Foi em
Fevereiro de 1888 que deu à estampa no Porto uma das obras-primas da literatura
portuguesa, “Os Maias” de Eça de Queirós. No capítulo
VIII, Eça descreve o passeio de Carlos e Cruges por Sintra. Carlos procura Cruges
na sua residência em Lisboa, mas vem a encontrá-lo na Rua de S. Francisco, casa
da sua mãe, que lhe implora para trazer queijadas. Os dois partem em direcção à
vila num break, e ao chegarem perto
de Sintra, Carlos avisa Cruges que não se dirigem para o Lawrence’s, mas sim
para o Hotel Nunes. No Nunes, encontram Eusebiozinho Silveira, obeso e viúvo,
acompanhado por Palma Cavalão e por duas espanholas, a Lola e a Concha (‘um
mulherão’). Palma demonstra um machismo profundo, e Eusébio mostra-se cobarde
ao não admitir que trouxera Concha consigo para Sintra; esta sente-se furiosa
com a sua atitude e sai da sala do hotel. Carlos fica desiludido por não
encontrar a mulher misteriosa (que sabemos ser Maria Eduarda, mais tarde
divulgada como irmã de Carlos) pela qual empreendeu aquela viagem a Sintra.
Na estrada
que vai dar a Colares, o break passa pelo Lawrence’s, sem lhe dar muita
atenção, partindo em direcção a Seteais, pois Cruges não conhecia Sintra muito
bem e recordava-se apenas da imponência do palácio. Carlos recebe então um
indício da aproximação da mulher que procura: ouve uma flauta, que o leva a
pensar que Castro Gomes (suposto marido de Maria Eduarda, que toca esse
instrumento) está perto. Passam pela cascata dos Pisões, quando lhes aparece
Tomás de Alencar, o poeta romântico que fora amigo de Pedro da Maia, pai de
Carlos, e que acede a regressar a Seteais com eles, recordando os tempos lá
passados. Ao chegarem a Seteais Cruges sente-se desiludido com o que observa,
mas Alencar começa a contar histórias e a recitar poemas que logo revitalizam a
beleza de Sintra.‘Tudo em Sintra é divino. Não há cantinho que não seja um
poema…’. Carlos, Alencar e Cruges são abordados por burriqueiros, que levam
as pessoas até ao Palácio da Pena, mas decidem partir primeiro para a Lawrence,
Carlos decidido a perguntar por aquela mulher e Cruges decidido a conhecer o hotel.
Carlos
recebe novos indícios da aproximação de Maria Eduarda: ao perguntar aos
burriqueiros junto ao Lawrence
por uma família com as características pretendidas, recebe indicações de que
uma senhora alta, com um sujeito de barba preta e uma cadelinha, se tinham
dirigido à Pena. Ao decidir seguir caminho para o palácio, avista a família da
qual os burriqueiros lhe tinham falado: ‘Era, com efeito, um sujeito de
barba preta (…); e, ao lado dele, uma matrona enorme (…) e o cãozinho felpudo
ao colo’. Mas não era ela. Abandonando os amigos, Carlos questiona o criado
do hotel, que lhe diz que ‘… o Sr. Salcede e os senhores Castro Gomes tinham
partido na véspera para Mafra…’, e de lá para Lisboa. O criado concede-lhe
mais informações, como o facto de ter sido Maria Eduarda a apresar a partida,
devido à preocupação com a filha, que ficara em Lisboa. Carlos cai num conflito
interior e toma consciência da decadência para que está a ser arrastado por
aquela paixão misteriosa: só a vira uma vez.
Alencar e
Cruges encontram Carlos perdido nos seus pensamentos, e decidem jantar na Lawrence
antes de partirem todos para Lisboa e o primeiro manda preparar o bacalhau à
Alencar. Dirigem-se ao Nunes para pagar a conta, e reencontram
Eusébio e Palma com as duas espanholas, a jogar à bisca. Às nove horas, ao
luar, Alencar, Carlos e Cruges entram no break e partem para Lisboa, com
Carlos frustrado por não a ter encontrado. Alencar é o único que parece algo
contente, recitando poesia, enquanto Cruges se lembra então das queijadas para
a mãe, esquecidas afinal.
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