quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Palácio de Queluz: coisas boas e menos boas


O Palácio de Queluz é um monumento que tendo vindo a ser intervencionado carece ainda de recuperação em diversas áreas, artísticas e ornamentais. Se efectivamente algum trabalho foi realizado nos últimos anos, a existência de várias entidades conflituantes e actuando descoordenadamente (ou mesmo não actuando) com jurisdição sobre o Palácio, conduziu a que essa jóia da coroa se viesse a degradar com os anos e viesse a carecer de uma intervenção integrada que lhe devolvesse o esplendor, não obstante os danos visuais irreversíveis já causados, encaixado sem dignidade entre o IC-19 e a selva urbana de Queluz. Muito há a fazer naquela que é uma sala de visitas do Estado e uma jóia patrimonial. Esperemos que a nova afectação de gestão à Parques de Sintra-Monte da Lua altere o estado de coisas no sentido de dinamizar a recuperação e captar apoios nesse sentido, e se consiga globalmente a plena fruição do património edificado, estatuária e jardins. Saliente-se no sentido positivo a intervenção que desde 2003 tem vindo a ser feita na estatuária, através do World Monuments Fund, bem como no canal de azulejos, lagos e fontes dos jardins. O interesse suscitado pela colecção de escultura em chumbo, atribuída ao escultor inglês John Cheere (1709-1787), conduziu também ao envolvimento do WMF-Britain. A conservação e restauro dos grupos escultóricos mais relevantes - “Meleagro e Atalante”, “Vertumno e Pomona”, “Baco e Ariadne”, “Vénus e Adónis”, “Eneias e Anquises” e “Rapto de Proserpina” - foi realizada em Londres no atelier de Rupert Harris, do National Trust. As restantes esculturas foram intervencionadas no âmbito de workshops, que decorreram no Palácio Nacional de Queluz, dirigidos por Rupert Harris e envolveram estudantes e profissionais de conservação e restauro, tendo sido substituídas as armaduras de ferro por aço inoxidável e corrigida a postura das figuras. As distorções do chumbo foram remodeladas à mão e as juntas e fendas soldadas com chumbo, utilizando ferramentas manuais. Em algumas esculturas foram modelados alguns “atributos” que, tendo-se perdido ao longo do tempo, são no entanto essenciais para a compreensão da peça. Quanto às manchas, foi feita uma limpeza através da aplicação de cataplasmas de gel tixotrópico, lavado depois com água em baixa pressão. Depois de aplicada uma solução neutralizadora, de sódio e água, seguiu-se uma lavagem que garantiu a remoção de todos os vestígios químicos. Como acabamento final, foi aplicada caseína e óleo de patinação, decisão ponderada por diversos peritos e também acompanhada pelo IMC, através do seu Departamento de Conservação e Restauro.O Protocolo com o World Monuments Fund visou a implementação de um programa de conservação a longo prazo, partindo do tratamento da colonização biológica, prevendo a monitorização das peças, a praticar pelos técnicos do Palácio.
Um caso a seguir.

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