sábado, 28 de maio de 2011

Uma questão de tintas


Confesso, não gosto de grafittis. Melhor, não gosto de gatafunhos cuja única função é vandalizar o espaço público ainda para mais de forma anónima e na calada da noite. Nada contra a arte mural, em espaços próprios, agora, muros centenários na serra pintalgados por vândalos a que se teima em chamar de irreverentes atropela o meu direito à paisagem e violenta muitas vezes a sua harmonia (ou será que se vê harmonia na distopia?). Temos de distinguir: alguns há que praticam a street art, território dos writers e seus streetments, passageiros das noites pichando o que entendem ser poesia visual em muros, mestres e cultores das tintas. Outros, aqueles de quem falo, que, de maneira diversa, estão-se nas tintas, anónimos e furtivos, estragam por estragar, supostamente contra um sistema que mal lhes dessem hipótese logo abraçariam, cultores do Eu ao desprezarem o Nós. Porque carga de água temos de ver invadida a paisagem urbana com riscos dissonantes, vandalização da propriedade ou egocentrismos de supostos artistas, terroristas do spray?
Admito que é uma opinião. Geracional, careta, whatever. Mas imaginem que da mesma forma eu decidisse invadir um bairro do subúrbio de Lisboa, disfuncional, under, e lá colocar em invasivos e gritantes decibéis as sinfonias de Mahler ecoando em altifalantes, ou o último Tony Carreira e sua melosa verborreia com toada emigrante? Os prédios são invasivos, os grafittis são invasivos, viver em cidades é cada vez mais um acto de resistência.
Pintura mural, sim, em espaços próprios. Vandalismo, não. Até porque quem hoje não respeita a propriedade pública ou de terceiros, pode amanhã com a mesma impunidade roubar um banco, ou molestar  alguém, pois a sensação de que tudo é permitido desresponsabiliza e cria anomia social.

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