quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Dizer não antes de dizer sim


Não queremos o lítio em Montalegre, não queremos a barragem do Fridão, não queremos a dragagem no Sado, não queremos a Torre das Picoas, não queremos o prédio no quarteirão da Portugália, não queremos o aeroporto do Montijo (nem o da Ota, ou o de Alcochete) , não queremos o petróleo em Aljezur, não queremos carne de vaca, não queremos o glifosato. Como no passado não quisemos as Torres das Amoreiras (hoje Prémio Valmor) a Expo 98, o Euro 2004, o CCB, a Casa da Música, o Túnel do Marquês, o Túnel do Marão ou o Museu dos Coches. Ainda gostava de saber o que é que se faz ou fez em Portugal  que seja unânime ou desejado por todos.

Recordo aqui um trecho do final de “Os Maias”, em que, passeando por Lisboa, Carlos da Maia e João da Ega criticam o então novo obelisco dos Restauradores, que imitava Paris , mas para pior:
"- De modo que isto está cada vez pior...
 - Medonho! É dum reles, dum postiço! Sobretudo postiço! Já não há nada genuíno neste miserável país, nem mesmo o pão que comemos!"
E hoje? Alguém ousaria retirar o obelisco dos Restauradores? Como desde sempre, continuamos a reclamar do falso e do postiço, contudo, só até que a memória se desvaneça, e faça do presente o passado do futuro. 
Gritou-se contra o fim do Passeio Público, em Lisboa, hoje alguém ousa gritar contra o fim da Avenida da Liberdade? Clamou-se por fazer do convento onde em pleno Chiado se instalou o Grandella, mercantil boteco em espaço espiritual, alguém ousou não repor o Grandella depois do incêndio de 1988? Como escreveu o Padre António Vieira, “Não há poder maior no mundo que o do tempo: tudo sujeita, tudo muda, tudo acaba.”
Tudo é efémero. Omnia est unum diem durantia!


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