Passaram quase dois anos desde a fronda das freguesias contra as
agregações e “uniões” anódinas promovidas pelo governo através do ex-ministro
Relvas (lembram-se?) invocando economias de escala, justiça no reordenamento do
território e modernidade, a reboque da troika trauliteira.
Lembro como se realizaram sessões de cidadãos irados, contra a traição
à realidade histórica e as decisões nas costas do povo. Lembro de sessões
inflamadas em que 19 das antigas 20 freguesias de Sintra juraram nunca aceitar
a imposição do poder central absolutista, em nome dos povos e da História,
tarefa para a qual igualmente contribuí, participando em sessões públicas e
escrevendo em blogues e nas redes sociais.(foto abaixo)
Contra tudo e contra todos, a reforma avançou, e as freguesias foram
“unidas”, e passados uns meses, aqueles que prometiam resistir qual Maria da
Fonte contra os modernos Cabrais, aceitaram as novas freguesias e
esqueceu-se a luta que, quais Nuno Álvares, se havia prometido contra os
modernos Andeiros. Ninguém voltou a falar das juntas extintas, aceitaram-se as novas
realidades, sem que aparentemente nenhuma verba tivesse sido poupada em pessoal ou em edifícios, como prometido,
e aparecessem “uniões” que o não são, pois
substituíram como realidades ex novo as anteriores freguesias que de forma pura e
dura se limitaram a ser extintas.
Seria interessante fazer um balanço da “reforma”, de modo a apurar se
se perdeu ou ganhou algo com as alterações verificadas, e se a guerra então
alimentada não passou apenas de um medir de forças entre os partidos do poder e
da oposição, com a "reforma" autárquica como arma de arremesso.O que se ganhou em poupança, celeridade, eficiência ou proximidade que decorra da reforma e não do voluntarismo ou empenho de muitos autarcas, e que também já existiam no modelo anterior?
Esta reforma
atabalhoada mexeu com o Portugal profundo, a sua idiossincrasia e a vontade
popular muitas vezes no passado escrita em sangue contra os poderosos, e só um
contrato com as populações, de génese democrática poderia tornar pacífica uma lei que a todos
contentasse, por a todos respeitar. Mas, sintoma da anomia social que vivemos,
ninguém mais voltou ao tema. Terá Miguel Relvas razão, a título politicamente
póstumo?
Penalizadas pelas
transferências do OGE, a Lei dos Compromissos, a suspensão de fundos comunitários,
as autarquias estrebucham, e S. Martinho, egrégia freguesia de Sintra onde os 30 cavaleiros donatários de
Sintra e Gualdim Pais se instalaram depois do foral de 1154, que viu o Chão de Oliva e a Xentra moura, a judiaria e a
alpendrada, o Lawrence e o Hotel Nunes, acolheu
Ferreira de Castro e escutou Zé Alfredo, acabou engolida por uma decisão
administrativa que a ignorou e aviltou. Ficou a mera referência no cabeçalho
do papel timbrado, sinal de remorso dos legisladores a soldo.
Urge fazer um balanço
das agregações efectuadas, e se efectivamente foram uma mais valia ou apenas um gesto economicista
para troika ver, hoje infelizmente fora dos focos mediáticos. Se a sociedade civil e política local para tanto tiver vontade
ou interesse.
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