2014 chega ao fim com grande
imprevisibilidade sobre o futuro da economia, bem como sobre a paz mundial.
Conflitos da Rússia com a Ucrânia, depois da deposição de Yanokovitch e a
degradação das suas relações com o Ocidente, derivada da anexação da Crimeia e
sublevações no leste do país,a continuação dos conflitos em Israel e em Gaza, no Iraque,
Síria e Afganistão, com a emergência de fenómenos como o do Estado Islâmico, o
mistério do abate e desaparecimento de dois aviões da Malaysia Airlines, o
esmagamento da frágil democracia egipcia com a “eleição” do general Sissi, o
surto de ébola, os referendos na Escócia e Catalunha, ou o golpe militar na
Tailândia. Tudo sinais preocupantes, num quadro de debilidade da recuperação
económica e descrença nos sistemas representativos, como a emergência dos
partidos anti-sistema ou radicais na Europa o reforça e demonstra. De positivo, deixaria o
papel do Papa Francisco, e como momento alto do ano o seu discurso no Parlamento
Europeu, a favor do trabalho e da dignidade da vida humana, a soçobrar no
imenso cemitério que o Mediterrâneo vem sendo, e o Prémio Nobel da Paz para a
jovem Malala. Destaque ainda para a abdicação do rei Juan Carlos, a eleição de
Dilma no Brasil e a chegada de Juncker à Comissão Europeia.No obituário do ano,
lembrar a morte de Ariel Sharon, Adolfo Suarez, do general Jaruselski , Eduard
Schevardnadze, Ian Paisley ou Jean Luc Dehaene.
No plano nacional, depois do ano ter começado com o trauma da morte de Eusébio,
tivémos o adeus à troika, com a chamada “saída limpa”, e daí em diante, tudo
parece ter descambado: a recuperação tem sido débil e inconsistente, o Tribunal Constitucional, contra
a vontade do governo, garantiu o que devia garantir, a legionella atacou a
norte de Lisboa, e os tentáculos da corrupção num Estado débil e clientelar
vieram à tona, com os casos BES, Vistos Gold, Sócrates, ou a vergonha da adesão
da Guiné Equatorial à CPLP. António Costa rendeu Seguro, Semedo afastou-se da
direcção do BE e a selecção desiludiu, obrigando a trocar Bento por Fernando Santos.
De positivo, a elevação do cante alentejano a Património da Humanidade, a Bola
de Ouro de Cristiano Ronaldo, e, para quem é do Benfica, as três taças ganhas
este ano pela equipa de Jorge Jesus. Morreram D. José Policarpo, Emidio Rangel,
Medeiros Ferreira, Veiga Simão e Alpoim Calvão, entre os mais conhecidos, à
esquerda ou à direita.
No plano da Cultura, sempre no fio da navalha, tivemos a saga dos quadros
de Miró e o adiamento de grandes projectos, como a abertura do Museu dos Coches
ou a regulamentação da Lei do Cinema. Carlos do Carmo recebeu um Grammy Latino,
Sophia foi trasladada para o Panteão, e deixaram-nos grandes nomes como Claudio
Abbado, Pete Seeger, John Philip Seymor, Paco de Lucia, Alain Resnais,Gabriel
Garcia Marquez, Vasco Graça Moura, Charlie Haden, Paul Mazursky, Nadine
Gordimer, Loreen Maazel, João Ubaldo Ribeiro, Robin Williams ou Lauren Bacall.
2015 trará os 600 anos da conquista de Ceuta, quando em Sintra se deu início à saga da nossa expansão
marítima, e os 40 anos da descolonização, que pôs termo a esse período de 560
anos, bem como eleições legislativas no Outono, o desenvolvimento dos casos mediáticos
na justiça, e a insegurança de não saber para onde vamos, neste mundo em cacos,
onde a verdade de Pirro e a opacidade dos “mercados” continuarão a dominar um
não tão admirável mundo novo. Eis a selfie possível deste 2014, tristonha e desfocada,
onde só o Papa Francisco e Malala parecem sorrir a um canto, um sorriso
amargurado, mas ainda assim de esperança.
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