O 25 de Abril foi há 38 anos e está já intimamente associado ao nosso imaginário enquanto grande evento histórico ocorrido no período de vida das actuais gerações, muitas ainda contemporâneas do mesmo. É pois uma festa popular, um marco e um sinalizar da renovação da esperança no nosso destino colectivo, para aqueles que nele se revêem e o olham como momento fundador do actual regime. Vertido numa Constituição política e num sistema livre e democrático, de cariz ocidental, assume relevo na iconografia simbólica do regime vigente e nele razoavelmente vivemos nas últimas quatro décadas. Contudo, se a matriz democrática se dá como adquirida e estabilizada, embora com defeitos e lacunas, a vertente de conquista de direitos inerente aos progressos civilizacionais no mundo do trabalho e da economia da solidariedade que dele resultou, tem vindo a ser perigosamente desvalorizada e espezinhada. Ora, sem dignidade inerente à existência de emprego e protecção social, nenhum cidadão pode ter como adquirido e livre o exercício dos seus direitos, que humilha as pessoas na sua dignidade e subsistência, e às quais se fazem orelhas moucas em nome duma inevitabilidade económica que não é inevitável, e contra a qual não se reage de forma patriótica e pondo sempre os portugueses primeiro.
Nesse sentido, são compreensíveis as opiniões daqueles que se recusam a participar não na celebração desse longínquo Abril, que a muitos está no coração e na memória, mas na ritual e desinteressante celebração de uma data que a muitos dos que na primeira fila se sentam incomoda e na qual não se revêem, e que teriam já suprimido da lista de feriados não fosse a proximidade emocional para muitos portugueses ainda.
Celebrar o 25 de Abril deve ser um acto livre na consciência de cada um, e melhor será que não se participe só para compor o ramalhete que ajudar à encenação duma opereta num país que, formalmente democrático, já não é de Abril, porém. Mas, como a História se repete muitas vezes, ao contrário do propalado por alguns, adaptando as palavras do poeta, as portas que Abril abriu, alguém um dia as tornará a abrir. Ainda que ao longe, há que não esquecer que é sempre azul o céu por trás das nuvens.
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