No momento em que escrevo é ainda cedo para saber qual será no novo governo o enquadramento da área da cultura, embora a ditadura da Verba não deixe espaço para grandes veleidades. Creio porém que não é certo que sendo ministério tenha mais verbas ou competências do que noutro nível qualquer, pois tirando o detalhe psicológico de parecer ter dignidade política tal decorre muito da pessoa que ocupe o lugar ou da imaginação e destreza para com menos fazer mais ou gastar mais racionalmente. Importante é o reconhecimento de que aspectos há que não podem nem devem ceder com esta crise ou em quaisquer outras circunstâncias: a defesa da língua portuguesa, a preservação do património, enquanto memória e mais-valia turística e cultural e um sistema ponderado e partilhado com instituições privadas de apoio à criação e aos criadores. Concordo contudo, que efectivamente muitas das verbas até hoje destinadas à Cultura são sobretudo para despesas correntes, pagamento de funcionários e espaços burocráticos, alimentar estruturas que pouco serviço e resultados apresentam e por isso devem ser efectivamente reequacionadas, não cedendo ao corte pelo corte mas sendo selectivo, imaginativo e privilegiando a partilha de recursos e espaços físicos, de meios de divulgação e de optimização dos meios. No elencar de prioridades, importa sim que a pessoa ou pessoas a designar para o lugar tenham sobretudo um perfil de gestor com provas dadas em instituição do sector e sobretudo de diálogo e obtenção de consensos. Centremo-nos pois nos objectivos e nos meios e menos na semântica da designação. Creio mesmo que a Cultura deveria aglutinar serviços hoje dispersos pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, Economia, Educação ou Ciência, e também não vejo inconvenientes em que dependa do Primeiro-Ministro enquanto Secretaria de Estado. O essencial é o alcance das medidas e a eficácia na acção. A ver vamos.
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