quarta-feira, 3 de julho de 2013

A tragédia grega



E eis que o fogo chegou à Acrópole sob a forma de tragédia, com traição, suspense e fraqueza humana que baste para garantir um final infeliz, como convém a qualquer tragédia.
Pior é que no corifeu estão dez milhões de figurantes, ululando ante os punhais ameaçadores, o incesto edipiano e a cicuta que nos querem dar a beber, agora que se sabe que a maratona não vai chegar ao fim.
Vencidos os convencidos, a outros convém encontrar que sejam convincentes, reorganizando os exércitos e marchando sobre Esparta. Mas aos reis gregos se impõe que busquem alianças antes de nova batalha, para que falada a democracia se possa em paz e sem desafio a Zeus seguir no governo da polis. Sem isso, os ventos éolos soprarão inclementes sobre as tágides, sob o olhar inclemente dos sátiros, E se catarse pode haver, será a dos indignados no Olimpo das redes sociais ou fartos das sopas dos pobres em qualquer banco alimentar.
Na tragédia lusa há em arena deuses, reis e heróis, como em qualquer tragédia. Os deuses da usura e da trilogia financeira, holográfica presença do Olimpo, no seu vulcão enfurecido; os reis desavindos, capturados pela soberba e narcisismo; e os heróis, os sacrificados da ágora, escravos e metecos duma pólis madrasta, invadindo as ruas e os templos da suposta democracia.
Prólogo houve ante um outro Sócrates, peripatético arauto de grandes obras e émulo de Roma e Atenas, caído às mãos dum arconte após beber da cicuta usurária, a que se seguiram dois anos de um doloroso episódio, para agora se chegar ao êxodo: dos personagens, em covarde debandada, e do coro ululante, com seus pároclos e estásimos. Cabe agora encenar nova peça, sem édipos ou bacantes, e onde o coro assuma lugar central e o final seja de esperança, com um regresso a Ítaca pondo fim à dor das penélopes e telémacos da tágide tragédia.


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