Nada está
garantido no sentido de se considerar ultrapassado o risco de abate de árvores
em massa na Serra de Sintra, e que tantos cidadãos, associações e políticos tem
trazido preocupados.
Ontem, 18 de
Abril, foi ouvido no Parlamento o presidente do ICNF, Rogério Rodrigues, entidade
que superintende a nível nacional da gestão das áreas protegidas e da floresta,
a pedido do PEV- Os Verdes, o qual veio defender ser de imposição legal o abate
preconizado, como defesa contra os incêndios e visando garantir uma faixa de
protecção às estradas de 50m de sul para norte naquela zona, atenta a pendência
dos ventos dominantes.Por ele, mais de 5000 árvores deveriam já ter sido
abatidas, muitas por terem ciclos de vida já findos, na ordem dos 80 anos, caso
dos pinheiros, que serão 85% das árvores marcadas para abate. Contudo, admitiu
terem sido numa segunda análise reduzidas de 1400 para 1355 as árvores a
abater.
Invocada foi
também legislação sobre medidas fitossanitárias contra o nemátodo do pinheiro
(que reconheceu não existir em Sintra), e os próprios planos municipais de
defesa da floresta de Sintra e Cascais, que impõe faixas de gestão de combustíveis,
e a necessidade de substituir as espécies invasoras (acácias, sobretudo) por
medronheiros e sobreiros.
Não foi
explicado o porquê de 4 carvalhos alvarinhos com mais de 100 anos estarem também
assinalados, nem porque se não promovem podas cirúrgicas regulares em vez de
abates de “fim de vida” quando se acaba por confessar que afinal muitas árvores
ainda podem durar mais 10 ou 20 anos, e outras têm fungos e ramos mortos ou
amarelecidos que bem poderiam ser cortados selectivamente e com critério (bem
como o vasto mato, esse sim, a precisar de ser limpo, e autêntico combustível…)
Estar-se-á
na primeira de várias fases, motivada por questões de “segurança”, a que se
seguirá a substituição do eucaliptal da Penha Longa por folhosas e pinhal, com
erradicação de acácias (sem prazo), num projecto com um custo global de 200.000
euros. E nesta fase, continuam marcadas para morrer na Penha Longa 316
pinheiros bravos verdes, 10 pinheiros bravos secos, 9 cedros e 1 acácia, e no
perímetro florestal da serra de Sintra 774 pinheiros bravos verdes, 32
pinheiros bravos secos, 125 cedos e 78 acácias. Estudos individuais? Parece não
haver, a não ser o conselho de uma professora do Instituto Superior de Agronomia.
Quem será a “sumidade”, que segundo o presidente do ICNF terá mesma aconselhado
a ir mais longe no Cabeço da Raposa, por exemplo?
Da venda das
madeiras em hasta pública espera o ICNF obter um valor próximo dos 50.000
euros, atento um valor de 20 € por metro cúbico de madeira.
Subsistem
quanto à Alagamares diversas questões por esclarecer, nomeadamente:
-porque não
foram as autarquias de Sintra e Cascais, bem como as associações e populações
das áreas envolvidas ouvidas, se se afirma estar a ser posto em prática um
plano municipal de defesa da floresta que a elas em primeiro lugar cabe gerir e
aplicar?
-onde está o
plano de replantação após o abate, para além de meros anúncios sem data?
-deve o critério
florestal e fitossanitário ser visto separadamente do critério paisagístico e
da relação com a classificação como Património da Humanidade na categoria de
Paisagem Cultural?
Ficou da
intervenção do presidente do ICNF que este compasso de espera é meramente para
explicações aos “chatos” e que mais tarde se retomará o processo, depois do Verão,
admitiu, depois da “época de fogos”. Há que voltar à estaca zero e fazer
estudos criteriosos, ouvir as pessoas, consultar o comité da UNESCO e obrigar a
que qualquer árvore que tenha de ser abatida (em última circunstância, e atenta
a segurança de pessoas e bens estritamente necessária)) seja de imediato substituída,
a par dum plano activo para reflorestar a serra. A procissão ainda vai no adro,
e é preciso um sinal claro dos superiores hierárquicos do ICNF de que assim será,
com um novo plano e calendário, mais abertura e mais diálogo.