Aproxima-se a 50ª edição do Festival de Sintra, este ano dedicado à figura tutelar da Marquesa Olga de Cadaval.
Ficou na memória de muitos a imagem
austera e aquilínea de Olga, marquesa de Cadaval, na sua Quinta da Piedade,
levando o sortilégio da música perfumada através da serra chilreante, num
cenário que só Sintra tornou irrepetível. De Rubinstein a Stravinsky ou
Barenboim e Ashkenazy, muitos foram os que receberam ajuda e apoio de Olga
Nicolis de Robilant, descendente de Catarina a Grande e de doges venezianos. Nascida
em Turim, em 1900, pela casa da sua família passaram Verdi, d'Annunzio, Diaghilev,
Nijinsky e até Eugenio Pacelli, o futuro Papa Pio XII. Cole Porter fez-lhe uma
serenata em Veneza, Chaliapin cantou para ela, correspondeu-se com Ravel.
Aos 14 anos, em plena guerra,
juntou-se à Cruz Vermelha, como voluntária, e aos 20 conseguiu convencer
Rubinstein a fazer um concerto grátis para os Amigos da Música de Florença.
Aliás, tanto ele, como Ravel e Stravinsky estiveram juntos na sua casa de
Veneza. A sua amizade com Stravinsky teve um episódio macabro: às portas da
morte, manifestou desejo de morrer em casa dela, em Veneza, o que a deixou
hesitante, ante a ideia de voltar a dormir na casa onde este morresse. Recusou,
mas o mestre não chegou a saber, tendo morrido noutro lugar, entretanto.
Conheceu o marido, D. António Álvares
Pereira de Melo em Veneza, tendo vindo em 1929 para Portugal, onde, recuperando
a então arruinada Quinta da Piedade, em Sintra, a ela se dedicou depois de
ficar prematuramente viúva aos 38 anos. Francis Poulenc aí apresentou uma
récita da sua ópera O Diálogo das Carmelitas, e doravante a casa passou a estar
aberta a músicos e artistas que aí encontraram um paraíso perdido. Benjamin
Britten foi também um dos seus protegidos, tendo em sua honra composto, em 1964
a parábola religiosa Curlew River. Ali Jacqueline Dupré e Daniel
Barenboim passaram as primeiras semanas de casados, e a Salazar terá dito uma vez
que se queria ver entre nós os melhores, tinha de deixar entrar os “seus” russos, o que ela
fez, alojando-os, e deixando-os a compor e exercitar a arte que tanto
apreciavam.
Uma personalidade incontornável, pois, nunca por demais homenageada. Mais houvessem.
Uma personalidade incontornável, pois, nunca por demais homenageada. Mais houvessem.
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