O maniqueísmo
do preto e branco que tem marcado a questão da Ucrânia leva a situações
delirantes e preocupantes no que à verdade concerne e quanto ao (não)
funcionamento do nosso Estado.
Primeiro,
o delírio russofóbico que se apossou da comunicação social nacional, onde cada
russo é hoje um espião do Kremlin, e ser amigo ou simpatizar com algum deles,
ainda que opositor de Putin é motivo para suspeição, escamoteando-se o facto de
muitos ucranianos sobretudo do leste serem russófonos e quererem a integração
na Rússia, onde, diga-se de passagem, sempre estiveram integrados desde o
período dos czares até aos anos noventa, com poucas exceções no período entre a
Revolução russa e a organização da U.R.S.S. por Lenine nos anos vinte.
Depois, a
falta de escrutínio dos factos, tidos como verdades absolutas, desempenhando os
poucos jornais de referência um papel muito semelhante ao dos tabloides. Onde
estão os ucranianos que se sentiram intimidados? Onde está e porque não é
entrevistado o tal Igor, tão poderoso agente do Kremlin, assim se cumprindo o dever
do contraditório? Se quem diz monitorizar o tal senhor desde 2014 não o achou
perigoso até hoje, porque havia a Câmara de Setúbal desconfiar do mesmo, quando
a sua associação até tinha recebido subsídios aprovados por unanimidade? Então
e Gondomar, Aveiro, e as outras câmaras?
Tudo isto
está enviesado, e o mais triste é que só quando um jornal lança uma notícia é
que os políticos sem ideias e sem agenda fazem dele logo, indignados, motivo
para uns dias de soundbite até cair no esquecimento e outro tema vir a ocupar
as notícias e os comentadores que sempre souberam tudo aquilo que até lá não
sabiam.
Se
vivemos no tempo das fake news, certo é que vivemos também num tempo em que
pouco se para para pensar e tudo é preto ou branco consoante as agendas, os
egos e os interesses.
Factos certos
são um país ter sido invadido por outro sem razão legal ou moral, milhares
morrerem ou estarem deslocados, e o jogo de bastidores dos negócios de armas,
petróleo e alimentos comandarem os destinos do mundo nas mãos dum Dr.
Strangelove real e próximo. O resto carece de visão para lá da árvore e compreensão
pela floresta, sem que nos não deixemos enganar por aqueles que em várias posições manobram atrás do
arbusto.
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