quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A tarefa dos indignados


A diversos níveis, a sociedade movimenta-se contra a persistente inconsistência de um sistema que ou se reforma ou morre. Sejam personalidades, agora reunidas em torno dum apelo encabeçado pelo milionário George Soros, sejam os movimentos pan-europeus que no dia 15 de Outubro um pouco por toda a parte vão protestar contra o actual estado de coisas, passando do nosso Movimento 12M ao Ocuppy Wall Street vindo do outro lado do Atlântico, há um mal estar geral e o sentimento que a crise veio para ficar e não é hoje redutível a casos pontuais como a Grécia ou a crise do subprime. Contudo, ponto fraco em todo este movimento é o seu carácter inorgânico, naif e utópico, o cheiro a Maio de 68 em 2011 sabendo nós que em si o Maio de 68 nada mudou a não ser o imaginário de muitos e generosos jovens de então.
A crise é profunda e só se resolve a partir de dentro. É pelo poder e dentro dele que a reforma das instituições, sobretudo as transnacionais pode produzir resultados num mundo globalizado como é o nosso. Para isso, importa que os movimentos inorgânicos sejam partidos e movimentos dispostos a disputar o poder, mudar as regras e trazer a força da opinião pública para os centros de decisão mais que para a abertura dos telejornais.
O euro tem de ser reformado, a governação económica mundial também. Mas alguém acredita que os banqueiros, verdadeiros condutores das políticas deixarão que essa reforma se faça em prol dos países em dificuldades ou do crescente exército de desempregados? O alegado projecto europeu morreu e nem os países em dificuldades resolverão os seus problemas com as regras actuais nem os descamisados de hoje mudarão o que quer que seja se não derem o passo seguinte que é criar alternativas e apontar soluções. A assim não ser tudo ficará na mesma, com mais ou menos folclore. Mais que acampados precisam-se de levantados e bem mexidos, não a partir montras mas a conquistar indecisos, impor caminho aos políticos do sistema, derrotá-los nas urnas e nos centros de decisão. E tal é uma tarefa por fazer, transversal e universal, o verdadeiro desígnio destes anos de chumbo.

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