sexta-feira, 29 de junho de 2012

Porque é feriado hoje em Sintra



Foi na reunião da Câmara realizada em 10 de Maio de 1951 que o vice-presidente, capitão Américo dos Santos, apresentou uma proposta ao executivo municipal no sentido do dia feriado municipal ser comemorado no dia 29 de Junho de cada ano. Justificou a sua proposta recordando que era a «data em que se realiza a Feira anual de São Pedro, dia de festa tradicional e característica para o nosso Concelho acrescendo a sua importância comercial, agrícola e comercial». E o vice-presidente da Câmara lembrou ainda que, nos termos do n.º 3 do art.º 48.º do Código Administrativo o «dia anual do concelho deve ser escolhido entre as datas das suas festas tradicionais e características”.
Segundo Francisco Hermínio Santos, que estudou esta questão, dando cumprimento ao estabelecido no Decreto-Lei n.º 38.596, a Câmara Municipal de Sintra tendo em atenção que «o dia vinte e nove de Junho é considerado dia de festa em todo o nosso concelho» e que «nesse mesmo dia se realiza a feira anual de S. Pedro, na sede do concelho, onde ocorrem milhares de forasteiros, muitos dos quais vindos de longe» e considerando ainda que «no referido dia, tradicionalmente, se celebra a maior festa concelhia» deliberou, por unanimidade, em 12 de Janeiro de 1952: «Primeiro - Que seja mantido o dia vinte e nove de Junho como feriado municipal; Segundo - Que se solicite ao Governo a publicação do necessário Decreto».
O Governo, volvidos cinco anos, através do Decreto n.º 41.152, de 12 de Junho de 1957, autorizou a Câmara a considerar feriado municipal aquele dia. O órgão executivo municipal na sua reunião de 22 de Junho de 1957 deliberou, por unanimidade, exarar na acta «um voto de agradecimento a Sua Excelência o Ministro do Interior, pela publicação do citado diploma e que no dia vinte e nove de Junho de cada ano seja festejado condignamente, celebrando-se em São Pedro, além das costumadas festas, um solene Te-Deum».

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Ainda sobre o Salão de Galamares

Algumas memórias fotográficas de eventos no Salão de Galamares e da actividade do Grupo Desportivo e Cultural de Galamares:
O anúncio de um baile a 20 de Abril de 1957, com o grupo Os Mexicanos, de que foi vocalista Vasco Pedroso
O carro alegórico do Galamares, a caminho dum desfile em Colares. Atrás, o velho Carapinha.
O Galamares, num desfile nos anos 80
A secção de Atletismo, muito activa nos anos 80 e 90
Edgar Azevedo, fundador do Grupo Desportivo e Cultural de Galamares e seu sócio nº1



Lembrando outros Portugal-Espanha


Agora que muito se fala da selecção, algumas notas históricas, para referir que foi precisamente um Portugal-Espanha o nosso primeiro jogo com a “equipa de Dezembro todos nós”, nome que lhe deu o jornalista Ricardo Ornelas.
A 18 de Dezembro de 1921, em Madrid, Portugal, sob a direcção de Augusto Szabbo e Salazar Correia disputou o seu primeiro jogo enquanto selecção, perdendo por 3-1, num pelado sem relva e onde não houve lugar a treino de adaptação.
Equipa: Carlos Guimarães; António Pinho, e Jorge Vieira; João Francisco, Vítor Gonçalves(pai do general Vasco Gonçalves), e Cândido de Oliveira (cap.); J. Maria Gralha, António Augusto Lopes, Ribeiro dos Reis, Artur Augusto, e Alberto Augusto ("Batatinha", que marcou de penalty o único e primeiro golo de sempre de Portugal contra a Espanha)
Cândido de Oliveira foi o primeiro capitão da selecção nacional na sua única internacionalização. Representava na altura o Casa Pia, mas também jogou no Benfica. Mais tarde, foi seleccionador e treinador da selecção portuguesa nas Olimpíadas de Amsterdão e treinador da Académica de Coimbra, Belenenses, Sporting e FC Porto, como também do Vasco da Gama do Rio de Janeiro, E com Ribeiro dos Reis fundou o jornal 'A Bola' em 1945, depois de ter sido deportado para o Tarrafal.
Ribeiro do Reis era na altura jogador do Benfica, clube que viria a treinar e onde foi também presidente da assembleia geral. foi seleccionador nacional de futebol, fundou, com Cândido dos Reis, 'A Bola', e foi dirigente da FIFA para o Sector da Arbitragem e das Leis do Jogo.
Em 1922 realizou-se o segundo encontro, em Lisboa, no Estádio do Lumiar, com a assistência de 16.000 espectadores e a presença do presidente António José de Almeida, tendo perdido por 2-1.
                                      A selecção de 1922
A nossa pior exibição face a Espanha, foi na fase de apuramento para o Mundial de 1934, quando perdemos por 9-0, o que originou uma canção de Beatriz Costa, ”Se Portugal trabalha, como eu quero, agora é que não falha, nove a zero”.
Em 1947, finalmente a primeira vitória. A 26 de Janeiro, no Estádio Nacional,com o seleccionador Tavares da Silva e numa equipa onde pontificavam nomes como Jesus Correia, Peyroteo, Travassos e Francisco Ferreira, vencemos por 4-1 (2 golos de Travassos e 2 de Araújo). Estava quebrado o enguiço.
Logo, lembrando Nuno Gomes em 2004 e os 4 tentos de 2010, será altura de a secção portuguesa do Real Madrid se impor à espanhola e tentar baixar-lhes o rating e agitar os mercados. Para tristeza de Platini, esperemos.

terça-feira, 26 de junho de 2012

O Salão de Galamares-e agora?

Inauguradas as obras de restauro do Salão de Galamares,que se prolongaram por vários anos, e por impulso popular, novo desafio se coloca visando potenciar o local como pólo de atracção de eventos culturais e de convívio, numa localidade onde poucos mais equipamentos existem.
Com uma população de pouco mais de 700 habitantes, envelhecida e com o comércio local anémico, Galamares há muito perdeu o fulgor bucólico das 7 pensões de veraneio dos anos 40 ou de refúgio estival de escritores e artistas, quando Lisboa ainda ficava a 3 horas e o eléctrico rasgava as suas estradas bordejadas de plátanos  frondosos e chalés de Verão. A juventude é pouca e pouco motivada para a vida colectiva, daí que todo um trabalho de mobilização visando centrar no espaço deste salão renascido um pólo de actividades criativas seja a tarefa que se impõe. Ateliers criativos, acções de voluntariado, cursos de defesa ambiental, um grupo de teatro ou visando iniciativas multimédia, todas estas podem ser ideias que, a par da vertente lúdica e de coesão social, para ali poderão fazer confluir não só os moradores de Galamares, como os das povoações vizinhas, a pensar no futuro.Depois de recuperar, é a hora de consolidar.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Recordar Bénard da Costa em Sintra



Por ocasião do dia do Município, que se assinala dia 29 de Junho, a Câmara Municipal de Sintra vai descerrar uma lápide nesse dia, pelas 19h, na R.Gago Coutinho nº6 evocando a presença em Sintra durante muitos anos do escritor e cinéfilo João Bénard da Costa. Iniciativa que se aplaude e que só honra quem dela se lembrou. Também de memórias contemporâneas se faz a História de Sintra.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Rio+20: um novo "flop"

Posta a parafernália das declarações de amor ao planeta e ao desenvolvimento sustentável, o circo de rastafaris e activistas vegan e alguns patuscos que sempre surgem nestas ocasiões, a Cimeira Rio+20 está transformada em mais um cinematográfico flop, por entre índios da Amazónia passeando no metro do Rio de Janeiro e os burocratas da ecologia que não distinguem um colibri duma andorinha e preparam esotéricas declarações de fé no planeta em processo acelerado de exaustão.Sem contar as toneladas de papel gasto, quando poderia ser utilizada comunicação virtual amiga do ambiente, do combustível gasto nos aviões para levar as centenas de delegados a passear em Copacabana e na floresta da Tijuca, ou nas gongóricas conclusões que terão o mesmo destino do Protocolo de Quioto (lembram-se?) desta cimeira pouco se pode esperar, e disso são testemunho as ausências dos dirigentes mundiais mais poluidores, fugindo de serem apanhados em compromissos politicamente correctos mas economicamente incompatíveis com modelos de desenvolvimento estafados.É certo que se farão juras na economia verde, e criarão mais uns quantos fóruns e institutos. Tudo se prometerá para reduzir o CO2 e ajudar os países emergentes. Porém, apesar da maior consciência ambiental global, a perda de biodiversidade, a exaustão dos recursos e a desflorestação e redução de zonas húmidas continuarão, de cimeira em cimeira, num planeta cada vez menos azul.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Na partida de uma mãe

Quando a realidade imita a ficção... Uma história do meu blogue Café com Adoçante com mais de um ano.

A avó voltava do supermercado, trazia pizzas e um pato, faria aquele espectacular pato com laranja que só ela sabia, com arroz tostado e seco e pele crocante, mau para a dieta, retemperador para o estômago. O avô, menos dado à comida, apostava no peixe, grelhado sobretudo.
Francisco e Teresa desde tenra infância viviam com os avós, a morte precoce do pai e uma mãe funcionária pública, fizera deles os pais de substituição, até gostavam, agora que a filha Sofia  crescera e reformados pouco tinham com que se ocupar. Francisco, nos seus doze anos, deambulava entre a escola, a playstation e a banda larga, sempre enfiado no quarto, todos os dias a avó invariavelmente lhe levava o lanche favorito, uma baguette com pasta de frango e uma cola light, era uma querida, até acompanhava os Morangos e sabia quem era a Lady Gaga, o som do My Space de Francisco já lhe era familiar. Teresa até lhe escolheu um toque de telemóvel, embora preferisse o Frank Sinatra, mais soft. Sorriso rasgado, jovialidade de mulher urbana e reformada dos correios, educava os netos na responsabilidade, apaparicando nas comidas, mas exigindo método e ordem em casa, quer o  avô, quer eles, tinham de trazer sempre tudo arrumado, com horas para comer. Quem chegasse atrasado teria de tratar do seu prato e lavar a loiça. À noite, quando iam dormir, não dispensava aconchegar-lhes a roupa e o edredon com um terno beijo na testa, enquanto na secretária os bips do Messenger continuavam a debitar mensagens de amigos menos dorminhocos.
Naquele sábado, Sofia teve de fazer horas extra, a ida ao McDonalds ficou adiada para domingo. Aborrecidos, reclamaram de ter de ficar em casa, sem nada para fazer, a casa fora do centro obrigava a deslocações de carro ou transporte, era a garantia de um dia de sorna para os dois, entre o Facebook e a MTV, Francisco antevia já um dia a dormir até ao meio dia. O avô, que voltava com o carro da revisão entrou de rompante na cozinha e como Pai Natal em vinte e quatro de Dezembro, bateu com as mãos e chamou a reunir:
-Vá, vá, todos fora da cama! Vistam-se que vamos dar uma volta!
-Volta? Onde? - Francisco estremunhado e ainda deitado suspeitou das ideias do avô, alguma ida ao café do Vasco a aturar os amigos da sueca, por certo -Oh avô, que ideia. Ir aonde? Fogo! -virando-se na cama, tapou a cabeça com a almofada, ensonado.
-Vamos ao Badoka Park! Não querem? E almoçamos lá. Vá, vá, que a vossa avó tem de sair também um pouco, toca a vestir! Hoje vamos ver a bicharada, Margarida! -o avô Alcino era um pachola, sempre a contar anedotas, pai de substituição, a chegada da Primavera despertava o prazer do ar livre, iriam por Tróia, a ver o novo empreendimento.
-Tu…-a avó simulou repreendê-lo, mas ficara contente, quando novos faziam isso muito, escapadelas de fim de semana e piqueniques com os amigos, agora todos já avós. Meia hora depois, lá rolavam, estrada fora. O avô tirava retratos com a Canon de modelo ultrapassado, a avó levava umas sandes, o cheiro a pinhal e as emoções do atrelado do Badoka, perigando com a aproximação duma avestruz alucinada, querendo bicá-los, fizeram daquele um dia bem passado, eram uma família, apesar de tudo, Sofia, mais ausente, compensava quando podia. Naquela noite, ao chegar a casa, Francisco ia extenuado, mas  feliz, no fundo, e até editou as fotos do passeio no Facebook e adormeceu recordando a cena da avestruz.
No dia seguinte, atrasado para o pequeno-almoço, ovos mexidos com bacon e compota de cereja com torradas, Francisco abriu-se com a avó, o cheiro a café fresco já acordara o avô Alcino, que tomava uma chávena, folheando o jornal do dia:
-Sabes uma coisa, avó? Esta noite tive um sonho esquisito. Imagina que sonhei que tinhas morrido. -Francisco estava um quanto impressionado, a avó sorria:
-Ai sim? Deixa lá, é sinal de vida, quando se sonha com mortos é sinal de viver muitos anos! -explicou, a sabedoria popular nunca falha - Então e como é que eu morria?
-Não sei. Era uma coisa esquisita, eu estava de pijama numa gruta com archotes nas paredes, e ao centro havia três caixões. Num, esticada, estava a avestruz do Badoka. No do meio, um esqueleto, de criança, parecia. E no outro estavas tu. A sorrir, com esse vestido que trazes hoje.
-Isso foi a digestão mal feita. Eu também já sonhei que me saía o Euromilhões, mas nunca saiu. Quando se sonha, é porque vai acontecer o contrário! -o avô, na cozinha, surripiava mais uns ovos mexidos.
Francisco foi vestir-se e saiu para o quintal, Merkel, a cadela basset seguiu-o, brincalhona, ladrando e abanando o rabo. À tarde, e de folga, a mãe levou-os finalmente ao shopping, a avó prometia bolo de bolacha e profiteroles com chocolate quente quando voltassem.
Pelas seis, já a caminho do carro, no estacionamento do shopping, o telemóvel de Sofia tocou, era o avô Alcino:
-Sim, pai, diga… estou a sair….eu… o quê? Oh meu Deus! Vou já para aí, pai- Sofia parecia em pânico, um choro incontrolável saltou-lhe dos olhos, compulsivo.
-Aconteceu alguma coisa mãe? - Francisco ficou assustado, nunca vira a mãe assim.
-Dá um abraço à mãe, Chico. A avó….
-A avó o quê?
-A avó morreu. Teve um ataque fulminante, e caiu na mesa da cozinha, estava a fazer o bolo de chocolate. Porquê, porquê, meu Deus!
Francisco ficou estarrecido, na véspera sonhara com aquela morte, como era possível! Ainda de manhã haviam zombado da situação, descobria agora não ser a vida afinal eterna.Na igreja, a avó sorria, serena, deitada naquela caixa escura rodeada de flores, exactamente como a havia visto no sonho. Não parecia morta, mas adormecida, a expressão do rosto denunciava que partira de bem com a vida. Talvez aborrecida por não ter acabado o bolo de chocolate.      
                                                                 

segunda-feira, 11 de junho de 2012

O sado-monetarismo



O resgate da Espanha- a que esta não quer  chamar resgate- começa a ser uma rotina, na ajuda a doentes que segundo os “homens do fraque” nunca fizeram a convalescença que os médicos aconselharam no momento certo. E, se para os bancos há disponibilidade (não fossem os ministros e outros decisores políticos ex-quadros desses bancos ou talvez futuros consultores) o mesmo não se pode dizer para os milhões de desempregados que vêm o futuro sem resgate ou esperança. No caso espanhol, como não havia solvência interna possível por parte do governo de Rajoy, o dinheiro teve de vir dos “ do costume”, e como de costume sempre em negação por parte de quem o pede (onde vimos já este filme?). Contudo, ao usarem de novo a mesma fórmula já seguida anteriormente, deixam antever que teremos mais do mesmo, com os homens de preto na penumbra, mas presentes, contudo, e acicatando a atitude de outros resgatados a quem, aparentemente, o mesmo tratamento foi negado, antevendo mais desemprego, mais jovens sem futuro e mais austeridade punitiva, sob a batuta do BCE claramente manietado a partir de Berlim.
A receita de austeridade fiscal e cortes salariais que os liberais nos querem há muito vender prova não funcionar sem um crescimento significativo e alguma inflação de que a Alemanha foge como o diabo da cruz. É o que alguns já chamaram de sado-monetarismo. À beira do abismo? Não, totalmente no fundo dele. E onde para agora Hollande, o Robin dos Bosques dos descamisados apenas há três semanas? A Europa das Nações do general de Gaulle tornou-se no purgatório do desemprego, desnorte e desilusão.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

O futuro capturado


O futuro de Portugal está capturado pelos juros exorbitantes e o desmantelamento do tecido económico, lesões que levarão anos a curar, e de que muito provavelmente os culpados morrerão impunes, como sempre na política, onde o mal sobra sempre para o povo.
Alguns culpados, contudo, têm rosto. Um relatório recente da Transparência Internacional alerta para a ligação entre a crise financeira e a Goldman Sachs, que coloca ex-funcionários nos lugares de topo que decidem o rumo da economia global, o que leva muitos a dizerem que domina o mundo.
Segundo o autor de "Money & Power: How Goldman Sachs Came to Rule the World", William D. Cohan, o banco liderado por Lloyd Blankfein conta com um exército de antigos funcionários em alguns dos cargos políticos e económicos mais sensíveis no mundo. E o inverso também acontece, o recrutamento de colaboradores que já desempenharam cargos de decisão. Não são apenas os milhões que vão para os bolsos dos políticos para ajudá-los a ganhar as eleições, mas também os banqueiros de Wall Street que são frequentemente escolhidos para posições de poder.
O mundo enfrentou duas das maiores crises das últimas décadas em quatro anos, e tanto na crise financeira de 2008 como na tragédia grega, o Goldman Sachs foi alvo de acusações de actuações menos correctas. Começando por Atenas, o Goldman Sachs ajudou, a partir de 2002, a Grécia a encobrir os reais números do défice, através de ‘swaps' cambiais com taxas de câmbio fictícias, o que na prática permitiu a Atenas aumentar a sua dívida sem reportar esses valores a Bruxelas. Segundo o "Der Spiegel", o banco cobrou uma elevada comissão para fazer esta engenharia financeira e, em 2005, vendeu os ‘swaps' a um banco grego, protegendo-se assim de um eventual incumprimento por parte de Atenas. No início de 2010, os analistas do Goldman recomendaram aos seus clientes a aposta em ‘credit-default swaps' sobre dívida de bancos gregos, portugueses e espanhóis. Os CDS são instrumentos que permitem ganhar dinheiro com o agravamento das condições financeiras de determinado país. É um escândalo que os mesmos bancos que levaram para a beira do abismo ajudaram a falsear as estatísticas.
As autoridades europeias e a SEC abriram investigações ao logro das contas gregas, mas isso não impediu que Petros Christodoulou, um antigo empregado na divisão de derivados do Goldman, assumisse em Fevereiro de 2010 o cargo de director da entidade que gere a dívida pública grega. Além disso, o Goldman tem ajudado o Fundo Europeu de Estabilização Financeira a colocar dívida para financiar Portugal e Irlanda ao abrigo do programa de assistência financeira. O FEEF justifica a escolha com o alcance global do banco.
É nos EUA que há mais sinais de raiva contra o Goldman Sachs, onde o Ocupy Wall Street se manifestou recentemente à frente do banco, que chegou mesmo a ser condenado por fraude pela SEC por estar a apostar contra instrumentos ligados ao mercado imobiliário, ao mesmo tempo que vendia esses mesmos instrumentos aos seus clientes. Além disso, recorreu a fundos públicos e foi acusado de ser beneficiado com o resgate da AIG, coordenado pelo Tesouro dos EUA, liderado na altura por um antigo presidente do Goldman. Os banqueiros e traders de Wall Street foram recompensados por tomarem riscos elevados com o dinheiro de outras pessoas. Como consequência, os bancos foram salvos e os banqueiros receberam os seus bónus de milhões de dólares.
Uma das respostas aos que acusam o Goldman de dominar o mundo financeiro é que, afinal, o banco também sofre com a crise. Porém, em 2010 e 2009, conseguiu receitas de 39,2 mil milhões de dólares e de 45,2 mil milhões de dólares, respectivamente. Mais de 35% destes valores foram utilizados para pagar bónus aos seus empregados. O salário e bónus do presidente do banco, Lloyd Blankfein, situou-se em 13,2 milhões de dólares no ano passado.
Alessio Rastani, um ‘trader' em ‘part-time', defendeu em directo na BBC que não eram os governos que mandavam no mundo, mas sim o Goldman Sachs e transformou-se num fenómeno. O Goldman Sachs é uma escola que permite a muitos economistas e gestores atingir cargos de poder um pouco por todo o mundo. Alguns exemplos: Hank Paulson, antigo secretário de Estado do Tesouro dos EUA.Saiu da liderança do Goldman Sachs para ser secretário de Estado do Tesouro durante a administração Bush. Paulson delineou o programa de ajuda à banca durante a crise financeira de 2008, que também resgatou o Goldman; Mario Draghi, presidente do BCE. Foi director-geral da Goldman Sachs International entre 2002 e 2005; Romano Prodi, antigo presidente da Comissão Europeia. Esteve no Goldman nos anos 90. A ligação valeu-lhe críticas da Oposição quando rebentou um escândalo a envolver o Goldman e uma empresa italiana; Robert Zoellick, anterior presidente do Banco Mundial. Foi director-geral do Goldman. Antes de se juntar ao banco tinha trabalhado no Departamento do Tesouro norte-americano; António Borges, ex-director do Departamento Europeu do FMI e actual consultor de Passos Coelho para as privatizações. Foi vice-presidente e director-geral do Goldman entre 2000 e 2008, E Após sair do banco foi da associação que delineia a regulação dos ‘hedge funds'. Em Outubro de 2010, foi nomeado director do FMI para a Europa; Carlos Moedas, Secretário de Estado adjunto do Primeiro Ministro.Após acabar o MBA em Harvard, no ano 2000, o actual responsável pelo acompanhamento do programa da ‘troika' foi trabalhar para a divisão europeia de fusões e aquisições do Goldman Sachs. Saiu do banco em 2004.
Estes são os raptores do futuro dos povos, a face negra da finança que canibaliza os povos e que envia os seus testas de ferro para que o domínio mundial dos grupos se sobreponha ao dos países. Força e vontade para impor transparência na governança mundial num quadro destes. Haverá?

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Um novo paradigma para a Cultura


Foi a 27 de Outubro de 2005 que foi assinada a Convenção de Faro, importante documento sobre o valor do património cultural na sociedade contemporânea e que entrou em vigor a 1 de Junho de 2011. Esta convenção nasceu no seio do Conselho da Europa, antecedida pelas convenções de La Valleta (1985), Granada (1992) e Florença (2000), e surgida a partir da experiência das Jornadas Europeias do Património. A sua grande inovação é o facto do património cultural ser constituído também pelo património imaterial e a sua relação com a sociedade contemporânea, tendo um cunho cívico e constituindo um factor de paz, entendimento e justiça, onde a iniciativa trás como indispensável a participação da comunidade científica e dos cidadãos e olha para o património como fomento de coesão social. Daí decorre um ponto de partida duma perspectiva onde as pessoas e não só o património edificado sejam factor essencial, naquilo que representam de criatividade e inovação.
Esta convenção põe em letra de lei o facto de ter deixado de fazer sentido a oposição entre uma visão centrada no património histórico, por contraponto à criação contemporânea. Pela primeira vez se reconhece que o património cultural é uma realidade dinâmica, envolvendo monumentos mas também as tradições e a criação contemporânea, e onde a diversidade cultural e o pluralismo têm de ser preservados contra a homogeneização e a harmonização. É o culminar de uma reflexão levada a cabo pela comunidade científica e pelo Conselho da Europa, desde os anos 70, em matéria de «conservação integrada» dos bens culturais e o passar da perspectiva do «como preservar o património», à questão do «porquê e para quem lhe dar valor?», como referiu Guilherme d'Oliveira Martins, presidente do Centro Nacional de Cultura. E esta ideia concretizou-se no entendimento segundo o qual o conhecimento e a prática respeitantes ao património cultural têm a ver, antes do mais, com o direito dos cidadãos participarem na vida cultural, de acordo com os princípios do Estado de Direito, conforme um conceito mais exigente de direitos e liberdades fundamentais. A Convenção considera, assim, o património cultural como um valor e um recurso, que tanto serve o desenvolvimento humano em geral, como concretiza um modelo de desenvolvimento económico e social assente no uso durável dos recursos, com respeito pela dignidade da pessoa humana. O património está pois, deste modo, na encruzilhada entre memória, herança e criação, visando a convenção prevenir os riscos do uso abusivo do património, desde a mera deterioração a uma má interpretação como fonte de conflitos. A cultura de paz e o respeito das diferenças obriga, no fundo, a compreender de maneira nova o património cultural como factor de  de compreensão e diálogo. Para defender, proteger ou preservar um testemunho ou um monumento há que considerar não só o valor histórico e patrimonial, mas também a relação que a sociedade tem com esse elemento.  Na relação com a História e com o património cultural há que assumir a herança histórica no seu todo, envolvendo os aspectos positivos e negativos. Na História remota, a memória é mais distante, mas quando se trata de acontecimentos recentes tudo é mais difícil. Como escreveu Guilherme d’Oliveira Martins,”O presente das coisas passadas é a memória; o presente das coisas presentes é a vida, e o presente das coisas futuras é a espera. A nossa relação com a Cultura apenas pode assim ser entendida a partir da História, das diferenças, da complexidade e do pluralismo, da responsabilidade e da capacidade criadora”. Eis o novo paradigma.