quinta-feira, 20 de setembro de 2012

E depois do 15 de Setembro?




O povo espontaneamente pronunciou-se contra a crise e a austeridade e os partidos do governo, em vez de se sentarem a reflectir na resposta a dar à sociedade e a essa bofetada colectiva, comprazem-se em reunir para taticismos e ver quem há-de descalçar a bota em que se enfiaram, atribuindo-se culpas recíprocas e revelando a falta de coesão e sobretudo de visão de um futuro com esperança de que o país está exangue.
Depois de 15 de Setembro, alterou-se a leitura e a percepção de que a austeridade é inevitável e o povo a tudo se acomoda. As pessoas olharam-se e descobriram aliados nas ruas onde antes passavam cabisbaixas, forças na apatia resignada, e que uma luz redentora pode estar para lá do túnel cavernoso onde nos enfiaram.
Neste quadro, é preciso que os partidos da situação não façam orelhas moucas e oiçam a rua onde ainda civilizadamente se protesta, escamoteando e relativizando a raiva para logo de seguida retomar os rodriguinhos e verborreia parlamentar estafada e estéril. Ignorar os sinais é meio caminho para a derrota e o pior que pode suceder será o autismo dos partidos. De todos eles. Dos que governam, porque com estes sinais se deslegitimam e perdem força, no país e lá fora. Dos que se opõe, pois um dia chegará em que o protesto inconsequente fará com que o povo os veja como mais do mesmo e como incapazes de construir uma alternância que seja também alternativa.
A fadiga fiscal e a democracia semântica estão a matar a essência da democracia e a crença nesta como o regime da ética e da oportunidade, da coisa pública e do todos por todos. E isso pode conduzir a novos e tortuosos caminhos, onde à pobreza e morte das classes médias se seguirão salvadores populistas ou demagogos de verbo fácil. Portugal está de novo em negação, e mais que uma mudança de política, há que refundar o regime, reconduzindo-o à pureza dos princípios e à busca das metas iniciais. Nada será como dantes depois deste 15 de Setembro, o 25 de Abril psicológico a partir do qual tudo terá de ser repensado e a todos convoca, sobretudo as gerações mais novas já nascidas na segurança do estado social e no culto do hedonismo individualista, conseguido à custa dos país e avós e que serão sempre as grandes vítimas dum Portugal capturado. É a hora!

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