Passam hoje 15 anos da entrada em vigor do PDM de Sintra, publicado no Diário da República de 4 de Outubro de 1999 sob a forma de resolução do Conselho de Ministros (116/99).
O
quadro sócio-económico do concelho de Sintra revela-nos hoje um território
dispare, policêntrico e a carecer de coesão social e territorial, o que
deve passar não só por criar apetências nos núcleos consolidados, como
novas centralidades, evitando a fragmentação urbanística decorrente de
aprovações casuísticas, apesar dos planos existentes.
Para
tanto, há que apostar na reabilitação urbana, finalizar o processo de
legalização dos bairros clandestinos, optimizar a rede de transportes,
com aposta no sector ferroviário, criar um corredor verde entre a serra
de Sintra e a Carregueira, por exemplo.
Como pontos fracos a ultrapassar, identificaria os seguintes:
1.
A dimensão do concelho, e as suas realidades diferenciadas,
interseccionadas pela zona-tampão de Chão de Meninos/Ranholas, que
separa as “duas” Sintras, com realidades diferenciadas.
2.
A sobreposição de planos e entidades, que criam uma cacofonia de gestão
e não permitem ao decisor dos licenciamentos- a autarquia- uma assunção
plena do seu papel, sendo certo que é a única com génese democrática e
escrutinável.
3.
A resiliência da administração local à agilização de procedimentos,
numa postura penalizadora para os munícipes e seus projectos de
investimento.
4.
A quase paralisia do sector de planeamento, com inúmeras planos de
urbanização e pormenor a marcar passo, penalizando quem espera por
decisões e desincentivando a iniciativa reprodutiva de emprego e
crescimento.
5. A multiplicidade de jurisdições de decisão- CMS, PNSC, PSML, IGESPAR, Região Hidrográfica, CLAFA, CCDR, etc.
6.
A deficiente fiscalização da legalidade, raramente se fazendo valer a
sua natureza preventiva e desincentivadora de intervenções ilegais no
território.
7.
A ameaça das decisões judiciais que imponham o respeito por direitos
adquiridos originados em decisões tardias ou mal fundamentadas e às
quais ao arrepio dos planos haja que dar cumprimento.
8.
As lacunas ao nível dos cuidados de saúde (hospital) e de
estabelecimentos de ensino superior, para os quais com opções recentes
terá porventura passado a janela de oportunidade de ver implantados no
concelho de Sintra, pelo menos nos tempos mais próximos.
9.
O segmento do turismo ainda baseado no excursionismo, com uma média de
dormidas no concelho de 2,3 noites (Cascais tem 3,4) e apenas cerca de
1500 camas entre hotéis, pensões e demais alojamentos.
10. A degradação do Centro Histórico, desertificado, sem plano actualizado e sem atractividade para moradores e visitantes.
11.
O envelhecimento da população nas freguesias rurais e a falta de
emprego para os jovens nas zonas urbanas que os fixem, permitindo a
mobilidade social e a exponência de massa crítica e criativa.
12. A falta de apoio ao comércio tradicional e às PME (96% das empresas tem menos de 9 trabalhadores).
13.
A falta de um plano de marketing territorial assente nas virtualidades
das pessoas e não só no património histórico, sendo que a marca
romantismo não é idónea a caracterizar um concelho onde apenas 10% da
população vive na Sintra dita “romântica”.
Para tanto, dever-se-iam priorizar alguns nichos de intervenção:
-Apostar
no segmento de eventos, no turismo de saúde, no ensino profissional e
na agro-indústria transformadora, atento o facto de, apesar de
desprezado, o sector agrícola ainda oferece vantagens competitivas pouco
exploradas (vinho de Colares, pêra rocha, hortícolas, etc).
-Apostar
numa rede de hotéis de charme e quintas de lazer, a par de espaços para
bolsas mais débeis e na introdução de parques de campismo (quase
inexistentes) e hostels de pequena dimensão.
-Criar bolsas de estacionamento e uma rede de mini buses que atravesse as zonas críticas e a carecer de preservação ambiental.
-Apostar
no transporte público no acesso à serra e seus pólos turísticos (porque
não preços mais moderados para quem aceda aos palácios de transporte
público, sendo o bilhete de entrada e transporte vendidos em conjunto, e
com um diferencial de preço significativo?).
-Reforçar a sinalética e as placas explicativas dos monumentos a visitar, bem como dos pontos de maior interesse.
-Adoptar
benefícios em sede de taxas ou impostos a quem voluntariamente recupere
edifícios e património, bem como destinar 1% do montante cobrado em
sede de contra-ordenações para um fundo de reabilitação urbana.
-Explorar as virtualidades da biomassa e dos combustíveis não poluentes e amigos do ambiente.
-Criar estímulos à arquitectura rural e tradicional.
-Criar
uma bolsa de emprego rural, no quadro duma política efectiva e
pró-activa de retorno ao mundo rural, e estimulando as hortas urbanas e a
agricultura biológica.
Os
espaços urbanos ocupam já 47% do território sintrense, pelo que há, no
futuro, que actuar com parcimónia nas futuras áreas urbanas programadas,
atento o facto de ainda subsistirem 100 áreas urbanas de génese ilegal,
ocupando a REN 35% do total (incluindo espaços culturas e naturais).
Se
é certo que o número de licenciamentos entre 2001-2009 ficou pelos
9.908, 1/3 do total da década anterior, o facto é que o concelho dispõe
já de 180.000 fogos, 12% do total da Área Metropolitana de Lisboa, e
dispondo de um número razoável de equipamentos e do grau de cobertura
dos mesmos- 77 creches, 184 jardins de infância, 19 equipamentos
desportivos, 25 centros de dia, 28 lares, 15 jardins de infância, 62
escolas básicas e básicas com o 1º ciclo, 18 escolas básicas com o 2º e
3º ciclo e 7 secundárias. Ao nível do ensino superior a oferta reduz-se,
porém, contabilizando-se apenas a Academia da Força Aérea e o campus da Universidade Católica no Taguspark.
O
tecido empresarial tem vindo a sofrer mudanças profundas desde a crise
de 2008, tendo sido relevante tal mudança ao nível da construção e
comércio, sector onde haviam nessa data 4075 e 8412 empresas,
respectivamente, ocupando o 2º lugar a seguir a Lisboa e garantindo
nessa data 15% do emprego na região da Grande Lisboa. É pois com esse
quadro, e tendo em conta muitas (não todas) patologias aqui elencadas,
que se deve desenhar o concelho de Sintra, num quadro metropolitano,
reflectindo aquilo que se deseja para os próximos anos. Ouvindo as
partes, que são parte do Nós, e não o Outro, intruso e amorfo. Para uma
verdadeira Democracia do Território.
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