domingo, 4 de março de 2012

Na partida de Dalila Pereira da Costa




«Pois o que vejo neste instante de passagem, é a presença de dois mundos, separados, irredutíveis (contíguos no espaço e sincrónicos no tempo?): o mundo profano onde estava há pouco e o mundo divino onde penetrei subitamente, e que subitamente me envolveu totalmente. Me envolveu e separou do mundo onde estava no momento imediatamente precedente, e que agora era exterior e distante:invisível e inexistente. Aí onde penetrei, era uma esfera de cristal, onde tudo era luz e silêncio - tudo isso que subitamente veio e me envolveu. Esfera feita duma substância poderosamente dura e frágil. Irradiante e geometricamente definida. Fremente e calma: a verdadeira vida nesse lugar desvendada. Impondo-se por uma potência irresistível, uma autoridade incontestável; mas vulnerável, susceptível de ser posta em fuga à menor falta da minha parte.»
A Força do Mundo, Dalila Pereira da Costa

Dalila Pereira da Costa, oriunda de uma família do Douro, nasceu no dia 4 de Março de 1918, tendo falecido no passado dia 2 aos 94 anos. Dalila Pereira da Costa foi uma pensadora e uma poeta que, nas suas obras, privilegiou o arquétipo, o símbolo e a saudade como meios de realização espiritual, tendo sido uma pensadora fundamental da filosofia portuguesa, corroborando a ideia de que Portugal, enquanto país messiânico, possui a chave que abre a porta dos mistérios humanos. A postura de Dalila Pereira da Costa foi própria de quem, como ela, esteve mergulhado numa tradição e num passado profundíssimos e neles se inspirou para olhar e cuidar do Futuro. Dalila deu à Saudade uma atenção especial, como única categoria ontológica e escatológica capaz de driblar a morte e conferir a imortalidade. Agora que partiu, tempo para ler ou reler as suas obras.

Bibliografia: O esoterismo de Fernando Pessoa (1971)A força do mundo (1972) Encontro na noite (1973)Duas epopeias das Américas (1974)Introdução à Saudade (1976) A nova Atlântida (1977)A nau e o Graal (1978)Orpheu, Portugal e o homem do futuro (1978) A cidade e o rio (1982 ) Elegias da terra-mãe (1983) Da serpente à imaculada (1984) Místicos portugueses do século XVI (1986) Gil Vicente e sua época (1989)Os sonhos: porta de conhecimento (1991)O novo argonauta (E a Ilha Firme) (1996)Entre desengano e esperança: ensaios portugueses (1996)D. Sebastião, El-Rei ungido: Rei eleito (1996)Os instantes nas estações da vida (1999)Dos mundos contíguos (1999)Mensagens do Anjo da Aurora (2000)As Margens Sacralisadas do Douro Através de Vários Cultos (2006)

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