Os ataques
de sexta-feira 13 (dia aziago…), em Paris, renovam o alerta para que a Europa e
os europeus pensem (ou repensem) a maneira de estar no mundo, lutando pela
liberdade de expressão, pelo direito à diferença e pela crítica responsável, mas
sem resvalar para a intolerância.
É preciso
recusar a escravatura dos extremismos e do ódio racial, contra todas as formas
de xenofobia, discriminação e cegueira, lutar pelo Estado de Justiça e pela
comunidade de homens livres, num quadro de proporcionalidade e delimitação de
fronteiras onde a liberdade de cada um comece onde acaba a dos outros. É
preciso olhar em frente e não caminhar sob a ameaça do gatilho, seja ele das
armas ou do excesso da arbitrariedade que só pode gerar espirais de violência e
intolerância.
Temos de
insistir no vício benigno de ser livre e querer viver entre homens livres. Como
escreveu Renard, o homem livre é aquele que não receia ir até ao fim da sua
razão. Disse um dia Nelson Mandela: "Não
existe nenhum passeio fácil para a liberdade em lado nenhum, e muitos de nós
teremos que atravessar o vale da sombra da morte vezes sem conta até que
consigamos atingir o cume da montanha dos nossos desejos."
Os atentados
de Paris não podem significar a vitória de loucos formatados numa visão
redutora e maniqueísta do mundo, como no passado a Europa não ficou, apesar da
Inquisição, da noite hitleriana ou dos gulags soviéticos, pois sempre alguém
iluminou o caminho intrépido da liberdade, sabedores que é esse um bem
inestimável, mesmo quando se deixam os seus inimigos porfiar e crescer em
democracia e tolerância.
O caminho é
fazer o Outro sentir-se mais um de Nós, integrá-lo na sua diferença e não
olhá-lo como o inimigo numa nova Cruzada que só pode trazer de volta fantasmas
de outrora, e será essa a postura moral que, com persistência e convicção
devemos promover e trilhar. Mas não será fácil, neste Bataclan de loucos em que
a Europa se tornou, a Europa do arame farpado e dos naufrágios, da guerra das
mentes aguçada por extremismos desafiadores.
Uma vez mais,
caminhamos sobre brasas e no fio da navalha, à espera do próximo atentado e do
próximo jihadista. E iremos resolvendo o problema não o resolvendo, pela razão da
força e não pela força da razão.
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