Existe na capela do Palácio da Pena, do tempo dos frades jerónimos, uma inscrição sepulcral cuja leitura é a seguinte:
AQUI IAS ARTVUR
BRAS PEREIRA
E SVA MOLHER I
SALSEL DE SEQra FA
LECEO A 17 DE MAIO DE
1617
Quem foi este casal, inumado no dito convento?
De acordo com um estudo de 1959 de José Maria Cordeiro de
Sousa, “Inscrições lapidares portuguesas
do concelho de Sintra”, arquivado na Biblioteca Municipal, nas vésperas de
Natal de 1515, por alvará de 20 de Dezembro, estando D. Manuel no paço de
Almeirim, ordenou ao seu tesoureiro, Rui Leite, que desse aos seus monteiros de
cavalos, entre eles, Artur Brás, um capuz, pelote e calças e pano de trezentos
réis, com gibão de chamalote com meias mangas e colar e pontas de veludo. Este
Artur Brás, segundo o autor, será o mesmo que vem mencionado no rol dos
cavaleiros de D. João III, com moradia de setecentos réis por mês, e que ao
tempo residia em Colares, e a quem o mesmo rei fez “monteiro de cavalo” e guarda-mor da serra de Sintra, lugar que
vagara por aposentação de Martim Albernaz, a 14 de Setembro de 1522. E reza o
referido documento que lhe foi mandado dar de “mantimento” a cada dia 1 de Janeiro mil réis, com direito a cavalo.
Passados muitos anos, concedeu o rei a Artur Brás aposentação
em Janeiro de 1544, com vinte mil réis de tença para sua manutenção.
Artur Brás casou com Isabel Pereira, que faleceu viúva em
Colares a 10 de Julho de 1559, e foram pais de Álvaro Pereira, residente em
Colares e moço da câmara de D. João III, com a moradia de 406 réis por mês e
três quartas de cevada por dia.
Este Álvaro Pereira casou com Isabel de Quadros, e tiveram um
filho, Artur Brás Pereira, baptizado a 28 de Outubro, nascido provavelmente
entre 1549 e 1550, uma filha, Leonor, nascida em 1560, e um filho de nome
Álvaro, nascido em 1563.
No mesmo dia em que o primeiro Artur Brás, o monteiro a quem
em 1515 D.Manuel dera roupa e cavalo foi aposentado, D. João III nomeou para o
lugar de guarda-mor da serra de Sintra seu filho Álvaro Pereira, com ordenado
anual de 15.000 réis.
Este Artur Brás, neto do primeiro, foi moço da câmara de D. Sebastião,
tendo-lhe este monarca por carta datada de Salvaterra de Magos de 28 de Maio de
1570 feito mercê do ofício de couteiro da vila de Sintra. Em Maio de 1577 casou
na igreja de S. Martinho com Isabel de Sequeira, filha de Cristóvão de
Sequeira, que foi escrivão da Vila. Filipe II, por carta datada de Lisboa a 15
de Maio de 1583 fez-lhe a mercê de 20.000 réis de tença cada ano, tendo-se
assim aposentado com metade do ordenado que obtivera enquanto desempenhou as
funções de couteiro, e por ter ficado doente. Continuou contudo servindo como
escrivão dos órfãos da vila de Sintra.
Artur Brás Pereira enviuvou de Isabel Sequeira em data que os
livros de S. Martinho e Colares não permitem apurar, mas o seu nome surge
referenciado em Setembro de 1614 numa escritura de casamento e dote celebrada
na Ponte do Rol, então concelho de Torres Vedras, em que foram nubentes
Margarida de Magalhães, enteada de Lianor Motta Gouveia, e o próprio Artur Brás
Pereira, em segundas núpcias.
Já septuagenário, morreu em Sintra a 17 de Maio de 1617 e foi
enterrado em Nossa Senhora da Pena, junto da primeira mulher, Isabel Sequeira.
A viúva, Margarida de Magalhães, foi viver para casa dos irmãos, na Ponte do
Rol, e passados dois anos, em 1619, voltou a casar com Álvaro de Avelar Barracho. Para a
posteridade, na capela do primitivo convento da Pena ficou a memória de Artur
Brás, couteiro-mor da serra de Sintra.
Fonte: José Maria
Cordeiro de Sousa, Inscrições lapidares do concelho de Sintra, 1959
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