Decorreu a 5 de Outubro o Congresso Democrático das Alternativas, que
procurou dar respostas dum ponto de vista de esquerda à
crise em que estamos mergulhados, sobretudo, visando aliviar a canga a que o
memorando da troika está a conduzir o
país. Enquanto participante independente e crítico, afigura-se-me que a questão
essencial, terminados os trabalhos, continua por responder. Depois do protesto da rua, e do debate de
ideias (muitas erróneas, e mais próprias dum programa de governo, que a
forças políticas sufragadas eleitoralmente caberá apresentar, auscultada a sociedade) continua por definir
com que forças políticas organizadas, e em que quadro se vai avançar
para um tal desiderato. Não vale a pena fazer programas de governo, onde cabe
tudo, da denúncia do memorando às relações com a CPLP, como se dali se partisse já para um governo, sem um necessário quadro de alianças ou
de convergência definido, e, não sendo assim, passe a metáfora, estar-se-á a agir como os sábios
que discutiam o sexo dos anjos enquanto Constantinopla era invadida. Como
referiu um congressista, militar, intervindo na sessão: “se for preciso um voluntário para
fazer um novo 25 de Abril, contem comigo. Têm é de me dizer a quem depois
entrego o poder”. Aqui reside o verdadeiro nó górdio. Sem um quadro de compromissos ou alianças, pré ou pós
eleitoral, que, sem alienar, no essencial, as posições de fundo, e o património
histórico-ideológico das várias forças políticas, ofereça uma posição sustentada,
interna e externamente, com vista a uma resposta que conduza à denúncia,
renegociação, reestruturação, ou suspensão do memorando de entendimento
(curiosa expressão para uma imposição unilateral…)não vale a pena discutir
textos e vírgulas, nem brincar aos amanhãs, que não irão por certo cair do céu.
As forças que rejeitam o memorando têm de se sentar e convergir, essa a pressão prioritária que urge fazer, num quadro que inclua o PS e outras forças, que
por uma vez ultrapasse o trauma do “olhe que não …” de 1975, e que desde então marcou
um corte politico-ideológico entre as esquerdas, que, se na altura reflectia
concepções dominantes no quadro da guerra fria, hoje não passa de radical
teimosia e acantonamento histórico. Teimosia essa, que pode contribuir para uma cúmplice perdição do país,
por omissão. A política é a arte do compromisso, e se o Congresso das
Alternativas queria ser um momento propulsor, deveria ter desencadeado
diligências para, eventualmente como força interlocutora, sentar as várias esquerdas e movimentos cívicos, e fazê-los
sair da sua zona de conforto ideológico, de protesto estéril e táctica contagem de espingardas, sob pena de não
ter passado de mais um momento para desabafar estados de alma, adiando a apresentação de soluções eficazes. Respostas há, e saídas também, resta é saber quem e com quem irá levantar a espada. Como um dia escreveu Pessoa:À espada em tuas mãos achada/Teu olhar desce./«Que farei eu com esta espada?»/Ergueste-a, e fez-se.
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