quinta-feira, 7 de junho de 2012

O futuro capturado


O futuro de Portugal está capturado pelos juros exorbitantes e o desmantelamento do tecido económico, lesões que levarão anos a curar, e de que muito provavelmente os culpados morrerão impunes, como sempre na política, onde o mal sobra sempre para o povo.
Alguns culpados, contudo, têm rosto. Um relatório recente da Transparência Internacional alerta para a ligação entre a crise financeira e a Goldman Sachs, que coloca ex-funcionários nos lugares de topo que decidem o rumo da economia global, o que leva muitos a dizerem que domina o mundo.
Segundo o autor de "Money & Power: How Goldman Sachs Came to Rule the World", William D. Cohan, o banco liderado por Lloyd Blankfein conta com um exército de antigos funcionários em alguns dos cargos políticos e económicos mais sensíveis no mundo. E o inverso também acontece, o recrutamento de colaboradores que já desempenharam cargos de decisão. Não são apenas os milhões que vão para os bolsos dos políticos para ajudá-los a ganhar as eleições, mas também os banqueiros de Wall Street que são frequentemente escolhidos para posições de poder.
O mundo enfrentou duas das maiores crises das últimas décadas em quatro anos, e tanto na crise financeira de 2008 como na tragédia grega, o Goldman Sachs foi alvo de acusações de actuações menos correctas. Começando por Atenas, o Goldman Sachs ajudou, a partir de 2002, a Grécia a encobrir os reais números do défice, através de ‘swaps' cambiais com taxas de câmbio fictícias, o que na prática permitiu a Atenas aumentar a sua dívida sem reportar esses valores a Bruxelas. Segundo o "Der Spiegel", o banco cobrou uma elevada comissão para fazer esta engenharia financeira e, em 2005, vendeu os ‘swaps' a um banco grego, protegendo-se assim de um eventual incumprimento por parte de Atenas. No início de 2010, os analistas do Goldman recomendaram aos seus clientes a aposta em ‘credit-default swaps' sobre dívida de bancos gregos, portugueses e espanhóis. Os CDS são instrumentos que permitem ganhar dinheiro com o agravamento das condições financeiras de determinado país. É um escândalo que os mesmos bancos que levaram para a beira do abismo ajudaram a falsear as estatísticas.
As autoridades europeias e a SEC abriram investigações ao logro das contas gregas, mas isso não impediu que Petros Christodoulou, um antigo empregado na divisão de derivados do Goldman, assumisse em Fevereiro de 2010 o cargo de director da entidade que gere a dívida pública grega. Além disso, o Goldman tem ajudado o Fundo Europeu de Estabilização Financeira a colocar dívida para financiar Portugal e Irlanda ao abrigo do programa de assistência financeira. O FEEF justifica a escolha com o alcance global do banco.
É nos EUA que há mais sinais de raiva contra o Goldman Sachs, onde o Ocupy Wall Street se manifestou recentemente à frente do banco, que chegou mesmo a ser condenado por fraude pela SEC por estar a apostar contra instrumentos ligados ao mercado imobiliário, ao mesmo tempo que vendia esses mesmos instrumentos aos seus clientes. Além disso, recorreu a fundos públicos e foi acusado de ser beneficiado com o resgate da AIG, coordenado pelo Tesouro dos EUA, liderado na altura por um antigo presidente do Goldman. Os banqueiros e traders de Wall Street foram recompensados por tomarem riscos elevados com o dinheiro de outras pessoas. Como consequência, os bancos foram salvos e os banqueiros receberam os seus bónus de milhões de dólares.
Uma das respostas aos que acusam o Goldman de dominar o mundo financeiro é que, afinal, o banco também sofre com a crise. Porém, em 2010 e 2009, conseguiu receitas de 39,2 mil milhões de dólares e de 45,2 mil milhões de dólares, respectivamente. Mais de 35% destes valores foram utilizados para pagar bónus aos seus empregados. O salário e bónus do presidente do banco, Lloyd Blankfein, situou-se em 13,2 milhões de dólares no ano passado.
Alessio Rastani, um ‘trader' em ‘part-time', defendeu em directo na BBC que não eram os governos que mandavam no mundo, mas sim o Goldman Sachs e transformou-se num fenómeno. O Goldman Sachs é uma escola que permite a muitos economistas e gestores atingir cargos de poder um pouco por todo o mundo. Alguns exemplos: Hank Paulson, antigo secretário de Estado do Tesouro dos EUA.Saiu da liderança do Goldman Sachs para ser secretário de Estado do Tesouro durante a administração Bush. Paulson delineou o programa de ajuda à banca durante a crise financeira de 2008, que também resgatou o Goldman; Mario Draghi, presidente do BCE. Foi director-geral da Goldman Sachs International entre 2002 e 2005; Romano Prodi, antigo presidente da Comissão Europeia. Esteve no Goldman nos anos 90. A ligação valeu-lhe críticas da Oposição quando rebentou um escândalo a envolver o Goldman e uma empresa italiana; Robert Zoellick, anterior presidente do Banco Mundial. Foi director-geral do Goldman. Antes de se juntar ao banco tinha trabalhado no Departamento do Tesouro norte-americano; António Borges, ex-director do Departamento Europeu do FMI e actual consultor de Passos Coelho para as privatizações. Foi vice-presidente e director-geral do Goldman entre 2000 e 2008, E Após sair do banco foi da associação que delineia a regulação dos ‘hedge funds'. Em Outubro de 2010, foi nomeado director do FMI para a Europa; Carlos Moedas, Secretário de Estado adjunto do Primeiro Ministro.Após acabar o MBA em Harvard, no ano 2000, o actual responsável pelo acompanhamento do programa da ‘troika' foi trabalhar para a divisão europeia de fusões e aquisições do Goldman Sachs. Saiu do banco em 2004.
Estes são os raptores do futuro dos povos, a face negra da finança que canibaliza os povos e que envia os seus testas de ferro para que o domínio mundial dos grupos se sobreponha ao dos países. Força e vontade para impor transparência na governança mundial num quadro destes. Haverá?

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