domingo, 24 de julho de 2011

O Índice de Felicidade Bruta


As Nações Unidas aprovaram esta semana uma proposta do pequeno reino do Butão no sentido de ser admitido o conceito de medição da Felicidade Interna Bruta (FIB) em contrapartida ao Produto Interno Bruto (PIB). O conceito nasceu em 1972, elaborado pelo rei Jigme Singya Wangchuck, e desde então, o reino de Butão, com o apoio do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), começou a colocar esse conceito em  prática, e atraiu a atenção do resto do mundo com a sua nova fórmula para medir o progresso de uma comunidade baseado na premissa de que o objectivo principal de uma sociedade não deveria ser só o crescimento económico, mas a integração do desenvolvimento material com o psicológico, o cultural e o espiritual. São as seguintes as premissas da medição:BEM-ESTAR PSICOLÓGICO- Avalia o grau de satisfação e de optimismo que cada indivíduo tem em relação à sua própria vida. Os indicadores analisam a auto-estima, sensação de competência, stress e actividades espirituais. SAÚDE- Mede a eficácia das políticas de saúde, com critérios como auto-avaliação da saúde, invalidez, padrões de comportamento arriscados, exercício, sono, nutrição, etc. USO DO TEMPO- Este é um dos mais significativos factores na qualidade de vida, especialmente o tempo para o lazer e socialização com família e amigos. A gestão equilibrada do tempo é avaliada, incluindo tempo no trânsito, no trabalho, nas actividades educacionais, etc. VITALIDADE COMUNITÁRIA- Examina o nível de confiança, a sensação de pertença, a vitalidade dos relacionamentos afectivos, a segurança em casa e na comunidade, a prática do voluntariado. EDUCAÇÃO- Leva em conta factores como participação em educação formal e informal, competências, envolvimento na educação dos filhos, educação ambiental, etc. CULTURA -Avalia as tradições locais, festivais, valores nucleares, participação em eventos culturais, oportunidades para desenvolver capacidades artísticas, e discriminação por causa de religião, raça ou género. MEIO AMBIENTE: Mede a percepção dos cidadãos quanto à qualidade da água, do ar, do solo, e da biodiversidade. Os indicadores incluem acesso a áreas verdes, sistema de recolha de lixo, etc. GOVERNANÇA- Avalia como a população vê o governo, os media, os tribunais, o sistema eleitoral, e a segurança pública, em termos de responsabilidade, honestidade e transparência. Também mede a cidadania e o envolvimento dos cidadãos em decisões e processos políticos. PADRÃO DE VIDA: Avalia o rendimento individual e familiar, a segurança financeira, o nível de endividamento, a qualidade das habitações, etc.

Desde o início do século XXI, as Conferências Internacionais sobre FIB começaram a ser promovidas primeiro no Butão, depois na Nova Escócia, no Canadá (2005) Bangkok ( 2007) Butão (2008) e no Brasil em 2009. Durante esse período também, o Centro para Estudos do Butão, sob o patrocínio do Programa para o Desenvolvimento Económico das Nações Unidas, juntamente com um grupo de especialistas internacionais, desenvolveu um indicador de FIB para medir esse conceito, quantitativa, qualitativa e estatisticamente. Baseando-se na premissa de que medições de bem-estar de natureza subjectiva são tão importantes como as medidas de consumo do PIB, o bem-estar ou a felicidade de uma população é analisado pela medição dos factores que levam a esse estado. Uma nova disciplina tem sido recentemente desenvolvida, chamada Hedónica e desenvolvida pelo psicólogo Daniel Kahneman, que ganhou o prémio Nobel da Economia em 2002. De acordo com esses estudos, até um certo nível de riqueza, o sucesso material de facto traz mais felicidade, quando uma pessoa progride de um estado de absoluta pobreza e miséria até uma vida confortável e um certo grau de luxo. Contudo, após um certo ponto, mais bens materiais não trazem mais satisfação. O que importa a esta altura são os factores não materiais, tais como companheirismo, famílias harmoniosas, relacionamentos amorosos, e uma sensação de viver uma vida significativa. As pesquisas sobre felicidade definem-na a combinação de três aspectos: o grau e a frequência de sentimentos positivos; o nível médio de satisfação que a pessoa reporta durante um período mais alongado de tempo; e o grau de ausência de sentimentos negativos. Até recentemente os cientistas sociais evitavam discutir o tema da felicidade porque acreditavam que seria muito difícil medi-la. Mas nos últimos anos as pesquisas hedónicas tiveram um crescimento exponencial, com mais de 27 mil artigos publicados em jornais científicos só nos últimos 2 anos. Novas ferramentas, como ressonâncias magnéticas funcionais e medição de níveis hormonais, têm permitido que os cientistas vejam quais as áreas do cérebro que se tornam activas sob determinadas circunstâncias quando alegamos estarmos felizes. Assim, os cientistas actualmente medem a felicidade sob diversos ângulos: através de tomografia cerebral, electromiografia facial, níveis hormonais, etc. E  também fazem uso de questionários que avaliam o bem-estar subjectivo e que podem e devem ser usados apara mapear políticas públicas visando a qualidade de vida da sociedade. Em síntese, o FIB é um catalisador de mudança, um processo de mobilização social em prol do bem-estar colectivo e do desenvolvimento sustentável. Também é um processo de consciencialização das lideranças locais para a formação de parcerias entre os principais sectores da sociedade: governo, empresas, cidadania e academia, visando o bem-estar social e a felicidade de todos. A recente matança na Noruega pode ser um case study: tendo o maior PNB do mundo, qual o real índice de FIB numa sociedade onde os bens materiais não são a primeira preocupação das pessoas? Afinal, também há noruegueses infelizes…

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