de 9 anos, pasma-se como se criou uma moeda única sem ter uma política económica, fiscal, financeira e bancária única e coordenada, atentas as diferenças de crescimento e de organização dos 16 países aderentes, e agora, que todos os iluminados vêm e comentam o que não viram nos anos anteriores, dão-se palpites e caminha-se para uma situação de insustentabilidade sem fim à vista. Ainda ontem reli o livro que Cavaco Silva escreveu em 2001 “Portugal e a Moeda Única”, e pelo qual, seriam a nossa adesão seriam só vantagens, o "bom aluno" dos anos 9o estava em condições de entrar no Clube dos Ricos e continuar a crescer sem fazer as reformas estruturais que se impunham. De nenúfar em nenúfar até ao sucesso , era a palavra de ordem, hoje próximo do naufrágio final. Afinal, não são só os meteorologistas que se enganam nas previsões, essa espécie de Professores Karamba do gráfico e do PSI também pouco mais passam que de aprendizes de feitiçeiro.  Cavaco, o homem que criou o “monstro” que depois outros engordaram, foi o homem que em nome da mítica PAC matou a agricultura e pescas, encheu o país de estradas e obras faraónicas (Expo, Ponte Vasco da Gama, CCB) de que é agora o maior crítico, censurando agora que os portugueses tivessem cometido o crime de lesa pátria de ter comprado casas e passado a consumir de acordo com a "terra do leite e do mel" que as pitonisas do QREN, do FEDER ou do FEOGA anunciavam, os bancos acenavam com crédito fácil e os governos estimulavam o consumo e a "Europa". Culpados, não sei quem são, as vítimas futuras, essas sei quem serão e muito bem.
É tempo de experimentar outras soluções, numa economia globalizada, apostar nos nossos clusters de produtos e serviços transaccionáveis com valor exportador, potenciadores de emprego e onde sejamos competitivos. E porque não apostar num espaço económico e monetário lusófono,  solidário e emergente, como as economias de Angola e Brasil parecem vir a ser. São 250 milhões de consumidores em vários continentes, com classes médias a emergir e janelas de oportunidade.
O nosso futuro, paradoxalmente, poderá estar no nosso passado. Em 500 anos, Portugal só nos últimos 30 olhou para a Europa, e nem o país gosta da Europa nem a Europa gosta de Portugal.  Voltemos pois a Casa e ao nosso Espaço Comum. Os gregos não têm as vantagens estratégicas e os laços centenários de Portugal. Apostemos pois no que nos distingue e viremos a página rumo ao Futuro. Há 10 milhões de portugueses e toda uma geração jovem que merece.

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