Quando era criança, não obstante as exaltações patrioteiras do Estado Novo em torno duma História de Portugal épica e monumental, habituei-me na escola a com prazer celebrar o 1º de Dezembro, data gloriosa recordando o dia em que Portugal ao fim de 60 anos de ocupação espanhola recuperara a independência de país secular e orgulhoso. Bandas saíam à rua, entoando o Hino da Restauração, e, sobretudo no Alentejo, baluarte da resistência nacional nesse período (que culminou com a Batalha das Linhas de Elvas, onde um Ribafria de Sintra se sagrou herói da independência) onde o 1º de Dezembro sempre teve um sabor especial, com colchas às janelas, ruas engalanadas e bandas desfilando alegremente. Não foi por acaso que logo de seguida Nossa Senhora da Conceição foi consagrada como padroeira de Portugal e os reis portugueses deixaram de ser coroados.E era também ocasião para demonstrar que apesar de hoje nada nos dever opor a “nuestros hermanos” sempre nos conseguimos afirmar no contexto peninsular como Nação orgulhosa de oitocentos anos, quando muitas comunidades do lado espanhol não conseguiram vingar, da Catalunha à Galiza, das Astúrias a Leão.
Nestes
tempos de penoso e vil viver, é sintomático que a obsessão economicista
e redutora dos contabilistas que em nome dos agiotas nos governam, não
contentes com levarem o país à ruína, queiram também destruir a sua base
moral unificadora, atacando os símbolos, e significativo é que não
havendo mais nada para fazer, se lembrassem de suprimir feriados, e
entre esses o do 1º de Dezembro. Isto é, Portugal, que já não tem um dia
que celebre a independência, deixa de celebrar aquele em que depois de
um hiato de 60 anos a retomou. Mostram assim os governantes ter vergonha
de um Portugal independente, humilhado agora na sua dignidade pela
dolosa incompetência dos novos Miguéis de Vasconcelos mandados pela
aviltante troika, e pela nova Duquesa de Mântua, a seráfica Angela da Prússia.
Há
gestos que gritam e flagelam, e aos poucos deixarão de existir
portugueses em Portugal e apenas contribuintes a cujos bolsos assaltar
sem pudor, descamisados à mercê do Banco Alimentar, e traidores cujos
nomes nem numa lápide de cemitério deveriam constar. Ah Portugal,
Portugal..., como diria o Jorge Palma.
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