Ao
domingo, pela manhã, tempo de ler os jornais para
ver a opinião publicada e por vezes a partir daí passar-se a ter opinião,
já não própria, mas de acordo com as tendências.A preferência dos
leitores varia conforme a proximidade:é mais importante o
assalto da carteira da vizinha, reportado em parangonas, que o eventual
lançamento dum míssil pela Coreia do Norte.
Ao
domingo, entre a meia de leite, a leitura do desportivo, e partidas e chegadas para o centro comercial mais próximo,
todos têm os seus 5 minutos de antena:"eles" é que são os
culpados;"eles" levam "isto" ao abismo; "nós" temos de aguentar; "eles"
falharam o penálti: "nós" ganhámos.Nada é real, tudo resiste, persiste,
mas não existe se não na forma como olhamos para o Outro.E assim vamos
suspirando, vítimas "disto", por entre epifânias quotidianas onde o azul é fugidio e o cinzento paira como karma. Por culpa "deles".
Procura-se
a Verdade, cada um vai
reclamar a sua, avassalada pelo estigma e a insegurança de tempos
finitos.É longe o nirvana.
Enfim,
o mundo tem 4 ínfimos minutos,e convêm deixar alguns segundos ao
domingo de manhã para salvá-lo, entre um pão de leite e a bica
pingada, e talvez, se o Sol brilhar e o clube ganhou, um passeio a provar que é domingo.
A
serra vigia,o eléctrico passa na dolência de velho elefante,e nós
esperamos o Godot que nos há-de trazer um jornal só de boas notícias e resgate do cinzento.É mais uma bica, por favor!
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