segunda-feira, 9 de maio de 2022

A Europa no seu labirinto

 



Hoje, 9 de maio, assinala-se o Dia da Europa. Uma Europa errática, como uma barata tonta, acossada pelo Brexit, o populismo eurocético e as pressões duma América ambivalente e duma China expansionista.

Sonhada por entre as ruínas fumegantes da II Grande Guerra, a Europa cresceu, e ao crescer, mudou, na medida em que mais países entraram na União Europeia e o projeto dos Estados Unidos da Europa paradoxalmente se distanciou cada vez mais. O que parecia possível na Europa dos Seis, tornou-se pirrónico com os alargamentos para Sul, Norte e Leste.

A crise do euro posterior a 2008 tornou visíveis as contradições da Europa. Querendo-se ou não, a Alemanha é, com os seus recursos e capacidades, o único país que pode manter a coesão da Europa heterogénea e ameaçada por forças centrífugas. Na Europa, tem a possibilidade de manter a coesão na União Europeia, e no mundo, tem de cuidar para que a economia europeia não seja marginalizada através da ascensão da Ásia. Mas não seria isto, na verdade, uma tarefa das instituições europeias? Não foram tais instituições, principalmente o Parlamento, fortalecidas nos últimos anos, para assumir essas tarefas, nomeadamente depois do Tratado de Lisboa? O que resultou foi exatamente o contrário. Valorizado anteriormente, o Parlamento Europeu não desempenhou praticamente nenhum papel no apogeu da crise do euro, ficando as decisões a cargo das reuniões intergovernamentais, e a "cabeça" da UE dividida entre a Comissão e o Conselho Europeu. Uma coisa parece ser certa: estão a ser as crises que indicam se as instituições são robustas ou não. E nas crises atuais, de que ressaltaram a saída da Grã-Bretanha, os populismos com ou sem colete, a pandemia, a guerra a leste e  a crise dos refugiados, as instituições europeias mostram-se titubeantes e sobretudo reativas mais que liderantes, e dissonantes. Talvez porque elas foram criadas a pensar no “funcionamento normal” da Europa enquanto não surgissem grandes problemas e as questões pudessem ser resolvidas em consenso.

Estamos perante uma Europa em cadeira de rodas e comatosa, um bordel espanhol e uma quinta com muitas raposas dentro do galinheiro, onde cada país procura apenas um cheque para ir ao banco e conspira minutos depois de celebrar consensos virtuais nos Conselhos Europeus.

O Hino à Alegria soa riscado, e a querer puxar para o Anel dos Nibelungos, é a tensão entre Beethoven e Wagner, esvoaçando em Bruxelas  atarantadas valquírias.


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