quinta-feira, 1 de maio de 2014

Saídas limpas

Aproxima-se a altura em que Portugal vai anunciar a forma como vai sair do programa de "assistência", e segundo tudo indica será a chamada saída "limpa" (depois de toda a trampa a que nos arrastaram é irónica a expressão...). A Europa tem eleições a 25 de Maio, e quer mostrar casos de "sucesso", e alguns parlamentos nacionais teriam de discutir a autorização dos seus governos a um eventual programa cautelar, o que obviamente não desejam, daí o estarmos empurrados para voltar sem apoio "a mercado", como diz o gauleiter de S. Bento, Sr. Coelho.
Três anos depois, o país regrediu, aumentou o desemprego e a emigração jovem, o Estado Social está em desmantelamento, e sobretudo, é escassa a Esperança, coartados que estamos por uma Europa de Barroso submetido ao Directório de Berlim, e pelo garrote do Tratado Orçamental, que nos liquida como sociedade com veleidades de futuro, o qual, orgulhosos da subserviência, fomos os primeiros a ratificar.
Este 1º de Maio lembra-me com nostalgia aquele outro de 1974, quando cinco dias apenas após a madrugada redentora o povo se juntou sem apelos ou divisões partidárias ainda, e aos milhares, sorrindo e soltando o sufoco de dezenas de anos, acreditou no quebrar do enguiço a que o país dos 3 F o condenara. Nesse dia memorável, estive no Estádio da FNAT, hoje 1º de Maio, e nunca mais esquecerei esse momento, quando mais de um milhão de portugueses irmanados na esperança encetou um caminho na sua direcção. Passaram anos, o país progrediu e a democracia ganhou rotinas, é certo. Mas também se deram passos em falso, com o cavaquismo estradista enchendo o país de vias que não levam a lado nenhum, se não para fugir mais depressa, nem geraram crescimento sustentável, o fim da agricultura e das pescas e o concubinato entre políticos e construtores civis, betonizando o país com a cumplicidade da banca numa lógica de casino, num proliferar de Donas Brancas a que a dita "Europa" deu a benção em nome dum ilusório modelo de "crescimento".
Neste 1º de Maio de 2014, com a saída limpa a horas de ser anunciada com hossanas redentoras, há que estar atento aos discursos de Circe que prometem mudança de ciclo e milagres de recuperação, e cerrar fileiras por uma mudança de políticas e sobretudo pelo encontrar de um caminho, em Portugal e na Europa, que devolva aos cidadãos Cidadania e sobretudo Futuro. 

1 comentário:

  1. subscrevo na totalidade. O arco da governação mais não fez do que por o país ao interesse do capital... Gonçalo S.

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