Sintra possui, felizmente, diversos escritores vivos em grande e relevante actividade, e cuja leitura deveria ser obrigatória.
Depois do desaparecimento há 2 anos de M.S.Lourenço, ainda não devidamente lembrado na terra onde nasceu e viveu, elenco aqui a minha selecção, incompleta, como é óbvio, se bem que não intencional, nem a ordem de apresentação é relevante. O critério passou sobretudo por cá terem nascido ou cá morarem ou desenvolverem actividade literária:
Liberto Cruz
Nascido em Sintra, em 1935, é uma figura de prestígio da cultura portuguesa, no plano nacional e internacional. Poeta e ensaísta, crítico literário, tradutor, conferencista, licenciado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa, colaborador do antigo Jornal de Letras e Artes, da revista Colóquio Letras, fundador da revista literária A Síbila, membro da Associação Internacional de Críticos Literários, exerceu actividades docentes e diplomáticas em França durante 22 anos.Foi um notável impulsionador do estudo de literatura africana de expressão portuguesa nas universidades de Rennes e de Vincennes (Paris), de 1967 a 1976. Exerceu com brilho, eficiência e generosidade as funções de Conselheiro Cultural da Embaixada de Portugal em Paris, de 1976 a 1988. De regresso a Portugal foi convidado para director de serviços da Fundação Oriente, em Lisboa. Foi recentemente integrado na secção de Cultura da missão da UNESCO, em Portugal, fazendo ainda parte da Direcção da Sociedade Nacional de Belas Artes de Lisboa. Liberto Cruz tem sido ainda convidado para júris literários, seminários e colóquios nacionais e internacionais. É um sintrense raro pela sua cultura e pelo seu trato humano, a quem muito se deve. Sintra deverá sempre reconhecê-lo e dele orgulhar-se. Dele escreveu Helena Langrouva:
“Como sintrense, modelado pela beleza e o mistério de Sintra, em Caderno de Encargos, Liberto Cruz concentra em alguns sonetos o seu regresso às origens e à casa paterna (son. 20, pg. 32), à Serra de Sintra (son. 20, pg. 32), ao rio da sua infância (son. 39, pg. 51), à atitude meditativa que a sua companheira árvore lhe inspira (48, pg. 60). O retorno a esse espaço não é de quem dele se afastou voluntariamente, - "não sendo um filho pródigo / volto à casa paterna / e com saudades chego / como quando parti" (son. 22, pg. 34), mas a renovação de um afecto que perdurou, apenas inexoravelmente alterado pela morte da mãe . "Nada mudou. Faltas tu / mãe e de repente tudo / foge já nada existe" (ibidem).
O regresso à serra, ao seu silêncio agudiza a consciência da sua própria identidade embora evoluída no tempo que simultaneamente o torna "outro" no seu ser, no seu modo de olhar a paisagem, na mudança do seu próprio corpo - "À serra volto ainda / No silêncio das pedras me vejo então um outro / mas o mesmo sendo"... "outra forma de estar / perante a mesma paisagem / aceito".... "o mesmo sinto um outro / na viagem do meu corpo / as pedras a serra vendo" (son. 18, pg. 30).
O seu corpo a envelhecer parece renovar-se correndo "em redor do velho corpo da serra adormecida", o qual se transforma pela magia de "duendes e fantasmas", "camélias, túlipas"... "de rosas e buganvílias / agapantos araucárias" (son. 38, pg. 50). Essa magia rejuvenesce a serra e suscita saudade em ambos - "Em redor do jovem corpo / da jovem serra de Sintra / de novo corro. Antigo / agora o corpo meu / de saudades de um rio / em mim e na serra correm" (ibidem). É a nostalgia comungada da juventude do sujeito do poema e da paisagem da sua infância como se a serra fosse animizada na sua velhice, embora sempre renovada, no seu corpo, por seres mágicos, flores e árvores. A Serra de Sintra é ainda contemplada nas suas cores, aves, silêncio, pedras, ervas, para acompanhar o mistério da presença da vida e da morte, identificáveis com "sinais de um deus". O divino manifesta-se na própria identidade e beleza da serra, companhia da vida e da morte - "Entre a vida e a morte / é a montanha divina" (son. 20. pg. 32).
Bibliografia: Momento, Sintra, 1956; A Tua Palavra, Sintra, 1958; Névoa ou Sintaxe, Sintra, 1959; Itinerário, 1962; Gramática Histórica, 1971 (pseudónimo, Álvaro Neto); Distância, 1976; Ciclo, 1982; Jornal de Campanha, Cacilhas, 1986; Caderno de Encargos, Lisboa, 1994; Júlio Dinis - Análise Bibliográfica, Paris, 1971; José Cardoso Pires, Lisboa, 1972.
Jorge Telles de Menezes
Poeta, tradutor, dramaturgo, cultor de spoken word. Sintra estruturou a sua existência. O verdadeiro cosmopolita é o mais puro defensor da tradição. Cresceu como ser humano quando traduziu Martin Heidegger e William Faulkner. De poesia publicou os livros In einer Fremden Stadt e Selenographia in Cynthia. É contra a civilização do petróleo, só usa transportes públicos. Recentemente editou Novelos de Sintra, de que se disse “ Um homem, uma mulher, uma montanha, uma casa, todos os outros homens e todas as outras casas, aldeias pequenas, médias e grandes e uma cidade. Sem nomes, eles são arquétipos das relações entre os humanos e entre estes e o património natural e construído. A meio do novelo, escapa contudo um topónimo que lhe retira o carácter universalista, pois afinal a utopia tem um nome – «Acordou no paraíso que o homem roubou para a terra ao reino de Deus: a montanha de Sintra». Desdenhando da necessidade de conceder verosimilhança à sua narrativa, o autor aproxima a sua novela da tradição de realismo fantástico – e não pede sequer permissão ao leitor para lançar para a cena personagens improváveis vivendo situações impossíveis. Se quisermos aproximar a novela de Telles de Menezes de um referente português, poderemos sem dúvida fazê-lo em relação às novelas de José Saramago, que aspiram a afirmar-se, segundo o Nobel luso, como «um espaço criativo onde devem estar o ensaio, o drama, a filosofia, a ciência», oferecendo-se como «um depósito da sabedoria humana»
Está presentemente empenhado na revista literária online Selene-Culturas de Sintra. Entrevistei-o recentemente, uma extraordinária viagem pelo pensamento contemporâneo para ler em:
Maria Almira Medina
Nome incontornável de poeta, pintora, caricaturista e jornalista, sendo a sua “Menina Girassol” um título hoje incontornável. Foi igualmente directora do Jornal de Sintra. A decana da Cultura em Sintra.
Maria Almira Pedrosa Medina nasceu em Tavarede, Figueira da Foz, a 29 de Agosto de 1920, mas vive em Sintra desde os seis anos de idade.
É licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, possuindo também o curso de Ciências Pedagógicas. Quando docente, foi animadora de uma acção de ensino do teatro e da poesia junto de escolas secundárias e coordenadora de jornais escolares impressos, que incentivaram exposições, colóquios e actividades regionais.
Como artista plástica, expõe desde 1943, abrangendo a sua multifacetada actividade a pintura, o desenho, a cerâmica, a ilustração, o desenho animado, a caricatura, a trapologia, a joalharia, os têxteis, a publicidade e o estilismo.
Fez a sua primeira exposição colectiva em Sintra – “I Exposição dos Artistas Sintrenses” (1943) – e a sua primeira exposição individual em Lisboa, na Galeria “Stop” (1945), tendo depois exposto em vários locais, desde a sua terra natal, Figueira da Foz, até à sua terra de adopção, Sintra.
Nas exposições que realizou, ao longo de mais de 65 anos, passou pelas localidades de Albufeira, Estoril, Coimbra, Lisboa, Oeiras, Oliveira de Azeméis, Porto, Porto de Mós, Vimeiro e ainda a Ilha de Jersey (Grã-Bretanha), entre vários outros locais.
Maria Almira Medina conta ainda no seu curriculum com diversas colaborações em vários jornais, revistas e livros escolares, alternando textos com ilustrações. A autora conta com seis livros publicados, estando a sua obra presente em várias antologias poéticas.
Foi membro da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto, Associação dos Amigos de Ferreira de Castro, Associação Portuguesa de Educação pela Arte, Associação Cultural Sol XXI, sendo actualmente membro da Associação de Escritores, Instituto de Sintra e cooperadora da Sociedade Portuguesa de Autores.
Ao longo da sua extensa carreira, Maria Almira Medina granjeou vários prémios e distinções, o primeiro dos quais em 1948 – 1º Prémio no “Concurso de Caricatura da Gente da Rádio”, promovido pela Casa do Pessoal da Emissora Nacional, em 2009 foi homenageada pela Câmara Municipal da Figueira da Foz (em simultâneo com uma homenagem a seu pai, António Medina Júnior).
Miguel Real
Miguel Real é o pseudónimo literário de Luís Martins (1953 -) Escritor, ensaísta e professor de filosofia. Em 2006, conquistou o Prémio Literário Fernando Namora com o romance A Voz da Terra. Licenciado em Filosofia pela Universidade de Lisboa e Mestre em Estudos Portugueses pela Universidade Aberta, com uma tese sobre Eduardo Lourenço.É, actualmente, colaborador do JL, Jornal de Letras, Artes e Ideias onde faz crítica literária. É ainda radialista na Antena 2, no programa Um Certo Olhar com, Maria João Seixas, Luísa Schmidt, Carla Hilário Quevedo e Luís Caetano.
Bibliografia: Agostinho da Silva e a Cultura Portuguesa (2007)O Último Minuto na Vida de S. (2007)O Último Negreiro (2007) Quidnovi O Último Eça (2007] Quidnovi 1755 - O Grande Terramoto (2006) Europress O Marquês de Pombal e a Cultura Portuguesa (2006) Quidnovi Voz da Terra (2006) O Último Guerreiro (2006) O Último Eça (2006) A Voz da Terra (2005) Quidnovi O Essencial Sobre Eduardo Lourenço (2003) I.N.- C.M. Eduardo Lourenço - Os Anos da Formação 1945-1958 (2003) I.N.- C.M. Os Patriotas (2002) Europress Geração de 90 (2001) Campo das Letra A Visão de Túndalo Por Eça de Queirós (2000) Difel Portugal.Ser e Representação (1998) Difel A Verdadeira Apologia de Sócrates (1998) Campo das Letras Narração, Maravilhoso, Trágico e Sagrado em «Memorial do Convento» de José Saramago (1996) Editorial Caminho A Morte de Portugal, entre outros. Recentemente editou na Planeta “História do Pensamento Português Contemporâneo 1890-2010 Prémios Literários :Prémio Revelação de Ficção da APE/IPLB em 1979 (O Outro e o Mesmo)Prémio Revelação de Ensaio Literário da APE/IPLB em 1995 (Portugal – Ser e Representação)Prémio LER/Círculo de Leitores 2000 (A Visão de Túndalo por Eça de Queirós)Prémio Fernando Namora da Sociedade Estoril Sol em 2006 (A Voz da Terra), entre outros.
Luís Filipe Sarmento
Luís Filipe Sarmento nasceu a 12 de Outubro de 1956. Escritor, Tradutor e Realizador de Televisão Jornalista desde 1970, publicista, editor, realizador de cinema e vídeo. Licenciatura em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor de Escrita Criativa. Alguns dos seus textos encontram-se traduzidos em inglês, espanhol, francês, italiano, mandarim, japonês, romeno, macedónio, croata e russo. Produziu e realizou a primeira experiência de Videolivro feita em Portugal para o programa Acontece para a RTP, durante sete anos. Membro do International P.E.N. Club. Membro da Associação Portuguesa de Escritores. Coordenador Internacional da Organization Mondial de Poétes (1994-1995). Membro do International Comite of World Congress of Poets. Presidente da Associação Ibero-Americana de Escritores (1999-2000). Algumas das suas obras: Fim de Paisagem; Matinas, Laudas, Vésperas, Completas; Boca Barroca; Crónica da Vida Social dos Ocultistas, entre outras dum vasto percurso de mais de 30 anos. A seguir, entrevista com o mesmo, efectuada com o signatário para o site da Alagamares-Associação Cultural:
Helena Langrouva
Natural da freguesia de São Martinho de Sintra e residente em Sintra, é Licenciada em Filologia Clássica (Universidade de Lisboa), Maître ès Lettres Modernes - Cinéma (Montpellier III - Université Paul Valéry), Pós-graduada - D.E.A. (Paris III - La Sorbonne Nouvelle), Master of Arts e Master of Philosophy (Londres - King's College) em Estudos Portugueses e Doutorada em Literatura (Lisboa, Universidade Nova). Investigadora interdisciplinar, em particular da Cultura Clássica, Renascentista (séculos XV e XVI) e do século XX, foi recentemente convidada a integrar um grupo de investigação em História da Arte, na Faculdade de Letras de Lisboa. Foi leitora de Língua e Cultura Portuguesas nas Universidades de Montpellier e Rouen, França, leccionou Literatura no ensino superior, com passagem pelo secundário onde leccionou Grego, Latim e Português. Escritora, publicou A Viagem na Poesia de Camões, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian e FCT, 2006; Actualidade d'Os Lusíadas, Lisboa, Roma Editora, 2006; De Homero a Sophia. Viagens e poéticas, Coimbra, Angelus Novus, 2004; Arpejos de uma viandante/Arpèges (poesia bilingue), Lisboa, edição de autor, 2003; ensaios nas revistas Brotéria, O Tempo e o Modo e Critério (Lisboa), em volumes colectivos. Traduziu Lanza Del Vasto, Não-Violência e Civilização - Antologia, Lisboa, Brotéria, 1978; Jean Joubert, O Homem de Areia (romance), Lisboa, Difel, 1991. É co-organizadora e co-autora de Humanismo para o nosso tempo - Estudos de Homenagem a Luís de Sousa Rebelo, Lisboa, patrocínio da F. Gulbenkian (contacto:APPACDM-Braga), 2004. Foi encarregada da Biblioteca Municipal de Sintra - Palácio Valenças- nos seus tempos de estudante, tendo organizado, com um grupo de Amigos da Biblioteca, actividades culturais, no Palácio Valenças e no antigo Cine-Teatro Carlos Manuel. Tem escrito ao longo da vida e continua a dedicar-se à escrita. Estudou Artes Musicais - Canto Clássico: Curso Geral e em privado (Lisboa), Canto Gregoriano, Popular e Litúrgico (Lisboa e França); pratica Canto a solo e em grupo. Estudou Artes Plásticas – Desenho e Pintura (Lisboa e Paris) e Iconografia (Paris). Realizou exposições individuais de Pintura em Sintra, Lisboa e Évora. Desenha e pinta ícones inspirados na tradição grega e russa, em têmpera sobre madeira, que ela própria prepara e disponibiliza através do Atelier Saint Rapahel (www.atelier-st-raphael.pt.vu). A sua página no Triplov tem o endereço www.triplov.com/helena/.
Sérgio Luís Carvalho
Licenciou-se em História (1981) e é mestre em História Medieval (1988).Foi Director Científico do Museu do Pão.
Publicou os romances “Anno Domini 1348” (Edição C. M. S., 1990; Prémio Literário Ferreira de Castro 1989; finalista do Prémio Jean Monnet de Literatura Europeia, Cognac 2004 e finalista do Prémio Amphi de literatura Europeia Lille 2005), “As Horas de Monsaraz” (Campo das Letras, 1997), “El-Rei-Pastor” (Campo das Letras, 2000), “Os Rios da Babilónia” (Campo das Letras, 2003), “Retrato de S. Jerónimo no seu Estúdio” (Campo das Letras, 2006), entre outros, sendo a sua obra mais recente “O Destino do Capitão Blanc”(Planeta,2009,
Alguns dos seus romances estão traduzidos e publicados em França e Espanha. É ainda autor de vários livros de investigação histórica e literatura juvenil.Entrevista para o site da Alagamares-Associação Cultural em:
Filomena Marona Beja
Filomena Marona Beja, que nasceu em Lisboa a 9 de Junho de 1944,trabalha em documentação técnico-científica e foi já distinguida pelo romance “A cova do lagarto” publicado em 2007 pela Sextante Editora.
Para além deste livro, a escritora tem publicado outros romances que foram muito bem acolhidos pela crítica, como é o caso de “As Cidadãs (Cotovia, 1998) ”, “Betânia (Cotovia, 2000) ” “A Sopa (Âmbar, 2004) ” ou “Bute daí Zé!”(2010).Tem também publicado vários contos. O seu mais recente intitula-se “Gil Eanes”, na Antologia “Viana a Várias Vozes” (comemorativa dos 750 anos do Foral de Viana do Lima).
Raquel Ochoa
Raquel Ochoa, revelação no panorama literário, residente em Sintra, nasceu em 1980. Na sequência de uma viagem de vários meses pela América Central e do Sul, editou O Vento dos Outros, em 2008. No mesmo ano publicou Bana – uma Vida a Cantar Cabo Verde, a biografia de um mais populares músicos africanos.
Em 2009 venceu o Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís, com o romance A Casa-Comboio, a saga de uma família indo-portuguesa ao longo de quatro gerações.
A Infanta Rebelde é a sua primeira obra publicada pela Oficina do Livro.
Nesta listagem procurou-se englobar sobretudo autores de ficção. Noutro artigo focaremos os poetas e ensaístas.
Sem comentários:
Enviar um comentário