Uma das consequências laterais da crise no nosso sistema
político é o desmoronar da ilusão de um poder local forte e descentralizado.
Mal visto do Terreiro do Paço, que para cima dele lançou subrepticiamente
o anátema de sede da corrupção e palco de interesses pouco controlados- como se
Lisboa fosse exemplo para alguém- temos agora o novo garrote em nome (uma vez
mais e sempre ele) do sacrossanto memorando da troika, mais sagrado que a
Bíblia e os Dez Mandamentos para a pacóvia classe política que há décadas nos (des)governa.
O novo ataque surge pelo flanco financeiro, com a redução de
transferências do OGE, a Lei de Compromissos, a suspensão de fundos comunitários,
o corte no IMI ou a decisão antidemocrática e vinda de cima de cortar nas
freguesias, dirigentes e empresas municipais.
Onde fica o dito Poder Local Democrático no meio disto? Não
existe uma legitimidade eleitoral semelhante entre quem foi eleito para
governar o país e a autarquia local? Ou o voto do cidadão que vota para a câmara
e a junta é menos válido que o outro, num desrespeito pelos eleitores, tornando
os eleitos mangas de alpaca com o verniz de terem sido sufragados para nada
poder fazer?
A desculpa é a situação financeira, querendo penalizar-se as autarquias
por terem feito aquilo para que os vários fundos estruturais e QREN’s as convidaram,
tal como hoje se quer penalizar as pessoas por se terem endividado ouvindo os
cantos de sereia dos bancos, que as várias políticas económicas aplaudiram e
promoveram no tempo do dinheiro barato. Porém, está em curso uma ofensiva
contra o municipalismo e o essencial da organização territorial secular do país,
que é o cimento do seu contrato social e cujo desmoronamento pode significar um
implodir do sistema político, mais grave que o provocado pela purulenta
austeridade imposta por Berlim.
Ou se trava a sério esta deriva ou surpresas como as da
Grécia podem surgir por esse país nas próximas autárquicas ou mesmo antes
delas. Não esquecer que a Maria da Fonte foi em Portugal, e por muito menos.
Bom, convenhamos que os autarcas puseram-se a jeito...Esturraram o que tinham e principalmente o que não tinham e, pior, querem continuar a gastar como se isso da crise não fosse nada com eles...
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