sexta-feira, 11 de maio de 2012

O cerco ao poder local


Uma das consequências laterais da crise no nosso sistema político é o desmoronar da ilusão de um poder local forte e descentralizado.
Mal visto do Terreiro do Paço, que para cima dele lançou subrepticiamente o anátema de sede da corrupção e palco de interesses pouco controlados- como se Lisboa fosse exemplo para alguém- temos agora o novo garrote em nome (uma vez mais e sempre ele) do sacrossanto memorando da troika, mais sagrado que a Bíblia e os Dez Mandamentos para a pacóvia classe política que há décadas nos (des)governa.
O novo ataque surge pelo flanco financeiro, com a redução de transferências do OGE, a Lei de Compromissos, a suspensão de fundos comunitários, o corte no IMI ou a decisão antidemocrática e vinda de cima de cortar nas freguesias, dirigentes e empresas municipais.
Onde fica o dito Poder Local Democrático no meio disto? Não existe uma legitimidade eleitoral semelhante entre quem foi eleito para governar o país e a autarquia local? Ou o voto do cidadão que vota para a câmara e a junta é menos válido que o outro, num desrespeito pelos eleitores, tornando os eleitos mangas de alpaca com o verniz de terem sido sufragados para nada poder fazer?
A desculpa é a situação financeira, querendo penalizar-se as autarquias por terem feito aquilo para que os vários fundos estruturais e QREN’s as convidaram, tal como hoje se quer penalizar as pessoas por se terem endividado ouvindo os cantos de sereia dos bancos, que as várias políticas económicas aplaudiram e promoveram no tempo do dinheiro barato. Porém, está em curso uma ofensiva contra o municipalismo e o essencial da organização territorial secular do país, que é o cimento do seu contrato social e cujo desmoronamento pode significar um implodir do sistema político, mais grave que o provocado pela purulenta austeridade imposta por Berlim.
Ou se trava a sério esta deriva ou surpresas como as da Grécia podem surgir por esse país nas próximas autárquicas ou mesmo antes delas. Não esquecer que a Maria da Fonte foi em Portugal, e por muito menos.

1 comentário:

  1. Bom, convenhamos que os autarcas puseram-se a jeito...Esturraram o que tinham e principalmente o que não tinham e, pior, querem continuar a gastar como se isso da crise não fosse nada com eles...

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