quarta-feira, 2 de abril de 2014

A casa de Francisco Costa na rua Sacadura Cabral


Passam hoje 26 anos do desaparecimento do escritor e ensaísta sintrense Francisco Costa. A casa onde viveu, em Sintra (foto acima), da autoria de Raul Lino, está situada perto do Largo do Morais e pertence, bem como o recheio, à Câmara Municipal de Sintra, por testamento da sua filha Isabel Costa.

Teria sido intenção que estes bens transitassem para a Misericórdia de Sintra, tendo mesmo sido organizada na casa uma exposição sobre Francisco Costa em 1996, mas após um processo agitado, o legado acabou sendo entregue à Câmara.

Situada na rua Sacadura Cabral, ao Morais, a casa foi idealizada em 1926 pelo arquiteto Raul Lino, de cujo falecimento passam também 40 anos em Julho. Referências à casa transparecem na obra do escritor, que em páginas dos romances A Garça e a Serpente (1943), Primavera Cinzenta (1944), Cárcere Invisível (1949) e Promontório Agreste (1973) recorre à descrição de cenários da sua casa.

Impõe-se preservar a casa onde Francisco Costa e a sua família viveram ao longo de décadas e dar-lhe um uso compatível e digno. Como ele escreveu:

Quando esta casa, feita mesmo em frente
da serra verde, ainda mal se erguia,
e as traves da futura moradia
eram belos pinheiros, simplesmente,
houve uma tarde, sob um sol ardente,
em que o suor em bagas escorria
da testa dos pedreiros e fazia
da cal e areia uma argamassa quente.

Hoje, há paredes contra os vendavais,
mas é cá dentro que soltamos ais
nos dias mais aflitos ou mais duros.
Enquanto gemem temporais lá fora,
pagamos nós em lágrimas, agora,
a dor incorporada nestes muros.

(Francisco Costa, Última Colheita, 1987, p. 13)

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