quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Sintra, Cidade Criativa


Amarante, Barcelos e Braga foram designadas como Cidades Criativas pela UNESCO. Braga na categoria de Artes Mediáticas, Barcelos na categoria de Artesanato e Arte Popular, e Amarante na categoria de Música. A Rede de Cidades Criativas da UNESCO foi criada em 2004 para fortalecer a cooperação entre cidades que consideram a criatividade um fator estratégico de desenvolvimento urbano sustentável com impacto social, cultural e económico. Em Portugal havia até aqui dois concelhos com a classificação: Óbidos, no domínio da literatura, e Idanha-a-Nova, na música. E Sintra, porque não?
Sintra conta com um vasto capital de heranças, recordações e aspirações de um lugar e capital intelectual, com as ideias e potencial inovador, a diversidade pode funcionar como factor positivo e concorrencial.
A economia criativa é hoje em dia reconhecida como um dos sectores em crescimento na actual economia global, por exemplo, no Reino Unido, as indústrias criativas criam 1.9 milhões de postos de trabalho em 121,000 empreendimentos e geram 8% do valor nacional bruto. Cinema, rádio, media digitais, música, artes visuais, teatro, arquitectura, moda, design, etc., são áreas afins à indústria criativa. As indústrias criativas também são notáveis pela permeabilidade entre o económico e o social, podendo alcançar objectivos sociais e culturais, lado a lado com as produções económicas.
Sintra tem grandes potencialidades como espaço de literacia cultural, pois cidade é comunicação na sua capacidade para reconhecer, descodificar e encontrar o significado e a essência de uma cidade. Todo o conhecimento é cultural. Valorizar a importância do subjectivo e sensorial sobre a cidade como também o conhecimento verificável e objectivo. Promover a Literacia cultural é usar o conhecimento cultural que implica um enfoque interdisciplinar trazendo múltiplas visões e uma diversidade de saberes.
Sintra pode ensinar, e nela se pode e deve aprender, e dela fazer um centro de aprendizagem criativa. Uma cidade de aprendizagem é uma cidade inteligente que reflecte sobre si mesma, apreende do fracasso e demonstra visão estratégica, repelindo aquilo a que José Gil chamou a «desactivação da acção».
As Câmaras Municipais  não devem ser programadoras de eventos culturais ad-hoc, antes devem assumir um papel de catalisadoras e facilitadoras dos processos criativos dos diversos agentes culturais, e a estes deve estar cometido o papel propulsor e não reativo da construção de Cidade.
A revitalização cultural de Sintra passa pela criação de sinergias e parcerias entre os agentes culturais dispersos apostando num critério de cidade criativa, aprofundando a conjugação de 3 linhas de força, a que Richard Florida no seu livro The Rise of the Creative Class chamou os 3 T:Talento,Tolerância e Tecnologia. Mas para quem começa por baixo, os passos a dar passam não pela proliferação de eventos culturais contratados fora, mas antes de mais, a fim de criar um espírito grupal, pela disponibilização gratuita de espaços que possam ser centros de criatividade, encontro e troca de informações, algo como os ingleses fizeram com os Fab Labs, pequenas fábricas, ateliers, estúdios onde se possam instalar associações e pequenas empresas, fomentando uma economia criativa, com equipamento digital base, maquinas de impressão, equipamento gráfico, nas mais diversas áreas e onde possa haver troca de informação. Este conceito catapultou já cidades antes adormecidas para novos paradigmas, como Sheffield, em Inglaterra, ou Helsínquia, com o seu Design Distrit. Em Amesterdão, o envolvimento de 9% da população em actividades e indústrias criativas ajudou ao crescimento do emprego. Na Suécia, a instalação de uma escola de artes circenses em Botkyrka, a 20 km de Estocolmo originou um centro de criatividade chamado Subtopia.
Chamar quem trabalha na ciência, arquitectura, design, moda, música, tecnologias e potenciar sinergias é o desafio que um espaço privilegiado como Sintra poderia agarrar. Pegue-se no Sintra-Cinema, na Portela, por exemplo, ou em instalações industriais encerradas, e com um mínimo de condições de funcionamento, nada de faraónico ou de fachada, promova-se a junção dos criadores e criativos. Afinal a Cultura também contribui para o PNB e com relevo, como o estudo de Augusto Mateus elencou. Sintra Criativa, pegando nos modelos que já estão inventados, essa sim, pode ser uma Marca, criando uma verdadeira Economia da Cultura num território onde existem condições naturais, população jovem e criativa e factores de localização que podem gerar efeitos multiplicadores.
Cabe ao sector financeiro igualmente apoiar nesse âmbito empresas startups de índole cultural, em que as firmas gestoras de fundos de venture capital podem ajudar com conhecimentos de gestão, acesso a redes de negócios e ajuda à obtenção de competências no posicionamento estratégico para a venda de produtores criativos inovadores e atracção de colaboradores. Recorde-se que o Sillicon Valey é o centro mundial de referência neste modelo. Efectivamente a par do apoio das instituições aos criadores e criativos, essencial se torna o apoio à formação de clusters tecnológicos, muitas vezes junto das universidades e centros tecnológicos com altos níveis de formação. Tais clusters e tais apoios são essenciais para estancar a fuga de cérebros, e que só apoios e um ambiente de empreendedorismo podem reverter.
É essencial que os criadores e criativos, depois das universidades ou de experiências desapoiadas entrem na esfera dos negócios, assim também atraindo a comunidade não só para a sua produção cultural como para novos nichos de oportunidade, criando empresas startup, apoiadas por parceiros estratégicos, como fundos de investimento, universidades ou as autarquias. Pode Sintra também aqui vir a mexer. Uma só palavra de ordem: mexamo-nos!

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