Declara-se um processo em segredo de justiça e logo no dia
seguinte vem tudo escarrapachado nos tablóides. Criam-se serviços secretos e o
nome e actividade dos espiões são mais conhecidos que os dos concorrentes do
Big Brother. Adere-se a uma sociedade dita secreta e toda a gente fica a saber quem
gosta de aventais. Até o segredo de Fátima deixou de ser segredo. Segredo é só
descobrir a forma de por termo a este caos que subverte o Estado de Direito e a
que qualquer governo sério e empenhado já teria procurado pôr cobro.
Entretanto, as toupeiras nas secretarias judiciais, nas lojas Mozart ou nos
serviços ditos secretos continuam em roda livre, urdindo histórias onde amanhã
se for útil qualquer cidadão incauto com anticorpos no Estado, no mundo
empresarial ou na comunicação social pode ser fritado em lume brando. Tudo para
gáudio da populaça, que quer sangue, seja de quem for, desviando as atenções da
correcção das desigualdades, da coesão social e dos graves problemas do país e
vivendo da poeira que diariamente as televisões e jornais da propriedade de
grandes interesses lhes atiram na sua guerra pelo poder que os governos
alimentam, se bem que de quando em quando um rato caia na ratoeira que eles próprios
montaram. A transparência e a responsabilidade são valores que a fraqueza viral
da nossa democracia ainda não elevou a valores fundamentais, por atavismo,
inveja e pequenez. Um corte epistemológico e um banho mental são urgentes. Mas
atenção, não digam a ninguém: é segredo…
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