quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

D. Fernando II contado às crianças




Os pássaros estavam a chegar, chilreando, pareciam tocar a rebate, despertando as flores perfumadas. Ruidosos, os bandos regressavam, comandados por ruidosas andorinhas, voltando do Inverno Branco, exércitos de borboletas invadiam os ares em  sagração, poisando nas pétalas bafejadas por generosos raios de sol.

No alto do penedo, Fernando, que o destino fizera rei de Portugal, contemplava contente os gamos e colibris, as libelinhas e os lagartos, toda a Floresta colorida que um dia plantara ao chegar à sua nova terra.

Fernando era um príncipe do Norte e casara com a rainha de Portugal. Ao chegar ao seu novo país, de céu azul e mar imenso, logo a floresta de Sintra o atraiu, aí se esconderiam bruxas e duendes, criaturas sinistras e coelhos bravos, e, pondo mãos à obra, juntou os jardineiros do palácio, mandou vir sábios de fora e dedicou-se a plantar, a semear, a fazer crescer novas plantas e árvores que, contentes e alegres, brotavam como feijoeiros encantados subindo em direcção ao céu.

Aí passou a ser o seu refúgio e contente passeava a cavalo, espantando os coelhos saltitantes, sempre rodeado de pássaros que o reconheciam e vinham saudar.

Nas aldeias do Reino, as terras pediam sementes, e as árvores folhagens, os chilreios nos beirados prometiam fertilidade, o toque de uma flauta acompanhava o rei nos seus passeios, logo em coro acompanhado pelos rouxinóis e toutinegras.

Gostando mais da floresta que da vida na cidade, decidiu o bom rei Fernando fazer um palácio no alto daquela serra verdejante, algo que lhe lembrasse o seu país natal, lá longe, e encontrou o lugar no cume da serra de Sintra. Uma ruína abandonada inspirou-o e decidiu: seria ali o lugar. Chamou pedreiros e arquitectos, e ele mesmo passou a traçar os planos para o novo palácio, o mais belo que alguma vez se vira neste reino, onde o vento do mar chegava refrescante e limpo. Vários anos levou nesse trabalho, até que um dia, o palácio ficou pronto, imponente e colorido. Mas o bom rei Fernando, a quem os anos foram passando, não descansou, e mandou vir plantas de terras estranhas, flores coloridas, construiu lagos e estufas, e pequenos cantos onde pintava e passeava, longe da corte e das intrigas.

O povo gostava do rei Fernando. Era um artista, não gostava de ver as igrejas e palácios em mau estado, queria que os meninos soubessem ler e escrever, que não passassem fome e pudessem brincar e correr na floresta. Ele mesmo às vezes brincava com eles, ou os levava no seu cavalo, a mostrar a serra e os lagos. E assim foi envelhecendo, feliz.

Um dia a rainha morreu, e Fernando ficou sozinho, cada vez mais retirado para o palácio em Sintra. Mas não foi por muito tempo. Certo dia, uma bela jovem, vinda da sua terra natal, apareceu na cidade, a cantar belas melodias, e canções de encantar. E Fernando, que já se conformara a viver só, dedicado a Sintra e ao seu palácio, voltou a ser feliz. E nos jardins do palácio mandou fazer uma casa mais pequena, onde nas noites de Verão Elisa, a jovem que o encantara, e Fernando, juntavam os amigos e cantavam, felizes, respirando o ar perfumado da serra à sombra da Lua Cheia, uma Lua que só havia em Sintra e que, sempre que Fernando a mirava lhe parecia sorrir, brilhando intensamente.

Fernando partiu, já velho, e muitas das plantas e árvores que em Sintra plantou ainda lá estão, sentinelas ao serviço do seu senhor, e os meninos de hoje, ao vê-las, sorriem, lembrando o velho rei e o seu carinho pela  terra que, vindo de longe, acarinhou e venerou.

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