quarta-feira, 13 de abril de 2022

A importância de um nome



Um nome deveria ser apenas um nome, contudo é em si por vezes mais um significante que simples significado. Um António a solo é sempre um António, português, magro, de bigode, carpinteiro (todos os carpinteiros eram Antónios, como as dactilógrafas eram Suzettes ou os empregados de restaurante Zé (se for daqueles onde se serve bitoque em prato de barro e tem um toalhete de papel onde se escreve ou desenha, ao sabor do assunto.)

Os nomes têm classes sociais e servem para distinguir: os ricos chamam-se Diogo, Tiago, Salvador, Santiago, Manuel Maria (se for Manuel ou Maria é por certo algum suburbano casal da Brandoa ou Moscavide) os pobres são João, José, trinta qualidades de Maria duma santa qualquer, ou mais recentes, produto de muitas horas de novelas, a era dos Fábios, Reinaldos, Tatianas, Déboras ou Vanessas.

Os políticos, por exemplo, adotam nomes que são por si marcas. Se na tropa somos apenas o apelido, nivelador e massificador, na política houve o Presidente Cavaco não o Presidente Silva, o PM António Costa e nunca o PM Costa, Marcelo Rebelo de Sousa nunca seria o mesmo se fosse apenas o prof. Sousa ou o prof. Marcelo Sousa, como muita gente não sobreviveria sem o pergaminho dum “de”, seguido de apelidos com vários “l” e vetustos “z” no lugar do ridículo “s”.

São pessoas com nome, e se estiveram na política, pessoas a quem chamamos nomes. Por vezes refilam por atentado ao seu bom nome. Mas terá bom nome alguém que se chama Jardim, pedaço de relva com flores e terra, ou Portas, essa coisa por onde se entra e sai, sendo entrada ou saída consoante o ponto de vista, ou Rosas (pode um canastrão de suspensórios ter alguma coisa a ver com tão simpática flor amiga de pães e milagres?).

Um nome pode ser tudo e pode não ser nada. Há números que fazem nomes, sobretudo os de contas bancárias e há nomes para fazer número, especialmente se for um dos 230 convivas duma tertúlia que reúne para os lados de S. Bento. Nenhum jovem da Zona J se chamará Adolfo ou Epaminondas, como nenhuma tia de Cascais se chamará Josefa ou Aldegundes. E se por acaso tiver ocorrido um cataclismo social onde por loucura ou imprevidência um desses nomes tenha sido escolhido, logo a segurança dum apelido resguardará o seu usuário da vil tristeza ou do cheiro a pobre que tal nome possa acarretar.

Digam qual o vosso nome e talvez muitos vos chamem nomes….

 

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