A aproximação das eleições
autárquicas, num quadro de aperto financeiro e após a razia nas freguesias, com
a perspectiva de receitas escassas e em risco, face à lei dos compromissos e à
redução da receita, constitui um desafio acrescido para os próximos autarcas,
sabendo não poderem agora prometer rotundas ou obras de fachada, e tendo a difícil
tarefa de convencer um eleitorado descrente nos políticos e nas promessas
inviáveis.
Tradicional terreno para o combate de
chefes locais e suas clientelas, contar de espingardas e de castelos por parte
dos partidos, sobretudo os de maior implantação nacional, desta feita, com a
renovação em perspectiva, pela saída de muitos “dinossauros” atingidos pelo
limite de mandatos, as baterias estão por ora assestadas para a definição e
instalação das novas freguesias, muito dos frutos a colher pelas candidaturas
passando também pela postura “colaboracionista” ou rebelde tomada no que a este
dossiê concerne.
A hora que passa, com novos e
inesperados desafios, impõe novos actores e novas políticas, devendo os
partidos, enquanto forma organizada (mas não única) da expressão da vontade
popular abrir-se à sociedade civil, discutir projectos e não lugares ou
sinecuras, pensar global para saber agir local. O paradigma passou a ser a
protecção e a acção social, a criação de um quadro de desenvolvimento que se
desvie do imobiliário e das obras públicas para os serviços, turismo e
industrias criativas, de captação de capital de risco e PME’s que pugnem pela
empregabilidade dos inúmeros jovens sem emprego, atractividade fiscal, e
sustentabilidade dos projectos, atentas as características do concelho, suas
acessibilidades, ambiente e vantagens competitivas.
O nível autárquico é aquele em que os
rostos pesam mais que os programas, e a decisão se toma mais pela confiança e
expectativa em torno de pessoas que no símbolo partidário, sobretudo nos meios
mais pequenos, onde essa proximidade (que agora com a reforma autárquica irá
praticamente diminuir) envolve particularmente eleitores e eleitos, e torna
mais fácil a prestação de contas e reclamação de decisões.
Como tal, não será de espantar terem
surgido em muitos lados candidaturas independentes, de cidadãos com projectos e
sem fidelidades partidárias, não por atitude antipartidos, alguns, mas pela
constatação de que certas equipas, despidas do cartão do partido, até podem
trabalhar melhor em conjunto, ser mais pró-activas e dinâmicas. Num sistema
construído pelos partidos, como o nosso, essa possibilidade está porém
condicionada. Se efectivamente, a um partido, ainda que inactivo ou com 50
militantes apenas, basta o símbolo e a existência jurídica para ter lugar num
boletim de voto, aos independentes, unidos por motivações difusas ou em torno
de objectivos que tanto podem ser altruístas como movidos por vinganças
mesquinhas ou vaidades pessoais, por vezes, é de reconhecer que dificultado
está o caminho, quer pelo número de proponentes que tem de obter, para tal
devendo começar a trabalhar muito antes dos partidos registados a fim de
cumprir com as formalidades legais, requisitos que aos partidos maiores, por
terem uma máquina montada, mais fácil fica de obter.
Urge olhar para o próximo ciclo
eleitoral na óptica de levar mais Sociedade e sangue novo à Política, evitando
a cristalização dos acomodados e a inércia dos carreiristas, que em todos os
partidos existem, e que, pela sua persistência, podem ser a morte lenta da
Democracia.
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