segunda-feira, 11 de abril de 2022

Essa Utopia chamada Amizade




Chamamos amigos a todos os conhecidos com quem de forma amistosa nos relacionamos, no trabalho, no café, no ginásio, no clube de futebol, ou no ativismo, e as relações desenvolvem-se na partilha por vezes esporádica e gratuita de beber juntos um copo, dizer uma piada, praguejar contra um árbitro ou contra o governo. A forma continuada no tempo como fazemos isso faz-nos chamar amigos aos parceiros desses momentos, muitas vezes empolgados pela projeção dum ego grupal ou, se calhar, pelo álcool que a todos liberta e adormece. Gregários que somos, precisamos dessa inclusão, do abraço fácil, ontem feitos de idas ao cinema ou à discoteca, das futeboladas na rua, ou dos namoriscos de liceu, hoje filtrado pelas redes sociais e pelo preço barato de um “gosto”  que a todos faz “amigo”.


Amigos, porém, são os que, porventura tendo começado por ser conhecidos nesse contexto, souberam (soubemos) atravessar a cortina invisível das nossas personas, e olhar para eles, e eles para nós, fora das máscaras sociais com que nos projetamos, inclusive para eles (e muitas vezes, para eles, sobretudo). 

A amizade tem rituais iniciáticos, mas só quem souber ver para lá da caverna das ilusões e sentir o Ser, e não o Parecer, pode, após assentar a poeira dizer: este é um Amigo!. É um processo longo, doloroso por vezes, feito de desilusões e artifícios. Porém, quando uma centelha de Luz nascida de atos, e não só de palavras ou gestos mecânicos e previsíveis aproximar e afirmar essa cumplicidade, grandes momentos, e estradas patrulhados pelo Sol, surgirão, e os verdadeiros amigos se revelarão. A esses é consentida a frase que magoa, mas faz acordar, as lágrimas de desespero que logo um abraço limpará, ou o conselho desinteressado que pode dar força para dar um passo em frente. Eis a Grande Utopia.


Sem comentários:

Enviar um comentário