Foi no século XVII que se reuniram as condições para o humor aparecer
na imprensa, fazendo veicular a crítica satírica através de folhetos de cordel,
papéis volantes, etc, sendo os desenhos que surgiram nesta época adaptações de
trabalhos estrangeiros que procuravam criticar o sistema político nacional, uma
vez que a arte da gravura erudita não tinha raízes na tradição artística
portuguesa. O único exemplar de sátira erudita portuguesa da época foi criado
por Viena Lusitano, e os focos de arte popular concentraram-se nos desenhos satíricos
como expressão do sentimento de revolta contra o poder.
A partir do séc.XIX a produção jornalística e a
sátira flutuaram ao sabor da liberdade de expressão e da
intolerância do poder. Em meados de 1850 surgiram os primeiros jornais com
ilustrações satíricas: «O Patriota», «O Torniquete», «Demócrito», «Duende»,
etc. As caricaturas de teor
político surgiram como resposta à repressão, à ditadura, ao despotismo e na maior
parte das vezes eram anónimas ou assinadas por pseudónimos.
Foi assim, no anonimato, que nasceu a caricatura nacional e
os trabalhos daquele que é considerado por muitos o primeiro caricaturista
português: Cecília.Com o desenrolar do século, os ânimos violentos do desenho
acabaram por dar lugar a uma nova concepção filosófica de arte, mais preocupada
com a evolução estética. Manuel Macedo e
Nogueira da Silva foram os principais responsáveis por este virar de página na
vida da caricatura em Portugal, e o seu grande expoente Rafael Bordalo Pinheiro.
Em Sintra ou de Sintra foram (e são) alguns deles, de relevo
no panorama nacional, como Leal da Câmara, Stuart Carvalhais e Vasco de Castro,
ou mais locais, como José Alfredo Costa Azevedo, Maria Almira Medina, Mestre
Alonso, e contemporaneamente Luís Cardoso (Cardosálio) ou Rui Zilhão,
reunindo uma obra que merece uma leitura de conjunto e homenagem pelo
contributo que também através dela se dá para contar o nosso tempo e
como o mesmo foi ou é visto de forma acutilante e incisiva, fazendo mais com
uma imagem que muitas vezes com mil palavras.
A existência de um espaço dedicado a esta valência artística,
bem como à banda desenhada e ao cartoon poderia ser duplamente a forma de
homenagear estes e outros artistas, bem como de a partir daí se criar um centro
artístico dedicado às artes do Traço, com realização de workshops, exposições,
conferências, etc, numa vertente integrada com a rede de museus e galerias
municipais existente, para tanto importando factores como acessibilidade,
localização, empenho da comunidade local e artística e ligação com os
promotores turísticos e as escolas. Aqui fica uma ideia para lançar à
comunidade sintrense e aos decisores, numa lógica de valorizar o que é nosso e
homenagear aqueles que de uma forma ou outra são nossos também.
Abaixo, alguns trabalhos de autores sintrenses (cá nascidos
ou que por cá andam ou andaram):
Leal da Câmara
José Alfredo Costa Azevedo
Stuart Carvalhais (auto caricatura)
Maria Almira Medina
Vasco
(caricatura de Mário Soares)
Luís Cardoso (Cardosálio)
Rui Zilhão
(caricatura de Salvador Dali)
Sem comentários:
Enviar um comentário