Encontra-se
em discussão pública por um prazo de 20 dias úteis e até dia 7 de dezembro de
2015 o projecto do Plano de Pormenor da Praia Grande, o qual pode ser consultado na página
electrónica da autarquia- http://www.cm-sintra.pt/planos-em-elaboracao#plano-de-pormenor-da-praia-grande
A Praia
Grande do Rodízio é uma zona emblemática do litoral do concelho de Sintra,
procurada por nacionais e estrangeiros para turismo, desporto e lazer, rodeada
de zonas habitacionais esparsas e de equipamentos- ou falta deles- a carecer de
uma adequada definição de usos, ocupações e revitalização tendo em conta os
desígnios de um correcto ordenamento. Desde que a 17 de Junho de 1961 aí abriu o
Hotel das Arribas, mais tarde seguido das piscinas oceânicas, que a zona se
desenvolveu a par da vizinha Praia das Maçãs, surgindo equipamentos como o
Parque de Campismo, a colónia de férias da CP e unidades de restauração, muitas
sem ordenamento e de origem irregular e que até hoje subsistem.
O
ordenamento da Praia Grande impõe a definição de escala, isto é, a opção a privilegiar
deverá passar por construções e equipamentos de dimensão média, ambientalmente
enquadrados e sem excessos de ocupação, refutando qualquer veleidade de “algarvização”
da zona, já de si pululada por construções de vilegiatura algumas dos anos 50
e 60, de cariz “português suave”, outras em clara afirmação dum certo novo riquismo
dos anos noventa, dissonantes e impositivas.
São precisas
zonas pedonais e cicláveis, zonas arborizadas e de lazer, parques periféricos
discretos e transportes públicos adequados e dissuasores da ditadura do automóvel.
E uma clara definição da escala, usos e vertentes dos equipamentos turísticos a
requalificar ou a erigir de novo.
Desde 2008
que a Câmara de Sintra vem trabalhando num quadro de ocupação para a designada
UOPG 6 do Plano de Ordenamento da Orla Costeira Sintra-Sado, que tanto tarda em
trazer definições, assim arrastando a cacofonia urbana a que se assiste na zona
das praias, e de que a Praia das Maçãs é um exemplo deprimente ainda maior, e o
projeto ora apresentado tem a virtude de pela primeira vez apresentar propostas
concretas (o POOC, relembre-se, é já de 2004!) e criar condições para que
promotores, munícipes e visitantes saibam com o que podem contar.
Na zona
estudada coincidem o sítio arqueológico designado Alinhamentos de Alconchel, as
jazidas paleolíticas da Praia da Adraga, a jazida de pegadas de dinossáurios da
Praia Grande, o santuário romano do Alto da Vigia, bem como, ainda em plena
zona de Paisagem Cultural da UNESCO, a Quinta do Mar. O plano ora proposto é
equilibrado ao propor a manutenção da morfologia dos edifícios, apenas
permitindo demolições integrais em caso de ruina iminente ou dissonantes, mas algumas
propostas merecem particular atenção e discussão.
O Parque de
campismo existente, por exemplo, é demonstrativo da emergência na definição de
opções claras e sem rodeios para o local. Abandonado há alguns anos, nunca
legalmente licenciado nas décadas em que funcionou, para lá se prevê um
equipamento campista e caravanista de 4 estrelas, no mínimo, com índice de ocupação
de 0,06, tipologia de construção não excedendo 1 piso, exclusão de instalações
destinadas a fins habitacionais, e previsão de 1 lugar de estacionamento por
campista, o que, ao consagrar que o local não se destine a outros fins pode
permitir enfim a concretização dum projeto de qualidade que tanta falta faz no
concelho de Sintra.
Já no que
concerne ao Hotel das Arribas, procura-se que não surjam mais pisos do que os
existentes, a piscina permaneça no universo da oferta hoteleira, e qualquer
ampliação não exceda em 25% a área bruta de construção das pré- existências.
Para a Quinta do Mar, outro equipamento com algumas indefinições nos últimos anos,
está preconizado um índice de ocupação de 0,10, máximo de 3 pisos acima do
solo, e máximo de 40 camas por hectare. Na zona balnear, apenas estão
contemplados usos de fim turístico e apoio balnear, máximo de 2 pisos e
ampliações até um máximo de 25%.
Está ainda
prevista (ou pelo menos admitida) a construção de dois parques de
estacionamento, um Centro de Acolhimento Temporário S. João de Deus e um apoio
balnear, e na área das habitações dispersas não se permitirão construções com
área superior a 250 m2 e com cércea superior a 6, 5 m.
No plano dos
investimentos, afigura-se-me dever ser feita uma aposta, com o concurso de
comerciantes, hoteleiros e futuros promotores, na concretização de um desenho
urbano pedonal ou ciclável de qualidade, na concretização de sanitários
públicos com asseio e acessíveis, na arborização de zonas de sombra e na
criação dum núcleo de apoio a desportos de fruição e ocupação por desportistas
e suas associações, visando o desenvolvimento dessas actividades, bem como um
espaço de educação ambiental a utilizar todo o ano e não só nos períodos
balneares. A harmonização de coberturas, estores, materiais ou dimensão dos
muros de vedação parece igualmente de saudar, procurando pôr fim à ideia de “bunker”
que muitas construções apresentam.
Um ponto
importante e que muitas vezes os planeadores não contemplam, é a necessária
abertura para que não se blinde a possibilidade de legalizar as pré-existências
produto doutras épocas e que se consolidaram na paisagem, não a distorcendo ou
respeitando. É sabido que a sobreposição de entidades e planos durante anos
conduziu a que muitas construções esbarrem ainda na falta de uma licença de utilização
que estabilize a relação dos proprietários de boa fé com a administração local
que se limite a uma aplicação literal e semântica da lei, e momentos como os do
planeamento virtuoso devem ser aproveitados para apontar o futuro e não
insistir na perseguição a patologias que não só não foram combatidas
atempadamente, como se consolidaram com os anos sem ofensa de interesses
primários do ordenamento. Mais que acentuar os “pecados”, devem os planos
apontar soluções, resolver problemas e serem eles próprios momentos de redenção
e nova partida.
Razões pois
para apelar à participação de todos, munícipes, associados da Alagamares, amigos
das praias de Sintra e cidadãos empenhados
na discussão e apresentação construtiva de propostas para que a Praia
Grande possa ter uma carta de progresso à altura da beleza do seu areal e da
pujança da serra sobranceira.
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