O João Afonso Aguiar,
meu querido amigo e companheiro, lançou o seu segundo livro de poesia em dois
anos, “O Tempo da Poesia No Tempo dos Homens”, obra em dois andamentos por onde
perpassa uma dolente sinfonia de sentimentos, anseios e emoções.
Dizia Schopenhauer que viver
é necessariamente sofrer. Por mais que se tente conferir algum sentido à vida,
na verdade, ela não possui sentido ou finalidade alguma, e a própria vontade é
um mal. Queremos vencer, desejamos vencer, mas a vontade gera a angústia e a
dor e, os mais tenros momentos de prazer, por mais profícuos que possam vir a
ser, são apenas intervalos frente à infelicidade. Também Sartre defendeu que a
angústia surge no exacto momento em que o homem percebe a sua condenação
irrevogável à liberdade, isto é, o homem está condenado a ser livre, posto que
sempre haverá uma opção de escolha, e ao perceber tal condenação, sente-se
angustiado por saber que é senhor de seu destino.
Escrever é libertar a
coisa criada, e deixá-la partir ao seu destino, capturado por leitores nem
sempre atentos e turvados pelo momentum do estado de espírito, atento e cúmplice,
por vezes, distante e sem partilha dum concreto pathos, por outro.
A poesia do João Afonso,
revela-nos em toda a sua nudez as minudências dum ser aflito, mas, mais que
aflito consigo mesmo, aflito com este mundo de aflitos, escrevendo para se
rebelar perante o Mundo dos Homens, para no fim, nas entrelinhas, deixar no ar
um auspicioso sinal de esperança, por muito que todos os poemas estejam
capturados por palpitantes desabafos e reflexões, deixando transparecer a
beleza de um ser humano profundamente atento e altruísta. É uma viagem
espiritual pelas cinzas do Homem-quase, a mim recordando o poema de António
Gedeão:
Inútil
definir este animal aflito.
Nem
palavras,
nem
cinzéis,
nem
acordes,
nem
pincéis
são
gargantas deste grito.
Universo
em expansão.
Pincelada
de zarcão
desde
mais infinito a menos infinito.
Porque “a infelicidade
também cansa”.
Um abraço, João!