Impávido e
seráfico, Gaspar uma vez mais anunciou a tragédia como se esta fosse mero
erro de cálculo, na astrológica e errónea folha de
Excel de economista aprendiz. Sem emoção ou remorso,
condena o país e anuncia o dilúvio como se de simples aguaceiro se
tratasse. O banqueiro Ulrich tem razão, afinal: o povo aguenta, aguenta,
desde que seu o clube ganhe, venha sol radioso e não faltem umas
cervejas ao fim da tarde.
A falta de
soluções a ninguém parece incomodar: o necrófilo e reformado Cavaco, acolhido em
seu sarcófago, de quando em quando sai da cripta para uns arrotos de economês,
confessando esgotar a sua intervenção nas conversas semanais com o
delegado da tríade, o sr. Coelho. Os chefes da oposição, falando para os
acólitos, gritam baba e ranho pelos telejornais, sem que um laivo de
patriotismo os leve a sair da carapaça e pensar em algo que não sejam tácticas
partidárias. Dos militares com reumático, sem munições ou blindados, pouco
mais há a esperar que reivindicações corporativas, e os sindicatos,
arriscam-se um dia a não mais representar trabalhadores, pois serão mais
os desempregados que aqueles no activo. Ululante, o povo definha e desiste,
fugindo para geografias de esperança, violentamente expulso da pátria,
capturada por ciclopes e gárgulas. São vãs as chamadas à unidade e a olhar
mais longe que o umbigo, revelador da mesquinha visão da classe
política da aldeia, sem sopro de dignidade ou coragem, bastarda filha do
clientelismo larvar e da indigência cultural que brutalmente capturou o país
nos últimos anos.
Para uma
situação de excepção, hajam respostas excepcionais: é tempo do compromisso
histórico das forças e cidadãos que ponham o país primeiro, de extracção
partidária ou não, que peguem num caderno de encargos de salvação nacional e
reajam ao estado comatoso em que Portugal sobrevive. O quadro actual está
esgotado, e insistir no mesmo, é apressar o abismo, e cometer o crime de ficar
para a História como a geração da ruína.
Não se percebe
como um país com nove séculos se deixou aprisionar sem reação a uma
moeda que lhe suga a população, mina a economia, e onde se vive das promessas duma recuperação que tarde ou jamais virá, tornando os sacrifícios
actuais inúteis e as decisões importantes sem eficácia real.
Precisamos de
líderes que devolvam a esperança, e para tanto há que construir soluções, se
preciso for fora do tumefacto parlamento, onde meramente se discute o sexo dos
anjos, ou do perguiçoso tribunal constitucional, que desconhece o
sentido da palavra urgência. Os políticos incumbentes
provaram não estar à altura da hora que passa, e muito menos os
europeus, o patético senhor Rompuy ou o sonolento Olli Rehn,
burocratas sem chama para quem Portugal não passa de um enfadonho
relatório com números mas sem pessoas..
Se assim não for, um longo e tortuoso caminho de penúria e
precariedade e a escuridão dum túnel sem fim envolverão este
país orfão, e o sopro de esperança que acalentou as gerações que
um dia viram a luz da liberdade definitivamente se apagará, para gáudio
dos profetas messiânicos e de muitos opinion makers
encartados. A turbulência não parece abrandar, e cedo ou tarde a aeronave,
comandada por loucos ensandecidos poderá despenhar-se. Urge aterrar para
reabastecimento, mudar a tripulação e procurar porto seguro. Basta de Medo!
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