Nunca devemos
julgar que aquilo em que acreditamos é efectivamente a verdade, escreveu um dia
Agostinho da Silva, daí a necessidade de questionar, ouvir e duvidar sempre,
numa dúvida que cria e reconstrói, esse o desafio de quem quer pensar no pleno exercício da liberdade.
Foi há 12
anos já, poucos na História do tempo, mas um intenso tempo de regeneração para
aqueles que quiseram sair do conforto da passividade, e do pessimismo militante
para a militância optimista, o desassossego e um renovado sentido da vida em
sociedade.
E assim
rimos em convívios e discussões, tomámos posições fugindo ao cómodo limbo das
meias verdades, juntámos artistas, escritores, ativistas, decisores, não para a
crispada conspiração do cliché mas para uma límpida e generosa busca de
caminhos, soluções, para ser parte de algo, com as pessoas e nunca contra elasm
senão as que neguem o direito a ter ideias.
Em mais um
aniversário, agradecemos a presença dos muitos amigos e companheiros deste
projecto que numa fria noite de Inverno juntou um punhado de idealistas nas
saudosas Caves de S. Martinho, quando com generosidade partimos para a aventura
de ser solidários ainda que por vezes solitários, idealistas mas nunca idiotas,
empenhados no desempenho e chamando aqueles e aquelas que têm coisas para dizer
e desde então quiseram dizer presente.
Vivemos na
era do Me, Myself and I, do hedonismo egoísta e do Eu como centro de todas as
coisas, em que todos têm uma página numa rede social mas onde sobretudo
explanam estados de alma, fotos de si próprios, partilhando vulgaridades e apregoando
solidariedades frívolas com pessoas e causas, que deviam ser simples e desinteressadas.
Aí se destilam ódios, rancores, frustrações e silêncios desde chingar o clube
de futebol adversário, exibir o cão, a foto do filho pequeno, ou o marisco que se foi comer à beira mar, tudo desabafando
no confessionário digital, à espera de caridosos likes, veniais lols ou dum
qualquer emoji repetido pela enésima vez.
O Homem
Narcisista em que muitos nos tornámos não acredita no futuro, é pressionado
pelo individualismo competitivo, ansioso, entediado, cínico e supérfluo, produzido
para consumo imediato. O “eu primeiro” e a falta de percepção do outro chega a
extremos em alguns casos.
Errantes,
corremos o risco de virar zombies zurzindo telemóveis e tablets como antes puxávamos
das armas no tempo das guerras. Desejamos ser compreendidos, mas dispomo-nos a
compreender cada vez menos, queremos ser ouvidos, mas não ouvimos senão a nós
mesmos.
Todos os dias
vemos nos media o quanto o respeito ao próximo é aviltado e o quanto é mais
importante TER do que SER, numa distorção dos vínculos afetivos sem limites ou parâmetros.
Ouve-se e vive-se a falta de perspectiva ou de sentido no trabalho, na
educação, na saúde, na vida.
Essa falta
de perspectiva decorre da convicção de que há que aproveitar o dia de hoje,
pois teme-se o amanhã. Para quê estudar, se não haverá trabalho no futuro? Para
quê dar o melhor de si no trabalho, se se pode ser despedido a qualquer
momento?
Falta
comprometimento, e isso é fruto da falta de perspectiva. Como buscar objectivos
de longo prazo numa sociedade com valores e expectativas a prazo? Como manter
relações duráveis se o que se busca é o imediatismo?
Este Admirável
mundo global da Comunicação é afinal um esquizofrénico mundo de solidões
gritadas para amigos virtuais que mais não são que surdos electrodomésticos,
onde a emoção, a demonstração da amizade ou a opinião são estereotipados e a
massificação das emoções virou um ritual
É na revolta
contra este estado das coisas que continuamos na Alagamares animados por
valores, sem certezas nem dogmas, a não ser o de que o futuro já não é o que
era.
Em dia de festa, não quisemos deixar também de homenagear alguns de nós, pois
não somos anónimos ou números.
Não quisemos
deixar de lembrar um cidadão ativo e presente como o Pedro Macieira, testemunha
ocular da predadora mão humana na paisagem, da beleza parnasiana do voo duma
garça no rio ou duma flor clorofilando os ares. Com o seu blogue de referência,
o Rio das Maçãs, quase contemporâneo da Alagamares, tem sabido pela acutilante imagem
e pela pertinente insistência em causas comuns amar Sintra e as suas gentes.
Com Pedro Macieira, o repórter está sempre lá, bombeiro das causas da polis,
cronista dos dias simples ou marcantes.
No David e na
Ilesa, temos particulares amigos e parceiros, devotados à causa das artes, onde
se mesclam os sons da cidade gutural com a sonoridade açucarada da África
virginal. Mais que um projecto musical, a Uno é um projecto de solidariedade, a
que souberam dar sentido, eles e mais companheiros, com o trabalho desenvolvido
no apoio à grande mátria lusófona, a todos inspirando e motivando.
Em Sérgio
Luís Carvalho homenageamos um senhor da palavra escrita, que trata a História
como um fresco e onde qualquer um de nós poderia ser parte das tramas
apresentadas. Autor, entre uma vasta obra, do celebrado Anno Domini 1348, ano
em que a peste ceifou Sintra, ao lermos essas páginas palpitantes sentimos que também
estivemos lá, pelo epidérmico da sua escrita, iluminura resplandecente e
singela. Nele queremos hoje celebrar a obra consistente e didática dum autor de
Sintra e que em Sintra situou também algumas das suas histórias e enredos
Agradecer
também ao Grupo Desportivo e Cultural de Galamares, ao Ardecoro, à Uno, ao Conservatório
de Música de Sintra, ao Ars-Collares-Trio, ao duo de guitarras de Queluz, ao Paulo
Campos dos Reis e a todos os companheiros destes 12 anos, às instituições, parceiros
e amigos que connosco colaboram, pelo seu empenho e contributo, que em nada nos
surpreende, pois sabemos com quem contamos.
Já no dia 25
vamos fazer a nossa Caminhada da Primavera, e plantar 50 árvores na Tapada de
Monserrate, bem como apresentar o novo livro de André Freire “Para lá da
Geringonça”. Dia 9 de Abril vamos reunir políticos e pensadores no News Museum
para o primeiro de um ciclo de debates sobre a pertinência das ideologias
quando passam 100 anos da revolução russa. E empenhadamente, continuaremos a
dar contributo crítico e positivo para as questões que nos convocam como
cidadãos empenhados, da recuperação do património material e imaterial às
questões do ordenamento do território, da promoção dos artistas e criadores locais,
do ambiente, da memória histórica ou na área da solidariedade social.
Escreveu
Albert Camus “A verdadeira generosidade para com o futuro consiste em dar tudo
ao presente”. Somos deste presente, e queremos dizer presente.
Vivam os que
lutam, sonham, sofram e fazem andar o mundo!
Vivam os que
querem uma Sintra criativa, inclusiva e com massa crítica!
Vivam os que
com o seu empenho e emoção constroem a Liberdade pela afirmação de espaços de
tolerância, diálogo, confronto de ideias e quebrando inércias.
Viva a
Alagamares, espaço onde não há o Outro, mas o Nós, soma de eus e não de Egos,
Uma dúzia já
está. Aguardem-nos para mais doze!